sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

DE ONDE VIM



minha cidade era quase uma vila
ruas para guardar na memória
retas na direção e no ângulo
reto asfáltico
e nomes sonoros da história
e da desistória
permanentes e acidentais
praça Getúlio Vargas
ou rua Valadão Furquim
onde igualmente vegetam
pessoas e almas
doridas mas tranquilas
no seu palavreado simples
de esconder sentimentos
e fingir emoções
na desimportância de suas importâncias
onde o caminho é um pé
depois de outro
poeirento ao dobrar a esquina
cravado de olhares
críticos mas serenos
no desconhecimento mútuo
de cada vida
amigos que se conjugam ou não
num canto de uma esquina
ou preguiçosos no balcão
do Café Central
ao lado do Hotel Municipal
o que ao lembrar me afundo
no que foi o meu mundo
antes de conhecer o mundo
Dodó patroa
dona dos pequenos quartos
onde Dolores
sobreviviam sem dores
a um homem
depois de outro
e tantos outros
entre uma gelada
e o raro gozo
pelada
madames
sem eira nem beira
pretendendo faceiras
solver o dinheiro do outro
desgostoso
uma memória sem fim
tim-tim por tim-tim
do pouco que me resta de mim
neste poema sem fim

Rio de Janeiro, fevereiro de 2017

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