sexta-feira, 30 de março de 2012

AMOR SENIL



no ritmo romântico de outros tempos
eu bem queria
ter vinte anos novamente
e viver intensamente


de que vale ser poeta aos setenta anos
e cantar um amor intenso e decadente
para a morte pilhar-me de repente
e desamparar a quem amei


por uns tempos só
para que volte a amar um vagabundo


basta o que sou errando neste mundo
quebrei os sonhos do passado
deixei minha alma em um dos escaninhos
onde se esconde o esquecimento


sinto o presente como o futuro não sonhado
muito mais verdadeiro que a vida


não tenho cura nem cura quero
deixem-me viver os últimos suspiros
do amor que tenho
ainda que poeta e sonhador


não me maldigam estou livre
nesta orgia sem fim do fim de vida
quando todo o encanto se evapora
e fico só à beira do caminho


Rio, março de 2012.









quarta-feira, 28 de março de 2012

ROMÂNTICO ADOLESCENTE



atrevido citei de um poeta
vinte e um anos e a vida toda
a beleza a ler em versos únicos
o amor em cânticos cantado


assim à beira de meus versos
encontrei o fundo pretendido
não morrer mas viver de amores
dores e sentimentos imperfeitos


que amar amei e amei tanto
que suspirando ainda acordo cada dia
no sonho do desmaio apaixonado 


sem querer nele revelei minh'alma
velho inveterado
romântico adolescente toda a vida


[relendo Álvares de Azevedo, 
um menino ao partir apaixonado]


Rio, março de 2012.



TRECHOS - Álvares de Azevedo



Se ele poeta nodoou seus lábios...
é que fervia um coração de fogo
e da matéria a convulsão impura
a voz do coração emudecia!


O Fantasma


Sou o sonho de tua esperança,
tua febre que nunca descansa, 
o delírio que te há de matar


Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
e se te fujo é que te adoro louco...
És bela -- eu moço; tens amor  -- eu medo!...


Não serei triste se te ouvir a fala
Tremo e palpito como treme o mar...


...ser no mesmo ponto
O ditoso e o misérrimo dos entes
Isso é amor, e desse amor se morre!


eternamente, março de 2012.


terça-feira, 27 de março de 2012

O BEIJO



quem o beijo inventou 
[pergunta o poeta de outros tempos]
não estou seguro mas o beijo inventou o amor
e os lábios cantaram o poema


o tempo me faz malicioso


"mas esta vida é sempre deliciosa"
[...]
"quem não quisera das sombrias folhas
[...]
as odaliscas espreitar no banho" [...]?


sem o beijo o amor não vingaria
nem o gozo de corpos que se tocam
nem odaliscas nem garotas de Ipanema


o beijo é todo encanto 
[no curto sexo que brilha um só instante]
entre lábios o beijo permanece
e enternece 

acariciado pelo beijo a febre passa
saciado o corpo adormece


[entre aspas, Álvares de Azevedo]


Rio, março de 2012.





segunda-feira, 26 de março de 2012

IN EXTREMIS



morrer de amor
talvez a única memória
do quanto é bom morrer
para viver amores


porque dizer
se é melhor calar para sofrer
o sofrimento de existir
indiferente


se sinto ou não
a esta hora deixo
a tua imaginação
o silêncio do segredo


não morrerei
nada direi
apenas viverei
o meu degredo


se de amor morrer
só eu sei
a quem amei
nenhuma intriga


sei que é bom
cantar essa cantiga
à maneira antiga
e não dizer


confessarei
in extremis
delirante


Rio, março de 2012.



domingo, 25 de março de 2012

POR QUEM CANTO?



tudo vale para explicar a vida
ainda que não dure
o momento 
instante de chegada
o instante 
surpresa da partida


o tempo sopra enquanto dorme o vento
o absurdo ser para não durar
o que me faz amar mais do que viver


de onde vim para me tornar assim
presa do vento a soprar o tempo
de que pedra vem o meu encanto
por quem canto? 


Rio, março de 2012.



sábado, 24 de março de 2012

"ADAGIETTO"



quem ama não mais procura 
a sílaba para compor o seu poema
ama apenas
e deixa-se encantar pela beleza
do "adagietto" da quinta sinfonia
saída do silêncio
Mahler
sustido sustentado 
na brisa que me salta em versos
induzindo ao sonho
de senti-los fluir em sustenidos


procuro um verso para pesar do outro lado esse "adagietto" 




Rio, março de 2012.



sexta-feira, 23 de março de 2012

EVOLUÇÃO

a um jovem amigo


uma chave é o passaporte
entre a rua e o aconchego
de tua casa 


em pouco tempo
teu calor aquecerá
a matéria de teus sonhos


do que foi pedra aflorou 
o macio fluir doce da água 
que hoje é natureza revelada


sou testemunha dessa caminhada
do quase zero a pontos no infinito


creio ter sido o tempo
o tempo foi quem abriu a porta às evidências
onde havia desejo e frustração


havia a base da relação matemática
entre o engano e o desengano
que se excluem no erro
para explodir 
e recriar um novo ser
teu juízo teu sorriso
muita luz 
a verdade e a razão


faz sol é novo o dia 
toma a chave do futuro em tuas mãos
é tempo de cantar tua canção    


Rio, março de 2012.



quinta-feira, 22 de março de 2012

CONFIANÇA

a um amigo
tu és o que és 
o que podia ter sido e não foi
gera filosofia de vaga interpretação


somos quem somos
seremos outros dia-após-dia 
na vertigem da formação
de nossas impressões digitais


serás teu sonho
serás quem o idealizou
serás quem queiras ser
teus atos responderão por ti


o passado é feito papel 
liso imaculado
se fizestes por mantê-lo intacto
amarrotado
se perdestes episodicamente o rumo


agora toma as folhas que amarrotastes
rasga-as atira-as ao lixo do tempo
recuperastes o prumo


crê em ti
estás em pé como homem de fé
crê em teu poder de fazer
tudo que sonhastes acontecer


tua vida é uma viagem de ida
resoluto avança 
sê feliz


Rio, março de 2012.








quarta-feira, 21 de março de 2012

"CARPE DIEM"



um dia que se soma a outros
e faltará à frente
penso no que resta


pouco
e não será muito
retomar a vida  
com a fúria do minuto


"carpe diem"


não há solução fora o prazer
do céu azul e do verde mar
espaços que fascinam
e ficarão
no seu papel de encantar


levarei comigo
a imaginação
a percepção
a memória
o sentimento
distribuídos entre alma e coração


para além não sei 
mas que importa
se o que sou está aqui? 


atrás ficou o passado
tempo que no presente amei


agora o presente parece passado
instantaneamente
o que me faz ciumento
do minuto que vivo


"carpe diem"


Rio, março de 2012.




terça-feira, 20 de março de 2012

TOMOGRAFIA



fiz hoje exames de rotina
rio que procura o mar
dormi na tomografia
descansei de me excitar
com a ideia que me persegue do dia em que nasci


vou seguindo sem apuro
não sou capaz de ter medos
do que não posso conter
o tempo vai corroendo
dias minutos segundos
são dados a não pensar


sou hoje mais livre que ontem
amanhã me libertarei
é mentira a emoção da morte
verdade é a canção da sorte
que eu tenho por viver


o mar que se me depara
as palavras o amor o poema
o sol amarelo limão
nunca os senti tão belos


os exames ah os exames
têm nome?


Rio, março de 2012.





segunda-feira, 19 de março de 2012

QUINTETOS



ser jovem não é um programa
é uma vida sem prazo
sem tempo de fenecer
a juventude é beleza
a alegria de ser


não se improvisam os anos
passam sem perceber
coisas pessoas lugares
para não mais se ver 
pagam sem receber


ah que saudades eu tenho
do tempo que já passou
tanta esperança perdida
sonhos amores a vida
pra ser o que hoje sou


escolha não tive no rumo
cheguei só por chegar
sem porto neste lugar
tenho no entanto meu prumo
ainda talvez saiba amar


Rio, março de 2012.


  



MINI BIOGRAFIA

sei que nasci porque vivo
mas pressinto que a sorte de viver
me reserva a morte

fui menino ambicioso e voraz
nas leituras que depois deixei
não esqueço Lins do Rego Graciliano e Bandeira
mas não os li só então 
tive a vida inteira

quem jamais diria que o menino viria a ser diplomata
fez carreira
até foi Embaixador
Cônsul onde brasileiros lhe tocaram o coração

hoje vive supondo ser poeta
Rio de Janeiro de seu amor permanente
o mar que o devora cada dia
a praia de sol e a imensa alegria

nasci na cidade de Birigui
que poucos sabem onde está 
meu primeiro grito deu-se
em primeiro de dezembro de 1940
viverei ainda desejando renascer

meus blogs: www.poemasinconjuntos.com.br
http://ricordanza.blogspot.com/ 
http://vagaprosa.blogspot.com/ 



Rio, em algum momento de 2012.

FALTA-ME O POEMA



escrevo no silêncio 
ouço vagamente os toques intermitentes  do teclado
começa a madrugada
o sono não vem
leio as palavras de meus versos
sem crer



foi um dia vazio
passou como um olhar distante
que nada registra do que vê 


nem alegria nem melancolia 



não tenho a memória desse dia
tenho a sensação
e de repente vem a noite
sem estrelas sem luz da Lua



são duas horas do amanhecer
as palavras soletradas
são sinais frios
esquecido entrego-me a escrevê-las
hesitante
dormirei sem o poema

 Rio, março de 2012.





domingo, 18 de março de 2012

A BUSCA DO SENTIDO



move-me o desejo de ser
parte do intervalo do poeta
para saber que pedra
que poeira no universo nos deu vida


fascinados pelo sol
escondemos o infinito na matéria 
como se fosse tudo


não sinto o tempo enquanto passa
mas Chronos não caminha
existe apenas 
na medida angustiada do finito
iludo-me com a ideia falsa da passagem
sou eu quem passa
o tempo fica 


sei que vejo coisas e vivo seres
atirados no aleatório do espaço
em movimento
que nesta frase são palavras
em busca do sentido




Rio, março de 2012.




MEUS VERSOS



não sei porque te falo
transbordo minha solidão
sonoras ondas


diante desta praia
ilhas que se vêem 
isoladas alheadas batidas pelo vento 
e a luz distante do farol da barra


são para mim os versos que escrevo
perdidos entre onde estou e a distância
vazia do mar escuro
presságio de tanta coisa
os sentidos 
a ilusão
e eu aqui a tua espera


sou tocado pela brisa
fresco sopro
vivo o momento
e os meus versos 


Rio, março de 2012.



O TEMPO E O VENTO




Éolo de todos os ventos sopra meu vazio 
deixa-me o tempo


Rio, março de 2012.




  

O MAR E EU


mar
o que me dás
estou vazio em tua imensidão


Rio, março de 2012.







sexta-feira, 16 de março de 2012

AGUACEIRO [ÁGUAS DE MARÇO]



a chuva inundou ruas e praças mas não lavou meu amor


mudanças de clima pra mim são anti-climáticas impedem-me de chegar onde quero


o aguaceiro lava a alma tem valor de poema

é água que desce o morro e mais não vejo de grave


chove chuva chove sem parar


do mundo nada se leva nem o vento que sopra forte nem a chuva que cai


dói-me que o amor que tu me tens eu não o possa levar


tenho ar pra respirar céu azul sol e amor


por tudo isso não temo nem água nem fogo amigo


navego e sei mergulhar ainda estou vivo



Rio, março de 2012.



quinta-feira, 15 de março de 2012

O FIM DO MUNDO



desço as escadas de mim mesmo chego ao rés do chão onde fico
talvez não devesse ter saído
não quis muito tive tudo fui feliz
caminharam todos os que pus no mundo pelo amor e pela construção
hoje falta tudo estou só na contagem perversa do que a vida dura
conforta-me a esperança talvez 
o amor que resta até que chegue o fim de tudo




Rio, março de 2012.






À POESIA



hoje é dia da poesia e vou ao teu encontro
nesse sem mais nada a dizer
exceto a dádiva de te haver lido
em tempo de viver


teu afazer é o poema
a cultivar como rosas
num jardim repleto de jasmins
em cercas vivas
no cercado em que sentimos
a alegria de teus versos


mesmo eu que ouso escrever
vejo-me bafejado da fortuna
de me chamarem poeta
que não sou
cultivo apenas lírios das campinas
frios brancos distantes


tu poesia não és ocultação
trazes o mistério das palavras
e o abismo onde o vento
perde orientação
para deixar-nos muitos
desassistidos pela falta de inspiração


nunca a vontade foi tão minha
de escrever versos
mas a lua depois de exposta por três dias
deixou-me fui omisso


vem poesia viva vem ao meu encontro
tu que me trouxestes Camões
exultastes diante de Pessoa
e sorristes lendo Drummond
para encantar-te com Bandeira
um homem só
a nos revelar Pasárgada
onde era amigo do rei


rendo-me a teus encantos e a tua melodia
quero teu amor e os conceitos
que em ti ganharam movimento no ritmo de tua inspiração
quero tuas rimas e aliterações
quero a liberdade que me ensinastes
em forma de canção


Rio, março de 2012.






quarta-feira, 14 de março de 2012

UM DIA DE POESIA



como pedra em mim nasce o poema
de um momento seco
que entretenho há tempo
e não conheço


eclode o eco que sou eu
quando há bruma
e a noite é não fazer
sob luz quieta o sonho renascer


e no entanto um sentimento de ternura
em torno de um mistério sem segredos
é uma entrega em palavras


instante mágico
quando a pedra original desfaz-se em água
descendo o canto ao papel jornal


Rio, marco de 2012.




A LUA [sob a luz do luar]



para o Márcio, meu irmão



a  Lua é diferente cada dia não pode ser igual
nem  a alegria repete a brisa que sopra do mar
a alegria é minha a brisa só vem do mar

todo sonho vem da Lua são sonhos diferentes

cada ser é um homem só ele só [às vezes] sabe quem é
os olhos que tem da Lua são dele de mais ninguém


ser diferente é dom da criação assim nasce a gente
essa diversidade e o mundo essa alegria de ser


percebemos as coisas como são nós as sentimos 
a maçã a lua a montanha são riquezas por não serem iguais


se eu morrer levarei comigo o meu sol meu mar meu amor
mas todos ficarão aqui para cada um de vocês


irão eles comigo ficarão todos aqui
os que foram foram comigo
mas a Lua ah a Lua os fará sonhar
por anos e anos ao fim  

sim as coisas são diferentes porque diferentes elas são


cada homem tem sua Lua cada mulher sua maçã
cada lua dá à maçã o homem que a mulher tem

a Lua é diferente porque  assim tem de ser 

Rio, março de 2012.



terça-feira, 13 de março de 2012

MEU BARCO



alguma coisa aconteceu
o meu barco está sem rumo
as estrelas do céu não me ajudam a navegar
o oceano bate impiedoso
há pedras à frente talvez terra
e um cais onde ancorar
cabe tentar
não naveguei a vida toda 
para receber a morte
assim de maneira imprevista
o oceano é largo
mas a batida do mar forte 
é ameaça antes do cais
vou vendo o que o mar me reserva
traiçoeiro por vezes
imprevisível ele é
preciso medir as ondas para não me deixar enganar
o tempo é a grande medida
inevitável é a morte
de que não se pode escapar
mas se a pedra rija   
e o mar impetuoso
não insistirem teimosos 
a quilha talvez intacta
talvez talvez talvez
ainda possa aportar


Rio, 13 de março de 2012.



segunda-feira, 12 de março de 2012

A CASA



a casa é simples o coração mais complexo
porta para os amigos fechada a desafetos
janelas para entrar ar e olhar 


pouco dinheiro para ocupar prateleiras pela metade da fome


a casa é branca caiada corações janelas portas azuis
a sala vazia do escasso sofá de modo a que sempre caiba ventilador e TV


a cozinha é coração cansado de tanto bater
da mulher com olhos de espera cansada do que pedirão 


o ladrilho do chão falta aos pés que os pisarão
juntam água lambendo paredes negras de fumo
sob luz sobre sombra

no quarto cama trazida de onde não sei
um homem dorme em silêncio ronca quieta tensão


outras camas juntadas demônios ou anjos da noite
sonham em segredo vento quente verão 


vagas pessoas na sala cerveja quente na mão
sem dizer de onde vêm não anunciam onde vão


no quintal nada se passa exceto o cão a ladrar
mangueira que não dá manga galinha ligeira mais magra

escrevo
e tu a me ler
 




Rio, março de 2012.



domingo, 11 de março de 2012

ANTIGO AMANTE



branca areia eternizada pelo mar grisalho que em tua cama deita a quieta fúria em ondas do delírio percebido no surfar erótico de jovens dourados entregues ao ritual de te desvirginar  branca areia do mar desmantelado da sensualidade exposta em movimentos ritmados excitante de todos os sentidos a ti dedico a fé e o silêncio de oração ao vento sibilante eu que sou antigo teu amante  


Rio, março de 2012.


ILHA



tu és a ilha escolhida em pleno mar para isolar-me e amar teu corpo sinuoso tua boca exangue teu calor sempre inocente  Tu és a ilha do desejo incandescente a arder meu mundo de cores tão sombrias vermelho sangue último sopro de meu corpo agora que morrer não é segredo agora que o amor foi desvendado tu sempre tu no sonho de ontem e de hoje desenhando em traços fortes o futuro curto que tornarei eternidade 


Rio, março de 2012.


AMAR O MUNDO



amo-te mundo de guerras e amores amo-te no meu tempo de viver porque enfim não ser seria impedimento de amar Amo-te no universo de meu ser em prosa e verso amo-te e por amar-te peno a delícia do corpo ignorada a alma toda ela resumida em dor 


Rio, março de 2012.



sábado, 10 de março de 2012

O SEGREDO



na planície estatelada serpenteia o rio / em curvas sinuosas envelhecido / à beira das águas espraiadas /  em busca da razão / na paisagem larga pergunto quem o viu / impetuoso lento impreciso / derramando águas desalmadas / silenciado o coração / quem teria a senha do sentido / da força de viver / deitado agora envilecido / a resposta  talvez fosse ser / o segredo incompreendido / que jamais pode dizer // 


Rio, março de 2012.



CANTADA





amar o outro parece dança / um e um compondo dois / no movimento a um só ritmo / para tornar-se hormônios depois / amar é paz / quando não há ninguém / e dançar nos traz / tudo que a vida tem / a três por dois um beijo / um beijo antes e depois / tudo energia / essa dança ritmada / é movimento / um momento da cantada // 




Rio, março de 2012.




SÓ?



o mar diante de mim
montanhas atrás
entre a terra o céu 
estou eu


Rio, março de 2012.



quinta-feira, 8 de março de 2012

EGO



não te apaixones por ti apenas
encontra teu outro
entrega-te ao prazer de sentir a dois
o que é teu e o que é do outro
somando dois


quem não amou assim não viveu
um outro corpo que não o seu


o universo inclui tua sensibilidade de amar
seres e coisas o mar o deserto
e quem está por perto
ama pois além de ti
acolhe quem por ti vive


não finjas o que não sentes
não ignores quem te procura
como se não houvera fonte mais pura
como se teu corpo fosse tua alma


não há segredo em te achar
declara-te para quem te achou
não mintas


assim te quero
chama


Rio, março de 2012.



terça-feira, 6 de março de 2012

O AMOR



é muito bom sentir o outro
feliz na alegria 
que vem de dentro
e se expressa por fora


a beleza é isso
alegria para sempre


se Yeats não o tivesse dito
a beleza por si se imporia
trazendo alegria
penetrante
olhos a dentro


o amor é alegria
beleza que se irradia
de dentro para fora


a beleza é alegria para sempre
o amor enquanto dura  
é amor eternamente


é feliz assim quem ama 
a beleza do amor
e a alegria de um dia


Rio, março de 2012.






segunda-feira, 5 de março de 2012

PASSADO PRESENTE E FUTURO

a minha mulher
Maria Luiza


não me pertence o passado
deixou de ser vida 
o que sou é um permanente ir em frente 
inovar no caminho
rever conceitos 
antepondo a esperança à lembrança 


sigo para entender
que o passado é ingênua ilusão


se tu me propusesses voltar
a comportamentos de então
minha alma acompanharia a involução  
final de meus dias


melhor do que a vida que tive
trato de adaptar-me 
de ignorar títulos 
de relativizar honrarias
de abandonar vaidades 
de afastar preconceitos
de exorcizar os antigos
e viver novamente


cada etapa tem seus motivos
o tempo não se retrai
ser velho não é ser antigo


a idade do corpo
não é idade mental


vivo agora alegrias
talvez fugazes
no minuto que vale por anos


o sol desperta a manhã 
e me traz alegria
são minhas horas
o tempo que passo nas ruas
as gentes que reconheço
os jovens ousados
sarados em academias
a multidão no futebol
o grito de gol
e a torcida da nação
rubro-negra eternamente


melhor do que a vida que tenho
só outra se recomeço
dos anos de criança

são meus netos 
minha riqueza
chegam soprados na brisa  
e seus perfumes fragrantes 
rescendendo
ao tempo presente que redescubro
desdobrando a esperança nunca perdida

esta é a vida vivida
não esqueci o passado
tenho-o comigo
feliz 


hoje não me pertenço
há um mar onde navego e tento
ultrapassar os escolhos
deixados por quem já passou


não me pegará a nostalgia
não a sinto afinal


"viajar assim é viagem
mas faço-o sem ter de meu
mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu. [1*]  


[1*]Fernando Pessoa


Rio, março de 2012.





O ATO DE AMOR


memória de Eugênio de Andrade 
poeta
vê como o amor
assim tão de repente
penetra-te
e as mãos estrangulam
com força
tua nudez


entrega-te
sem pejo
e quebra o silêncio
com teu grito


tu podes transformar teu mundo 
em alegria de um momento
que te doía
no jogo de claridades insuspeitas
do prazer


deita-te
perde-te
onde só o desejo reinaria
e a ternura 
feminina tanta que tu querias
forte e masculina 
te revelaria


e apenas a lágrima lembraria
o mundo de tristeza em que vivias


Rio, março de 2012.



VOA GAIVOTA



uma gaivota de asas silenciosas 
singra o ar como o barco que persegue
livre


o homem arrasta seus grilhões
escravo
de pecados em busca do perdão


todo pensamento reconhece
quem o pensa


chegado aqui sonhei com a liberdade
e vi-me acorrentado a meus pecados
quisera não ser homem 
gaivota


Rio, março de 2012.



domingo, 4 de março de 2012

ESTE PRECISO INSTANTE

para Maria Luiza, minha mulher


o passado passou
vida que nada vale
depois que acaba


p'ra que prever
e logo adiante nem futuro ter 


o instante existe porque insiste 
só p'ra deixar de ser


mas não sou triste 
porque sou cativo deste preciso instante 
nele estou vivo


Rio, 00:20, 4 de março de 2012.


quinta-feira, 1 de março de 2012

NETOS DE UM AVÔ CORUJA



penso nessa história de ser avô e na velhice que está nela 
só a vaidade não reconhece
sou hoje jovem a redescobrir o prazer
diferente mas presente
Lucas e Pedro envaidecem 
um pelo pinto circuncidado 
outro pelo saco roxo
tudo na dimensão que promete satisfação

as meninas são tão queridas 

uma elegante nos gestos
loirinha paulistana charmosa
linda desde criança
outra um azougue
tão linda quanto a primeira
moreninha carioca praiana
estou completo

a avó dirá por ela
está radiante
voltou a ter vinte anos

Rio, primeiro de março de 2012.








DIA E NOITE



o dia avança inapelavelmente
nunca foi desmentido
nas madrugadas precedendo as manhãs
claro


palavras como ondas   
insistentes voam  
entre sonho e realidade


busco à beira de meus versos
na solidão de meu dia
minha ilusão  


à noite sonho


entre sombras na esquina
persigo o beijo 
impaciente 


tudo no lugar
a esquina o sol e o claro
sigo e tropeço 
na esperança


é dia ainda
a noite não tarda a chegar


Rio, fevereiro de 2012.





AMIGOS



a manhã acompanha o sol
e segue a terra
rodopiando 
no vazio sideral 
é impossível mudar


a noite se foi
não se foram as convicções
os amigos espero encontrar
sempre no mesmo lugar


eu precisava dormir


Rio, fevereiro de 2012.



  

CONVICÇÕES



tenho amigos e convicções 
de uns sou diverso
com outros converso
mas a noite é longa 
eu preciso dormir




Rio, fevereiro de 2012.