segunda-feira, 30 de abril de 2012

O BEIJO E O POEMA



a paixão do beijo que estremece os lábios e se torna verso
é o calor da palavra que os entreabre para o universo


o poema é o amor do mundo
o beijo quem o revela
o poema voa
o beijo cala


Rio, abril de 2012.




   

quinta-feira, 26 de abril de 2012

REDESCOBERTA



ah como eu queria outra vida ter
não no etéreo onde não irei
mas na terra mesma
onde te encontrei


é como gente que eu bem queria
pelo perfume descobrir a flor
a beleza dela outra vez viver
e em meio ao mundo redescobrir o amor




Rio, abril de 2012.


FIM DA TRILHA



calo-me ainda que meus lábios queimem
mas hoje se mo pedissem 
um pouco mais 
diria 
do medo de perder-te
vida


que é encanto é claridade é música
onde a natureza canta
em cada letra sua beleza toda
escutando o vento 
e o mistério que seu soprar nos traz    


não é pela árvore que a floresta encanta
mas toda ela 
e o saber do mundo  
o mundo todo em que o amor é lei


é pelo regato que descubro o rio
a seguir-lhe as pedras vou chegando ao mar
sou filho das águas tateando o chão


no fim da trilha
amo o que tenho 
amei o que perdi
dialogo com o coração
e peço
piedade que a terra também morre
Rio, 25 de abril de 2012.






 

O FIM DO MUNDO [II]



* * *...nao nao sinto o fim do mundo* *não me perdi para a vida* *que na idade parece interrompida* *às vezes quando o sol se põe* * * *tivesse nada conhecido* *a ninguém amado* *ainda assim passou por mim* *a juventude* *memória de alegria e de ternura* * * *quem hoje sou ainda é jovem* *que me encanta tudo* *no que descubro* *da beleza quando nasce o sol* *ou quando reluz a lua* * * *e cada dia repete* *o irrepetível sentimento de estar* *em meu lugar* *o mais antigo* *o mais recente* *onde posso ingenuamente amar* * * *Rio, abril de 2012.* * * * *

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O FIM DO MUNDO



...nao nao sinto o fim do mundo
não me perdi para a vida
que na idade parece interrompida
às vezes quando o sol se põe


tivesse nada conhecido
a ninguém amado
ainda assim passou por mim
a juventude
memória de alegria e de ternura


quem hoje sou ainda é jovem
que me encanta tudo
no que descubro
da beleza quando nasce o sol
ou quando reluz a lua


e cada dia repete
o irrepetível sentimento de estar
em meu lugar
o mais antigo
o mais recente
onde posso ingenuamente amar


Rio, abril de 2012.



sábado, 21 de abril de 2012

RÉQUIEM



...e o dia termina pagãmente
ao som de Mozart sem capelas
em seu Réquiem de indizível suavidade
solene ritual em que o divino
repousa fielmente sob o gênio




Rio, abril de 2012. 


sexta-feira, 20 de abril de 2012

APÓS MICHELANGELO



próximo à noite silenciosa 
um corpo espera o meu desejo
e nada me prende alcançá-lo
exceto a vida


reconheço nele a ternura
e a beleza equilibrada e pura
após Michelangelo o Davi
que me fustiga


reconheço
a delicia de sentir
o apelo dos sentidos
e me castigo


estremeço
o amor que tenho no poema
sonha contra o vento
arde


Rio, abril de 2012.  





AMOR ETERNO



[de um esboço de 2006, Roma]
sei porque te quero
vem junto comigo
para conhecer o desejo


deixa passar as águas
ficaremos a nos olhar cristalinos
luminosos de ternura


se vivo onde nasce o sol estou contigo
tranquilamente pensando em um novo dia
e o mar imenso para navegarmos
juntos eu te queria


somos quem deixa correr as águas 
inocentes diante das margens frias
levando apenas instantes sem razão
nós ficaremos


é do amor que falo
do nascer do sol sem o poente
que duradouro será o nosso dia


Rio, abril de 2012.





PALAVRAS [bis]



de onde vem o canto
entoado cada dia


pedras não flutuam
nem a brisa leva
transformar o canto em pedra?



palavras 
como se a brisa soprasse
não regressam





Rio, abril de 2012.




quinta-feira, 19 de abril de 2012

PALAVRAS



ninguém sabe porque escreve
escreve
mas alguém deve saber
há tantos críticos literários

eu não sei
escrevo
às seis horas da manhã
depois da noite azul
quase negra
insone e portátil
para depois de amanhã

hoje já foi
e tudo vai sem perceber o caminho
nem a direção

vou indo
acompanhando as palavras
nem sei onde chegam
mas chegarão

basta escrever para dar sentido
e fazer a vida leve
onde pesa o compromisso

ao menos se escrevo lembrarei
que escrevi no dia dezenove de abril
de dois mil e doze

palavras que me surpreendem
modernas para alguém tão antigo
na falta de brilho de uma vida opaca
quase a chegar ao fim

falaria de amor
se não provocasse a desconfiança
de que amei muito 
duas vezes
três
muitas vezes
separadas ou simultaneamente


o amor não se conta
até porque revela-se diferente
a cada caso
enquanto passam as águas do rio


mas a juventude que ainda  vem da fonte
límpida brilha  quando me esqueço
a idade e viro pedra
imóvel
eternamente jovem


tudo são palavras que se afogam em poemas
em busca da forma
da ideia
ao rumor das asas da borboleta 

só palavras
neutras
nem ciúme nem inveja
nem raiva nem ódio
amor talvez
sentimentos desconcertantes para quem se descobriu simples
um homem
passado tanto tempo

sexo movimenta demais
o esforço encanta
mas cansa
quê diria um menino na força de seus anos
velho 
que não sou

colho o dia como flor que me apascenta
aprendo o perfume
apreendo o sentido
tranquilamente sabendo que estou aqui
agora 

palavras perdidas
emaciadas arrependidas
do que fiz ou deixei de fazer
da criança que fui ao adulto que não sou

não sou triste
nunca fui
mas hoje em dia diriam-me bipolar
o que muito me intrigou no laudo médico
que me descreveu 
psicótico-maníaco-depressivo


nem fui nem me senti
 entre humores
vivi alegrias

deixa estar
palavras rápidas quase brisas
perdidas no vendaval da vida
deixa estar
este é o momento em que perdi a virgindade
para entender
que bom mesmo é viver

Rio, abril de 2012.



quarta-feira, 18 de abril de 2012

APÓS MOZART [transcrição automática]



* * *a música soa sem dizer* *palavras* *cresce entretanto no tudo que resume* *e vem a nós suave distante apaixonada* *trazendo-nos o claro e o escuro* *o doce e o amargo* *o "staccato" a melodia * *a sinfonia * *e o acorde final da eternidade* * * *


Rio, abril de 2012.* * * * *


[a forma automática de transcrever meu texto é interessante como resultado]



APÓS MOZART



a música soa sem dizer
palavras
cresce entretanto no tudo que resume
e vem a nós suave distante apaixonada
trazendo-nos o claro e o escuro
o doce e o amargo
o "staccato" a melodia 
a sinfonia 
e o acorde final da eternidade


Rio, abril de 2012.





domingo, 15 de abril de 2012

REVIVER





a alegria frágil das angústias ausentes
é o que feliz levo a caminho do mar
infinito no espaço sem os limites das horas


minha vida é cada dia
um orgasmo de exaltação
um lapso na alegria de ser


assim invoco meus dias
convoco meus manes
para um passeio entre os deuses
tantos aqui e além
onde a luz se demora


sem ilusões ainda sonho
embalado pela música do tempo
é dentro de mim
que toda força descansa


no horizonte de mistérios entendo o voo da ave
como chave para descobertas
aqui tão raras


hesitantes o mar faz-se em ondas
no vai-e-vem que espero
devolva-me o tempo




Rio, abril de 2012.





UM DIA PARA VIVER



manhã de sol e Ipanema
a claridade me desperta
para a beleza do dia


visto a praia branca
de ondas que se esquecem de ficar
deixo na obscuridade de meu quarto
o que sonhei
e o silêncio da noite 


abro a porta para um dia sem mistério
exceto o do horizonte distante
são verdes as águas do mar


Rio, abril de 2012.



quarta-feira, 11 de abril de 2012

AUSÊNCIA





...por mim mesmo acho a noite que virá supérflua
nada mudará 
e o obscuro túnel do tempo por onde caminharei
deixará atrás tudo que amei
e eu
perplexo
entenderei que tudo era não meu


mas para que entender se eu já não serei eu
e tudo continuará
sem mim...


Rio, abril de 2012.



segunda-feira, 9 de abril de 2012

SAUDADE







... a saudade é beleza presente de uma ausência sentida...


[ainda pensando em Borges]


Rio, abril de 2012.


BORGES




" A esperança é a saudade do futuro que ainda não temos." 

Jorge Luís Borges


[citação de memória]


Rio, abril de 2012.

ESPERANÇA





...e a esperança é beleza que antecipa o sentimento  futuro ...


[inspirado no axioma poético de Borges]


Rio, abril de 2012.


BELEZA



a beleza é o que sinto
no olhar
na percepção de meus sentidos
no toque personalíssimo do sexo
no sentimento pungente do amor


se é triste revelará tristeza
e meus olhos chorarão
o sonho que me frustrará


mas a alegria de sentí-la
faz-me viver  




Rio, abril de 2012.




domingo, 8 de abril de 2012

INDAGAÇÃO



talvez haja singulares neste mundo plural
de mediocridade o coletivo da gente 
sobre a terra fria
seja inverno ou pleno verão


nunca tanto a realidade me escapou
talvez porque nasci como todos
e sou parte dessa mesma exterioridade
companheira de minha solidão


onde estão os singulares
onde os encontro
no meu errar inconsequente
em busca da compreensão


aprendi-os talvez no mito do passado
pensei entendê-los em sua lida
se verdadeira ou falsa não sei


e entretanto
o universo é o mesmo 
mesmos são os homens
iguais as mulheres
mas havia sábios guerreiros e santas
sob o mesmo céu


hoje é dia de indagação
de questões sem solução
na prova de viver setenta e um anos
e ver nascer sete bilhões
que não farão vingar a alegria
de fazer o que não fizemos
em tempo de salvar o que nos resta
neste planeta singular


mas porque me pergunto se não sou responsável
nem singular entre homens e mulheres
que apenas sobrevivem 
em meio à beleza do que somos
inconsequentes
na rota desconhecida do universo
de que só consigo este verso


quem somos porque somos para onde vamos
em nossa triste rotina de destruição...


Rio, abril de 2012.






sábado, 7 de abril de 2012

À LUZ DO DIA





foi-se a noite 
e todos os segredos
ofuscados
pela luz do dia


foram-se
o medo da sorte
fantasmas da mente
pesadelos inconsequentes


sombras e vultos
foram-se covardemente
ao brilhar a aurora


voa agora a alegria nas asas da poesia
é pleno dia




Rio, abril de 2012.




POENTE



nada de novo há
nada
exceto a beleza recobrada
do por do sol
em um poente cada dia


olhos postos no astro em fogo
e o pensamento no eterno esquecimento


Rio, abril de 2012.