terça-feira, 31 de maio de 2011

MUCH ADO ABOUT NOTHING...





é morte em vida o amor pleno de doçura  
cheio de amargor
nesse tu e eu sem qualquer memória
a romper o fio
desse ribeiro tenro que se torna rio
e inventar a dor


bate a água clara em recantos duros
nesse navegar de encantos quase todos puros
a perder sentido ímpeto e história
onde urgente é permanecer 


mas da abstrata dor sei fazer prazer
e o amor cantar onde não é simples ser
só 
quando te ausentas
e a doçura de teus olhos já não me sustenta


doce e rude levarei sem ti o toque da lembrança
da claridade em obscura sombra
no que vazio estou cheio de esperança ...


Rio, maio de 2011.





A NATUREZA DO AMOR





tenho medo do ruído do nada
silêncio sem aparente saída

o presente é a verdade
da estrela que mais além brilha



o presente é a natureza do amor
que é toda esta canção 



futuro buscado dentro de ti
no sentimento do tempo

essa música não cessa
e não se inspira no engano 

do sentimento perdido 
no mal amado passado 


Rio, maio de 2011



sábado, 21 de maio de 2011

SONETO [impromptus] do FIM DO MUNDO





num dia de morrer o fim do mundo
em plena escuridão
serei eu e você e mais ninguém
em escandalosos beijos de paixão


viverei o último minuto
mordendo os lábios da saudade
do instante que vivi
trespassado de alegria em pleno horror


os lábios sossegados
ressecarão molhados pelos seus
finalmente minha única razão


já em repouso o dia que anoitece
esquece o tempo
para lembrar apenas que fui seu


Rio, maio de 2011.





sexta-feira, 20 de maio de 2011

CANTA CORAÇÃO





se o amor Camões cantou tão docemente
só me resta navegar um vago rumo
nesse largo mar do amor de amar
verdadeiramente


meus são meus fantasmas e teus sonhos
a adoçar-me a boca
no ribeiro raso da esperança


sei que minha só a falsa vida
tão veloz quanto vazia
de teus beijos mordendo a solidão


amante és feroz na alegria
que me trazes no meu tempo tão tardia


navegar sem rumo
amar sem prumo
só me resta cantar esta canção


canta coração




Rio, maio de 2011.






 

domingo, 8 de maio de 2011

MÀE [um lugar comum]





[mães Iemanjá, Oxum Benedicta]




vagas no movimento em que ondulas
ondas recordam-me matéria da memória
no vai-e-vem macio em que te quebram
o vento e o mar para chegar ao raso
plano da percepção que temos
do amor e vida que o sentimento encerra


imenso oceano que o horizonte esconde
traz-me a esperança de que não me separo
a ensinar-me as ondulações desde criança
da existência inteira e proteger-me 
do sol ardente tempestades insistentes
nos altos e nos baixos
como fenômenos naturais da imensidão  da vida


surfar ondas celebrar nas cristas 
sofrer no vácuo 
resistir
crescer
singraram ensinamentos
da mãe toda grandeza
que me abraçou os sonhos de criança
para fazer-me navegar 
atravessado de alegrias e de medo
as lonjuras deste mundo
e sobreviver sem danos


neste teu dia guardo a memória
de teu amor e tua história


Rio, maio de 2011.



quinta-feira, 5 de maio de 2011

REFLEXÕES EM CAMPO ABERTO: é possível definir poesia?






REFLEXÕES EM CAMPO ABERTO: é possível definir poesia? 
VIDRÁGUAS e Carmen - reflexões em campo aberto


Abrir caminhos derrubar trincheiras liberar. Reconheço a arquitetura deste espaço de aventuras a desvendar segredos de tantos egos desconhecidos em palavras que lhes dizem à alma. Creio na aurora de muitos sóis, acredito na liberdade de dizer mesmo que às custas de não ser compreendido, sei que a criação existe no mito da sensibilidade e a música, sem palavras, dá-nos o tom e a melodia que é puro ouvido...do espírito. Assim é a poesia de todas as paixões ao não dizer tudo e insinuar muito, a música que ouvimos também se escreve no ritmo interno das idéias e sensações. Aconselhava o poeta em frase clássica "deixe crescer a semente que Deus plantou na tua alma/ e tua posteridade tranquila se multiplicará/ na proporção das areias do mar e das estrelas do céu". Por vezes, sentado à beira de um verso medito para descobrir o que me induziu a escrevê-lo e não descubro senão que não fui eu que o escrevi, mas minhas mãos guiadas por desígnio ignoto a vir de não sei onde para alcançar não sei o que, mas sinto a música formal ou virtual no que as mãos souberam dedilhar. Não há princípio [por isso meus versos jamais começam com letras maiúsculas] nem nada se termina [por isso não há pontos finais] e as palavras jogam livres ao sabor da força que as atrai antes o depois de escritas [e isso é uma tarefa do leitor]. Caos, diriam os puristas gramaticais, ignorância das regras, pensariam os exegetas escravizados pela forma lexical. Assim entendo o pouco que pensei no muito que há a pensar e, em meu degredo, envolto em nuvens, descobri o valor de escrever [o que sinto? Não sei] sob o comando apenas da percepção, que é um momento. Alguns buscam autobiografia, outros sentimentos, mais além descobrem pensamentos, mas nada disso há, são palavras lançadas ao vento do alto de um navio que navega um céu aberto e encontram o leitor em praia onde se derramam domadas em seu eterno vai-e-vem. Palavras vão palavras vêm palavras ficam gravadas pelo valor que têm na vivência do leitor. Serão sempre poucos mas serão amantes a quem beijo a boca com minha frase em longínqua poesia: "poesia é como o beijo tudo que dos lábios se deseja".

Flávio Miragaia Perri, maio de 2011.







SER OU NÃO SER [miséria humana]





[dedicado à luta para afirmação da Vida]




quando deixarás a aventura em que te matas
profanando o corpo abandonando a alma?


quando tuas mãos farão carinhos em quem te ama
e esquecerão o tempo da miséria humana
a que te destinastes?


quando entenderes que tua alma sobrevive
aos desatinos do desamor que te definha
e dedicares teu tempo a teu futuro
saberás que ser humano é ter irmãos
em todos os homens que te igualam
no respeito e no amor ao que chamamos Vida.


Rio, maio de 2011.  



quarta-feira, 4 de maio de 2011

AMOR SIDERAL





já cantei o amor sem endereço
que achei no escuro
e agora brilha
na cauda de um cometa


vertigem da passagem o rastro luminoso
soprado pelo vento
finge-nos perdidos no espaço sideral
mas eis-nos sós
só nós dois


amantes diante do nada
do espaço antes vazio
ainda ferem-nos escolhos
de naves abandonadas
inútil lixo espacial


descabelados ganhamos a velocidade do tempo
rumo ao futuro
e nos amamos nos intervalos
entre o que somos e o que seremos
para vingar quem nos impede
o empuxo final


venceremos a força da inércia
nessa engenharia cósmica
cheia de energia
do amor que nos impele
e tem as engrenagens encravadas
na delícia de teu beijo


Rio, maio de 2011.



terça-feira, 3 de maio de 2011

ECOOOOOO





ouço o eco de meu grito
uma sílaba mordida 
arremetida


nada há por vir
exceto o eco
do amor que aqui seca
mas denso e vivo
apura e sobrevive
nos lábios de um beijo
do mágico desejo 


sou eu quem ama
grito
amamamamaaaaaaaaa




Rio, maio de 2011





AMAR O AMOR



[amar o amor]




o amor não tem endereço certo
nem CPF que o localize como devedor do fisco
sobrevive e tateia às vezes no escuro
para encontrar o improvável
num hálito distante


ah o amor esse carrasco
que nos liga e desliga no comutador do sentimento
adormece [felizmente] quando se agrava
e desaparece sem deixar rastro


quando sinto o ar quente de tua boca
sei quem és mas não te toco
no abraço desejado
perco-me em conjecturas
sobre o instante que nos aproximou
esse mesmo que nos afasta
no hiato da idade contra o tempo


sei quem és sei que quero
sei muito sei [quase] tudo
porque apareceste
num dia preguiçoso de internet
pedindo água e companhia
para a aventura de um dia


nada nos aproximava
exceto o desejo que me movia
e tua cobiça
por nada que te aprisionasse
mas quem sabe
a moeda de troca fosse outra
que só o tempo criaria


sem CPF RG ou endereço
hoje nos entregamos as cartas
de amor sem dúvida
mas de doída dúvida
sobre a dormência [pois já se agrava]
de um sentimento sem tempo


que não desapareças amor
eu morreria


Rio, abril de 2011





IMPROMPTUS [para Vidráguas]






juntos não há passado
para isolar
o poeta [o amigo] sonhador

no mesmo intervalo
da eternidade rolamos
janelas virtuais
onde o vento a galope
constrói nosso mundo 
de polegadas

de maio dois de dois mil e onze
soprando palavras
somos
a própria ventania...


[para Carmen 
feita de vidro  
na estiagem água]






  • uma palavra salta como pedra em vôo
  •  e só terá peso quando lida

    se nos damos
    se juntos cantamos
    curtiremos a poesia
    nossa
    de cada dia

     
    obrigado/sinto-me protegido/ lido

    ............................

    Carmen Silvia Presotto Flávio que bom receber este banho poético, gracias por estares aqui em amizade e poesia... o poema é lindo, e que nas janelas virtuais do tempo sejam asas, onde o nada é mais...beijos!!



    • Wania Victoria que a poesia nossa de cada dia seja sempre lida...

      Rio, 2 de maio de 2011