terça-feira, 25 de agosto de 2009

LERO-LERO








com palavras e beijos
quero dizer-te
o que os versos não dizem
- amor -
- te quero -
- vem -
beijos mil beijos mil

mas se ao contrário digo
- não te quero -
sei que brigarás comigo
e não é isso que quero
pois é tudo lero-lero


Rio de Janeiro, agosto de 2009





NOTURNO









no mar de minha janela
navega a hesitação
tu não estás comigo
machuca-me o coração

sou triste sou taciturno
nesse esconder-me de mim
e o barco singra noturno
hesita por ser assim

Rio de Janeiro, agosto de 2009





O SILÊNCIO DOS VERSOS








a arquitetura dos versos conduz-me
a escrever pensando em ti
queria falar contigo
mas a estrutura me contem
sou escravo da forma
vinculo-me à palavra
e meu denso sentimento
fica invisível entre as linhas
atrás de cada palavra
perdido na concretagem
da perversa regra dos cálculos

sobem fácil as paredes
fantasiam-se janelas
por entre as colunas hesitam
o que desejo dizer
e muito do meu sentir
o edifício está quase pronto
a pintura vem branco-nuvem
as paredes em verde claro
os tetos céu em azul

mas estou enclausurado
entre pisos e paredes
e não encontro abertura
para trazer-te p'ra mim
ou exasperado sair
desse conjunto concreto
de dores cores e amores
do arquiteto calado
por não poder tudo dizer

Rio de Janeiro, agosto de 2009