sábado, 9 de outubro de 2010

TÉDIO





escrevo para esquecer o tédio
esse vazio que me enche os dias
alheio a tudo mas querendo estar
onde tudo vive

no cego entendimento da tristeza
recordo a alegria do que foi
ao vento que dissipa indiferente
sonhos e loucuras
para reter os fundamentos do vazio

ouço à distância o eco do silêncio
leio a plenitude da beleza
do que não diz quando se cala
lúcido no escuro da incerteza

e quantos os que já aqui viveram
sabem do frio afastamento
do real e seu fermento
sombras no duro enfrentamento
entre o presente e sua ausência
que me atormentam tanto

o fundo olhar da medonha criatura
ocupa o espaço da verdade
fingindo promessas de futura eternidade
mente para esculpir a escultura
do nada que virá
depois do tédio que tristonho já está

Rio, outubro de 2010












escrevo para quebrar o tédio

que me entremeia a vida

enquanto a chuva alaga

e agoniza um dia cinza


escrevo para celebrar a vida

que em meio ao tédio

resiste à chuva e secamente

me expõe ao sol e ao sal

obrigando-me a ser

o bem e o mal