domingo, 11 de fevereiro de 2018

RITUAL DE CARNAVAL (revisto)




ouço a música que toca para dançar
ouço os gemidos da moça que não quer descansar
ouço o rapaz heroico a resfolegar
estão logo ali as sombras que se abraçam
na solidão a dois que buscaram para se amar
há animal no ato selvagem de penetrar
nem tanto a alma que ali não quis ter lugar
ouço o surdo ronco do gozo
e uivos de hiena no calor do ato carnal

a noite cheia impele os jovens
a pular desengonçados sua fortaleza
num exercício de desgastar e ficar
para fazer valer um gesto de beleza

a juventude e sua natureza
necessitam essencialmente ali estar
frenéticos como se o mundo fosse acabar
furiosamente dançam a coreografia do inferno
dançam dançam sem parar
na simplicidade de seus corpos quentes
como quem vive o último dia chegar

o tum-tum tum-tum-tum não ameaça terminar

nas sombras da noite que não quer acabar
acalmam-se depois do gozo animal
miram-se quase nus num gesto final
lambem-se as carnes molhadas de transpirar
como a cria que da mãe quer mamar

dão-se a inútil atenção do desdesejo
real frio da morta atração
tudo passado
para correr cada um para seu lugar
e continuar a dançar

tum-tum tum-tum-tum

Rio de Janeiro, fevereiro de 2017/18