domingo, 26 de outubro de 2008

ADEUS LONDRES






o inverno ronda Londres
vem do mar molha a terra
com a umidade cega
que se desfaz
nas ruas de noites silenciosas
dessa gente retraída
em palavras sem palavras
debaixo de janelas fechadas
à sombra de lâmpadas amarelas
sem um grito
sufocados

nenhum gesto
luz opaca
claridade repentina
de um farol indistinto

no escuro florescem
sem vida as manhãs
não demoram
duram horas

vem o cinza em pranto
só para que passe
um outro dia
que se cala


Londres adeus! outubro de 2008.


sábado, 25 de outubro de 2008

VÉSPERA








melancólica véspera do nada
bem guardada na ante-véspera da solidão


Londres, outubro de 2008

VERDADE



ergui minha casa sobre o sonho
e protegi-me de sol e chuva
sob a emoção
na fonte
por onde sibila o vento
e sopra o que lhe convém

sonhei que navegava
ondas de percepção
de onde estive pressentia
o apelo da manhã
sob tênue sol
que me aquecia

se eu soubesse então a reverência
do sonho submerso no real
não viveria
nem sobreviver conseguiria
frágil que fosse
à verdade que me consome

Londres, outubro de 2008.

SENSAÇÕES TARDIAS






lábios trêmulos
ausências mansas
muita gente sombra

o silêncio emocional
esconde a alegria
que partiu

neste intervalo
tudo pouco importa
nem desamor

a véspera de não ser
é frágil
é lembrança e é passado

tudo pára
quem importa já não vê
o visível sentido do que tudo se tornou

resta pouco
corro atrás do vento

Londres, outubro de 2008

sábado, 18 de outubro de 2008

AMAR O AMOR




amei a vida nos lugares
por onde passei
sempre com pressa
nunca devagar
amei os lugares
onde passaram lábios
e se deixaram acariciar
amei quem não me amou
quem me acariciou
quem me pretendeu dominar
amei a vida em todos
que de mim tiveram um pouco
amei como muito poucos
o amor que tateei
e sem querer negligenciei.

Londres, outubro de 2008.

TRAVESSIA



atravessei o mundo sem prestar atenção
tudo parecia claro
uma narrativa da natureza para o coração
o movimento oscilante
o murmúrio de homens aparentemente despertos
o mar horizonte distante
tão simples...

ah o clamor da vida perdia exclamação
diante do abismo da arrebentação
por onde passaram dourados
corpos ao sol construindo seu mundo
no equilíbrio instável desse ir e vir
tão simples...

o inglório presente leva-me longe
para esse futuro do qual me abeiro
entre os vagares da saudade
e as indagações compulsivas
do que sabemos nós
do que não sei
tão simples...

como se não houvera a selva escura
será bom deixar espaço
para um pouco de ternura
como se as nascentes tornassem a fluir
tão claras
já que chorar é sempre mais fácil
simples assim...

Londres, outubro de 2008.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PASSAGEIRO


PASSAGEIRO


Não sou eterno
o que há é o mundo
de que sou passageiro
nem a verdade me toca
nem a mentira me esgota
naquela disponho
nesta suponho
e estou só com meu corpo
como um poema
condenado ao passado.

Quem me condena?
Os inteligentes ou os bem lidos?
Sou o que sou e não passo
de passageiro no mundo.

Londres, outubro de 2008.