domingo, 24 de dezembro de 2017

NATAL 2017





a cada Natal o passado está presente

são doze meses
e setenta e sete anos
ao redor de uma árvore brilhante
todos todos todos lembrados
todos
queridos e esquecidos
nos desvão ingratos da memória

o que sentimos é força mística
de uma cocheira
e uma criança
com o amor que transborda
desde séculos
séculos a fora

reconheçamos as diferença
e nos façamos iguais
a sonhar com a esperança

e com sorte a acolhamos

dois mil e dezoito é o futuro
que não deixaremos escapar
para não ser apenas um relógio
que só nos diz o tempo
que falta

tempo não há-de nos faltar

vivamos felizes o que nos resta
e que passar não seja difícil
breve o tempo breve os anos
tão pouco a vida dura

somos quem nos fizemos
faremos mais
que tudo seja melhor...

Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2017


domingo, 5 de novembro de 2017

PERCEPÇÕES




tudo é presença 
a luz o sol ou a lua
o mar que me incendeia
toda a extensão da areia
montanhas de pedra ao redor

mora em mim a certeza
do bem por acontecer
assim tem sido
assim bem há-de ser

atraído pelo mundo
não me conquista o silêncio
"fecho os olhos, oiço o mar" (FP)
antes do sol sob a lua
o sopro da brisa é paz

assim durmo e acordo
ansiedade  
verdade 
enleio
sei que a realidade é razão
entre o que penso e o que vejo
o mais é o que não sei

Rio de Janeiro, novembro de 2017






domingo, 29 de outubro de 2017

SONS



marejar de ir e voltar
renúncia de tudo
alongada aceitação
síntese
em sons lânguidos do mar
nesse bulício distante da noite que cai

amar crer desacreditar não ver
mas sentir e lembrar  
no ritmo dos sons
alegrias e tristezas de anos atrás

ouço o eco altivo do tempo vivido
do que poderia ter sido
de tudo que sonhei

o marejar hesitante à sombra da noite
traz o passado e olvida o futuro
mas acalma e faz meditar

o horizonte fundiu-se na escuridão

Rio de Janeiro, outubro de 2017




sábado, 14 de outubro de 2017

HOJE


...para contrariar Álvaro de Campos...

por quê não hoje
se o sol brilha
e o verão me acalenta o coração

o momento é agora
que a tristeza se foi
e nada me dói

o entardecer vem com e a brisa fria do mar
e me penetrará
depois só sombras me encobrirão 
por quê deixar livre o tempo
que não volta mais

caminhar é preciso
agora
à frente sempre à frente
para sentir o tempo corrente
e o sonho ser meu

viver é não fingir a hora imaginária
fazer a história viva
a luz e todo o brilho que traz

há-de ser hoje
por entre a brisa e o vento
e a saudade atual
de nada deixar passar

por quê não hoje
que ouço bater o coração
e sinto o pulsar do desejo
e a força que a alma tem

sim
há-de ser hoje
e não depois de amanhã

Rio de Janeiro, outubro de 2017.

 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

INSISTENTE SOLIDÃO


o que mata é a solidão
não a solidão de estar só
mas a solidão da alma

não sou triste
basta o sol
para me fazer sorrir

mas o sorriso é um adeus
que pesa em mim
na longa espera
arrastada e sombria
de um momento que não sei
distante interrogo-me
bastante como um pesadelo
ou como um sonho que se perde
e não deixa rastro
nem é meu

a inutilidade dói
nesse tempo sem tristezas
à espreita apenas
do indesejado evento
tão próximo quanto distante

resta a memória da vida vivida
sonhada e esquecida
pois não volta mais

a natureza é assim
nada do que passou é meu
apenas passou por mim

foi um tempo bom
de que me lembro e não vejo mais
tempo pleno provado sentido
da esperança viva
da construção do futuro
hoje apenas sombra
uma incerteza

a vida entretanto não exige certezas
mas a imagem de Pasárgada
a cidade sonhada

embora a estrela do poema luzindo
a vida é vazia
nada acontece exceto o sonho
de um passado ausente no presente
isso é insistente solidão

Rio de Janeiro, outubro de 2017.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

CANÇÃO DO TEMPO




é gradual sentir os anos
as noites curtas
e que os dias voem

é natural o frescor da brisa 
no soprar suave 
de tornar-se vento
a acelerar o tempo

assim entendo o que hoje sou
e o depois
enquanto a brisa ainda ligeira
sopra
e o vento 
zune 
distante

aparentemente

tudo é movimento
o voar silente do pássaro
e a comparação
entre o que é só metáfora
e o que for poesia

é feliz o tempo da constatação
é movimento a emoção
assim o sou a sós comigo

esta é a canção do tempo
e da solidão

Rio de Janeiro, setembro de 2017.









domingo, 24 de setembro de 2017

ABISMO



o que dói não é a narrativa
é o abismo 

nenhuma esperança é sonho
quando falece a realidade

por espaços sucumbe a vã percepção
do tempo que se volta para trás
na noite irracional
que não espera o por do sol

o Rio chora sem pranto
o que sabe e não vê
puro abandono 

em meio ao deserto que se atreve entre homens
não há chão
mas solidão
enquanto me perco ao escrever esta canção

Rio de Janeiro, setembro de 2017

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ERA SÓ ISSO?



Tanto!
era só isso?

viver parece tão pouco
nem bem pressinto amanhã
e ontem sinto tão próximo

meus vinte anos presentes
lembram dias felizes
por eles recuso partir

recusarei sistematicamente tentações
para esperar o que virá
num futuro que não me seja dado viver

não supus ainda amar
descobrir presenças
ressuscitar prazeres
renovar percepções

Ana Luiza Alice Pepe
e Lucas são personalidades
independentes
o futuro lhes pertence

por eles insisto e fico
mas sei que passo
enquanto resisto

viver é muito bom
mas ao chegar a hoje
vejo
que não era muito

mas tanto
que hoje sinto
foi só isso?

Rio, setembro de 2011/setembro de 2014

domingo, 17 de setembro de 2017

A DESCONHECIDA



Se eu soubesse
quem sou seria um passo
sutil e passageiro
a primeira vez que festejaria
momentaneamente a vida
e sairia para um abraço

não quero muito
apenas conhecer-me
para dizer de mim para mim mesmo
quem fui quem sou
na canção cansada que ora canto
de esperar e esperar
sem saber a hora
de quem vem por que vem
indesejada
dizer presente

às vezes sinto como se passasse
num sopro leve e sereno
e eu o aspirasse
indolor e puro
como as águas límpidas de um rio que já correu seu curso

sei que virá e a espero
para sempre recordar
o sonho que foi a vida
que vivi toda sem querer
inesperadamente
não deixarei de ir

Rio de Janeiro, setembro de 2017.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

O DESCONHECIDO




(revisão de setembro de 2017)


não quero o desconhecido
mas o horizonte definido
precisão

é difícil sobreviver com a perspectiva invertida
a impedir a construção

ao revés
são tranquilas as horas
da antevisão
do previsto e do ideal
em que se pode errar sem hesitar

são a pinturas visíveis da construção
que incitam a criação
e dão ao traço a leveza da intenção

imitamos deuses
em cores definidas
reta e curva da imaginação

não ao desconhecido
(se é que posso querer)
não

temo não saber viver



Rio, setembro de 2013.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

MELANCOLIA



deve ser saudade o que sinto
e que não sei descrever
mas é tão forte que minto
para não reconhecer

o tempo me roubou a vida
que pareceu outrora tão longa 
e hoje sinto passado
tão próximo tudo o que vi

esta canção vem por caminhos
tantos que percorri
pessoas coisas e fatos
que são parte mas já não aqui

[águas moveram moinhos
vento moendo o tempo
momentos em que sonhei amei e cantei]

não toco mais essa água
nem ouço o som dessa roda
tudo ficou em mim
talvez como sentimento que é mágoa
de não os trazer

deve ser saudade o que sinto...        

Rio de Janeiro, setembro de 2017.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

FLUIR



nessa longa estrada flui
o fim do dia 
na rotação completa
para o amanhecer otimista
de esperar o sol

flui na direção do nada se não crês

mais vale não querer o fim
do dia da noite ou do mundo 
sem saber
quão distante está

mas eu prefiro começar cantando
a noite a manhã ou o poema
e dizer do recomeço
que sinto a cada instante
que aspiro o ar e nada dói

Rio de Janeiro, setembro de 2017.






segunda-feira, 28 de agosto de 2017

INVERNO



o sol que brilha no inverno
sobre este mar encantado
expõe minha inútil solidão

ninguém
mas ninguém 
tivesse o amor desta praia
sentir-se-ia só talvez
como me sinto

sob o horizonte estendo meu olhar
e vejo o céu
que azul é céu 
azul como este céu
que me acompanha inda irreal

beleza de um olhar
só 
sem procurar
debruçado sobre a extensão da areia branca
reluzente prata sob o sol
sem querer achar
neste frio muito além de seu tempo
outra companhia

Rio de Janeiro, agosto de 2017. 


PALAVRA BUSCADA




onde quer que a procure não encontro 
a palavra que se esconde
que trapaceia
e  desaparece para não se expor

o que desejo revela-se apenas em mim
no imaginário
que não se concretiza

a quem é permitido sonhar
e sabendo o que sonha
não tem palavras
para se expressar (?)

quanta palavra não achada
quanta perdida palavra
nessa vacuidade
para onde vão (?)

essa perplexidade me agride

Rio de janeiro, agosto de 2017

domingo, 27 de agosto de 2017

MISTÉRIO





a espera é o último alento
da esperança que se esvai
e do seu encantamento
que nos levou enganoso a vida toda

mas se a última que morre
tivesse nada a ver com a vida
ficaria como o horizonte à distância 
mistério
imaginação agudizada

é a transição que nos assalta
de repente na curva da única estrada
não é o fim nem o começo
talvez o mistério já aceito


vaga a espera vã a esperança

Rio de Janeiro, agosto de 2017.

sábado, 26 de agosto de 2017

A HORA





conto a vida como o dia-a-dia
e tudo é sempre igual
grande ou pequeno 
como pode ser 

vivo sem qualquer memória
só o encanto do que tenho agora
sem alongar a vista nem olhar p'ra trás 

e assim respondo a quem quer saber
esse é meu mundo
míope e restrito
e nada dói senão só viver

Rio de Janeiro, agosto de 2017

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

REVIVER



são tantos os momentos de que não recordo
que me parece estar dormindo ainda
navegando sobre águas calmas
de minha vida variada talvez atribulada

tudo parece inútil
quando as formas e conteúdos apresentam-se
caprichosamente raros quando juntados
tudo esconde caminhos que tomei
em decisões já findas

meu desejo seria rever todas
para recuperar os desvios
e viver a mesma vida e outro encanto

Rio de Janeiro, julho de 2017

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

CONSCIÊNCIA




a vida é o que é
um intervalo
entre nascer e morrer

partir para além da vida
é continuar a viver
apenas do outro lado

vivam esta vida
sem pensar em outra que virá
aguardem-na
como fato natural
do qual não fugiremos
nem escaparemos
apenas viveremos
num total

de onde estou vejo o que sou
não conheço o que serei
mas confio
no que me tornarei
sem o saber

não serei um
mas todos
a consciência universal
do outro lado

Rio de Janeiro, agosto de 2017

segunda-feira, 31 de julho de 2017

REALIDADE E SONHO



sonho e realidade
o que vem antes
para ilustrar a vida

tão breve tudo
tudo tão breve

o sonho que nos traz à realidade vem muito tarde
e cedo vem a realidade transmutada em sonho

deixo tudo como começou
pouco mudou se quase nada

era assim quando me descobri
continua assim quando me encubro

o haver de ser mal começa o dia
que se torna noite sem deixar de ser

tão breve tudo


Rio de Janeiro, julho de 2017.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

IMPROMPTUS




um som
impromptus de Shubert

[https://www.youtube.com/watch?v=j1rCDLGcVhs]

de onde surgem não vejo
teclas que se encadeiam
descendentes ascendentes
suspiros
medindo tempos
entre o grave e o suave
vêm e me consolam
da aridez de tudo
da insensatez 
com a lógica de acordes 
lindos por sublimes 
onde o talvez não surpreende
e faz de mim teu 

suavemente dentro de mim
se entrelaçam notas
e magicamente me encantam
talvez sonhando
um amor sem fim

Rio de Janeiro, julho de 2017

SAUDADE III




tempo é circunstancia
o espaço distancia
a saudade é sombra tardia da verdade
realidade que tangencia a imaginação

não se conjugam espaço e tempo

idólatra do passado
a saudade é só presente
não há futuro múltiplo de si mesma

Rio, 06 de julho de 2014/06 de julho de 2017

FANTASIA?




a fantasia é a cena
não entendo o enredo
creio na indignação
de platéia contra vilões

dói o turbilhão de fatos
nesse deserto
onde não nascem rosas
nem sobrevivem lagartos

ratifico a ética
vagueio entre sonhos
que percorrem a alma
numa história do futuro
recomponho pecados cometidos
reúno forças 
o passado serão inexpressivas pedras

Rio de Janeiro, julho de 2017 

domingo, 18 de junho de 2017

CÃO DE LATA AO RABO


                                                                               Minha primeira aventura na poesia, 
publicada   em "A Comarca",  
de Araçatuba (em 1956), 
tinha eu 15 anos. Enxertei 
um texto (2017) do que resultou 
essa combinação explicativa. 


não contarei minha história
mas era um cão com lata ao rabo
a ganir

o que vem

depois pode ser um poema
ou não
mas desse começo guardo o grito
contra a lata no rabo do cão
que não é fato usual
nem natural

 será um poema
não sei
(2017)
*** 


Escrever? Nem pensei,
mas senti.
Será deixar o cão arrastar a lata
e ganir?
Alguém amarrou a lata
e o cão em desespero correu
e cá estou a ganir .
É um eco a imagem
que estilhaça o marfim
janelas caladas
cortinas fechadas
nem um relance de olhar"
(1956)

Araçatuba,1956; Rio, 2017

sábado, 17 de junho de 2017

RUÍNAS


cantei o amor cantei vida
cantei tristeza e alegria
cantei o vento e a brisa
cantei tédio e calmaria

cantei o que não tem causa
cantei o jovem e o velho
cantei mágoa
cantei o passar rápido do rio

o tempo passa a hora dói
ir e voltar e nada encontrar
tudo é vácuo e vazio
ao parar no meio do caminho

não conheço o que sei
nada sei
meu castelo ruiu
no sonho bom que sonhei

tempo estranho sem estrelas no céu
nuvens raras tempestades
um turbilhão só de meu
em meio a um jogo de azar

já não canto
choro
a história se desfez
mas desejo ignorar

escadas sempre descendo
sou ateu

subir graus de ironia
é o que tenho de meu

Rio de Janeiro, junho de 2017

sexta-feira, 16 de junho de 2017

HESITAÇÃO




a eterna busca do porto
linha final 
tudo concertado
para um navegar preciso

nada disso é possível
no esticar longo da vida
onde o que não se pensa
não sei donde vem
impreciso
feliz
dolorido
reenviando ao fim

a vida flui e reflui
não cria modelos
não define regras
nem é só exterior
bem não é interior 
acontece
irreprimível
diurna e noturna
pode ir e voltar
não tem meio de caminho
nem fim
tudo é começo

Rio de Janeiro, junho de 2017

terça-feira, 25 de abril de 2017

ENTENDER? QUEM HÁ DE?




o que emociona ainda não apareceu
a Terra continua redonda e o horizonte
(nítido ou não)
tudo é normal
frio seca chuva calor
até a fidelidade no amor
assim somos nós

Netuno governa os mares
Apolo faz musculação

hoje a novidade é ladrão
diurno e noturno (como a Terra em seu jogo com o sol)
o corruptor cheio de verdades
dá entrevistas amenas
na televisão
ou difunde boatos no rabigalo da corrupção

do noticiário convulso
restam folhas de jornal
inexplosivos como pastéis
o país não tem futuro com a tal Constituição
(que me perdoe o inesquecível Ulisses dos Guimarães)
pouco cidadã
a lei não individualiza a pena
e generaliza a salvação
erga omnes

a Constituição inaplicável
engessa o país
com seus intermináveis incisos
inumeráveis
de pouco juízo
ou nenhum
resta o parágrafo da proibição da cachaça
essa mesma que nos atrapalha
e não faz sentido nenhum
mas esse é o nome do jogo

olho a chamada realidade
olhos de não ver nada
no vértice cúmplices associados
na base nenhuma direção
não há luz só confins
perplexidade sem fim



Rio de Janeiro, abril de 2017

quinta-feira, 20 de abril de 2017

OUVIR ESTRELAS!



na madrugada escura
não me recordo de nada
sinto apenas em silêncio
o passar das horas
às vezes anjos me assaltam
com a ideia da morte
o que é apenas natural
nesta idade que tenho

sou um soldado da vida
disciplinado e treinado
espero o clarim
para saber que estou acabado
serei feliz se o som demorar
ainda tenho desejos
em meio a muitas vontades
quase livre do cansaço
de ter vivido o tempo
sem jaça mas sem brilho nenhum

nessas horas estou só
ninguém me sabe
nem sente as radiações de vida
que emito entre suspiros
profundos como a memória
já miragens de um coração
feito "clip"de anjos

não creio ter errado nas sendas que percorri
errei solitário
entre altos e baixos nas trilhas de meu passado

medito na madrugada já clara
e aceito o despertar do dia
como etapa da experiência
que goteja hora após hora
mas só no escuro vejo
o que me é suprimido de dia 

são estrelas em constelação que a noite oferece
que no sol e no claro apenas desaparecem 


Rio de Janeiro, abril de 2017