escrevo para esquecer o tédio
esse vazio que me enche os dias
alheio a tudo mas querendo estar
onde tudo vive
no cego entendimento da tristeza
recordo a alegria do que foi
ao vento que dissipa indiferente
sonhos e loucuras
para reter os fundamentos do vazio
ouço à distância o eco do silêncio
leio a plenitude da beleza
do que não diz quando se cala
lúcido no escuro da incerteza
sabem do frio afastamento
do real e seu fermento
sombras no duro enfrentamento
entre o presente e sua ausência
que me atormentam tanto
o fundo olhar da medonha criatura
ocupa o espaço da verdade
fingindo promessas de futura eternidade
mente para esculpir a escultura
do nada que virá
depois do tédio que tristonho já está
Rio, outubro de 2010
escrevo para quebrar o tédio
que me entremeia a vida
enquanto a chuva alaga
e agoniza um dia cinza
escrevo para celebrar a vida
que em meio ao tédio
resiste à chuva e secamente
me expõe ao sol e ao sal
obrigando-me a ser
o bem e o mal