segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ÂNGULO DE VISÃO


tudo que pensei ou fiz recai na vala comum
da desmemória
daqui onde estou vejo o horizonte próximo
e ninguém para contar a história

sou eu só
mas nada almejo além
do que vejo

Rio, agosto de 2012.



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O NADA



...diante do nada

temo o embate desigual entre o que é
e o que nunca foi...


Rio, agosto de 2012.



sábado, 18 de agosto de 2012

SEMEIA SEMEADOR SEMEIA


deixa cair a semente na faina de semear
um dia tu verás o fruto que lhe dará outra semente
para a faina de semear
ciclo insondável do retorno eterno
dos anos de minha vida
aos anos de minha vida
e de outras vidas que me sucederão

não não me neguem o mistério que há nisso
mas não me tragam um deus qualquer
para explicar essa trilha circular

sol ante sol e a lua de permeio
a antever o dia entre noites
de que meu sonho é memória
e o sono o retorno à nua paz
eterna um dia sem mais nada a semear

Rio, agosto de 2012.


CAMINHOS




ah sei bem que não consigo ter tudo que amo
que a estrada se divide
em passos de diversa direção


assustou-me sempre a monotonia linear 
sem sobressaltos e paixões
sem o livre gozo da vida
no caminhar de passos iguais


optar ao fim da caminhada
é agora pesadelo a interpor-se
entre sonhos prenunciados
no cruzamento de amores todos
de insuspeitada emoção

que as trilhas sempre se dividem
e a alma sofrida experimentada pronta 
hesita entre caminhos 

sente ainda aguda a dor da opção  


Rio, agosto de 2012.



INDIVISÍVEL




...se me olho de frente vejo apaixonado
a vida e tudo que me ofereceu
no tempo que tão breve passou

lembro tudo
cada gesto é uma história
cada história uma emoção

conta finalmente o somatório
da vida a emoção indivisível 
para caber no coração...

Rio, agosto de 2012.






domingo, 5 de agosto de 2012

SEM QUERER


"...se a flor flore sem querer..." (1)

somos assim por toda vida

desde o nascer
inconscientes florescemos
vivemos sem perceber
desaparecemos
sem mesmo querer

há quem viva a fantasia

de fingir gestos
a ironia
de supor que sua sorte'
é melhor
sem contar o que passou

inconsequente fui eu

vão-me os dias
sem florir
quando não resta
nada a medir
o tão pouco
senão tão pouco quanto morrer


sou assim uma edição
nem mais tardia
nem temporã
breve meu tempo
recordações
um tempo por acaso meu
este sou eu



(1) Fernando Pessoa

Rio, agosto de 2012.