segunda-feira, 31 de maio de 2010

RICORDANZA





a meus antepassados italianos
[...e pur me giova la ricordanza e il noverar l'etate... - Leopardi]


amei a floração dos campos
onde a luz perenizava cores
e flores deixavam-se florir

amei o tempo e o céu aberto
entre montes encostas e montanhas
como templo aconchegante a descoberto

ainda hoje o amor perfuma a brisa fresca
e nada podem os anos
contra aqueles ares de suave claridade

estou sentado sobre a pedra dos primeiros tempos
a olhar a paisagem do lugar amado
de onde vieram todos e onde hoje estou

na encosta as oliveiras centenárias
povoam os flancos dos caminhos
retorcidos em sua seca indecisão

quem diz saudade quer dizer saudade
e pensa história
de uma gente que feliz demora

sou todos eles sou cada um e sou eu mesmo
e escrevo versos sobre a pedra
que polida somos nós a transpirar memória

Pedivigliano/Rio, maio de 2010




quinta-feira, 27 de maio de 2010

OLHOS





[impromptus]


penso nos olhos,
olhos de ver
olhos de procurar
olhos de amar
olhos de mergulhar na beleza que vem de fora
para encantar a hora

olhar assim é viagem
olhos sonolentos

olhos atentos
olhos sedentos
olham fundo ou de passagem
amam o mundo e a linguagem
no limiar do que vêem em olhos que se vão

olhos são como sonho
vivem a fantasia
dos que te lêem
são olhos de doce magia

olhos que sonham


Rio, maio de 2010




segunda-feira, 24 de maio de 2010

A DREAM








from darkness to clarity
clarity of perception
in my dreams
I came again to life
and we were together

gathering me you gathered
a flame
a bursting fire in me

I had fallen in love
from virtual birth to real death
and for life
I worshipped you

Rio, maio de 2010




PERCEPTION






oh! I know little
I know nothing
but you

remind me remind me please
how quick life vanishes
and let me love
and never forget

and yet give me peace
until I cease to be

oh! I know all ...

Rio, maio de 2010




sábado, 22 de maio de 2010

LOVED ONE







the one who enchains me
to this place
never asked why
I cannot love but one

both love and pleasure live
where I can tie a lace
joining you and me
alone

afraid of loosing you
Prometheus-like I came trough
the effort of being me
turned a man like no one

and you never asked why
I cannot love but one


Rio, maio de 2010





ONE AND ONLY







in my dreams you love and forgive
my faults my jealousy my temper bad
for my love is all that I can give
you know you are my one love
and only living dream
the sweetest I can live forever
as a living seam


Rio, maio de 2010 [relendo Frost e Lord Byron]



quarta-feira, 19 de maio de 2010

DOCE MIRAR








meus olhos miram os teus
miram-te
mira como subo aos céus

aonde vou cada dia
é onde te posso afagar
encontro alegria
quando te posso mirar

miro-te mira-me
namoro-te doce sonho
como às estrelas do céu

roda roda da vida
sol que de noite faz lua
dize-me dize sou tua
que eu te direi que sou teu

meus olhos miram
tu reluzes
teus brilhos encobrem os meus

amo-te luz de meus olhos
amo esse doce luar
amo-te branca lua
que só a ti sei amar

Rio, maio de 2010



terça-feira, 18 de maio de 2010

A PELO







brisa fresca que me afaga
tu és vento que me beija
água doce que me lava

no abismo em que me jogo
és mar revolto onde me afogo

não me tocas
não te toco
tu és tudo
eu sou nada

onde me levas?
não és gelo
sou apelo

Rio, maio de 2010



domingo, 16 de maio de 2010

VERSOS PERPLEXOS





[para as reflexões de Nydia Bonetti]


inseguro escrevo versos
prisioneiros de si mesmos

de que servem se não dizem
de que vivem se não sonham
de que estranha matéria sobrevivem
neste mundo que anoitece?

para nada para nada
deixo-os sucumbir ao tempo
perdem-se no espaço e no esquecimento

e aqui escrevo nem a razão
mas eu e minhas lembranças
como se fossem quem sou

Rio, maio de 2010

VERDE MAR









que pensas ao deparar verde o mar
que pensas em ali estar
que pensas?

a mim me encanta vê-lo marejar
em ondas que vêm e vão
no movimento incessante
de ondear

imenso vem-me o espaço encontrar
vai o sonho a me levar
amante
por nada troco esse mar

brancas enfunam o vento
o sol e o céu desnudado
velas ao largo distante
macias a navegar

perco-me a alma a pensar
no tempo que finge ficar
no amor de amar esse mar

Rio, maio de 2010





sábado, 15 de maio de 2010

POETAS






Recado para Nydia Bonetti



na "estatura da sombra" sobreviveremos poetas
que ninguém lê exceto nós mesmos
"coisa, aliás, de pequeníssima importância"

Rio, maio de 2010




O MEU MAR








de volta de terras estranhas
reencontrei o meu sempre sonhar
estive só comigo
hoje tenho esse mar
planura verde
praia branca
verde de branco ondear

nos dias de sol faz-se prata
de ouro se deixa enfeitar
e o temos claro
no aprendizado de amar

à chuva se veste de cinza
bruma vista por dentro
gosto de pranto
tristeza no sombrear

aqui sinto tudo
o que fui
o que sou
o que tenho sido
tudo que é sentido
a direção e o passado

voltei de terras estranhas
e recordei toda a vida
na imensidão desse mar

Rio, maio de 2010



MENSAGEM A UM POETA





[Adriano Nunes]



tu vestes bonecas
de porcelana e de vida
tu és poeta
e eu de partida
bem vindo Adriano
te espero no tédio
o mesmo que é teu
com a só diferença
não a descrença
longe de ateu
apenas sou eu


Rio, maio de 2010



MOTE E GLOSA









Proposta [Nydia Bonetti]:

vermelho
o flamboyant se esconde
em outonais dormências

Glosa [eu mesmo]

flamejantes
no seu tempo curto
flamboyants ardem de vida



Rio, 15 de maio de 2010


quarta-feira, 12 de maio de 2010

ALMA INVISIBLE







"De dentro tengo mi mal,
que de fuera no hay señal"




a luz que teus olhos alcançam
interrogam o que vês
e não sou eu que alcanças
mas tua visão

dispo-me e não há outra imagem
senão do homem despido

que estranho ver e não compreender
a vocação dos seres de ser
e nem um pouco parecer

Rio, maio de 2010




MÁQUINA DE FAZER FELICIDADE







ninguém conhece o caminho

nem a fala nem o silêncio

nem a outra face

do que seja ser feliz


sei onde me levam os passos

o milagre cada dia

que em cada manhã amanhece


a alegria de ser triste o tempo que se perdeu

é tudo que tenho nas mãos


ser feliz talvez seja não ser triste

e viver tudo que existe

ao alcance da mão


como quem dança

escrevo o que me dizem palavras

e não nega o coração


Rio, maio de 2010


quinta-feira, 6 de maio de 2010

I'M YOURS



A dor que minha alma sente
Não [n]a sabe toda gente [mote]



se é estranho o amor
como o quis nosso Bardo
deixo aqui os meus versos
para pensar o reverso
de lhe suportar o fardo
e tentar do amor-tormento
extrair o meu momento
que só sabe quem o sente
na dor de tornar-se gente

triste n'alma é traçar linhas
limites do amor não minto
nessa dor que finjo ou sinto
p'ra que minh' alma escondida
não se torne percebida
conforme ame ou não ame
ou viva triste ou contente
nas palavras dessa gente

tudo ou nada vencer posso
no sucesso ou no insucesso
de viver o amor por bem
que é o que espero também
não duvidais que sou vosso [I'm yours]

[que me perdoe Camões]


Rio, maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

DE UMA FOTO DE MARTA VAZ







do barco de nada ir

navega o dever de navegar

do ramo seco de sentir

eclode verde o viver


azul que te quero mar

claro azul de amar

no ramo seco o barco

o verde e a vida

percebida



Sao Paulo, maio de 2010






EU E O POEMA







colho o poema nos escolhos de mim mesmo
sobrevivendo o tempo
redefinindo a vida

vive o poema da certeza de mim mesmo
de que estou e nao passei

o poema sou eu mesmo
que a mim tive
para sentir

o poema sera eternidade no sempre
que me sente o que sou
e a consciencia de mim mesmo

o poema sera outro
se sentido por outro que o busque
e o ache nos escolhos de si mesmo

o poema sera outro
na leitura do futuro

o poema sao palavras
e o sentido de quem le


Rio, maio de 2010