domingo, 17 de fevereiro de 2013

SER POETA


se para ser poeta
dependo da palavra aleatória
jamais farei poesia
pois o que sei é contar histórias
e depois
burocrata
acostumei-me com os memoranda
os fechos formais
Vossa Excelência e Senhoria
sempre respeitosamente

era jovem

já mais velho

cãs
não soberanos 
palavras escapam entre circunvoluções
sem falar no lembrar e esquecer
que em mim são alucinações
que se diluem lentamente
no passar dos anos

se para ser poeta
dependo da sorte
então
só me resta sem me lamentar
esperar a morte
Rio, fevereiro de 2013


FINGIMENTO


poeta finjo
mas não minto
falo a verdade quando sinto
o mar
da minha janela
a vela que flutua
como pássaro na linha do horizonte
enquanto as ondas quebram
grisalhas como eu

finjo o poeta
não minto
sinto

Rio, fevereiro de 2013