"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
VAZIO
fujo de mim deserto como casa vazia
aberta escancarada
no claro dia entre oriente e ocidente
tristeza em meio à alegria
dia-a-dia
enxugo os olhos do pranto mal amado
nada vejo mas a curva do horizonte
e sua lacerante simetria
Rio, dezembro de 2013
sábado, 30 de novembro de 2013
QUIMERA
ah o amor
quimera que não se apaga
indelével crime de quem vive
o amor nos esgana
sufoca a verdade
é navegante em recorrente desengano
ah amor
sonho que desvela o paraíso
atual e incerto em seus desvãos
viver é a certeza desse amor
volúvel entre cinza e branco
ligeiro e descontente com a morte
Rio, novembro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
FUTURO DO PASSADO
o sentimento que se aproxima no horizonte
é futuro na percepção do passado
não a eternidade plácida do céu azul
mas o desfile imaterial de fatos idos
pessoas coisas lugares montanhas e o mar
o que já fui o que fiz a quem amei
mescla de sonho e pesadelo o cenário é difuso
mostra o tempo curto no que resta
ínfimo no que foi
como um rio que busca o mar navego sem temer
e como as águas banho pedras testemunhas do antigo
detenho-me diante de impurezas
contorno diques
sobreviventes de lutas superadas
folhagens e florações de outras plagas
e a melodia doce e vaga do sussurrar do rio
aquietam a inquietude do confronto ao largo
com o mar imenso impessoal e frio
o mesmo mar o mesmo rio o mesmo sonho
e o pesadelo são o viver estranho
do que real relembra a vida
Rio, outubro de 2013.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
NOS TEUS ANOS
para a avó de meus netos
é tenra ainda a emoção
de ver-te criar no teu cuidado
a flor do tempo que se renova
no gosto doce de teus netos
na paisagem em cores dos anos idos
a floração em flores lindas
expõe a beleza das coisas findas
que ficarão
Rio, 2 de outubro de 2013.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
SONO
o sono adormece o dia
e o silêncio me retempera
do que não é dormir
mas muito mais vontade de despertar
e saltar como fonte em alguma pedra
desgotejando emoções
de estar acordado sem desesperança
do sono que virá
esse sono fugaz que me apaga a luz
tem algo de estagnação
como se o útero me recebesse
e não houvesse a inquietação do claro
das coisas que sucedem e chocam os desprevenidos
dos fatos reincidentes
é sono de dormir e acordar
não temo a indiferença e frigidez suspeita
do sono final
sei que a pedra criará raízes
e voarei além
Rio, setembro de 2013.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
MARÉ
cresce a maré
lenta move a linha do horizonte
escura sob a Lua
o ar distila gotas microscópicas
à vista d'olhos
o volume se agiganta
e o silêncio surdo
desaba sobre a areia branca
então nada mais é movimento
exceto o silêncio renovado
de nova onda
sobre a areia derrotada
Rio, setembro de 2013.
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
TOANTE
um poema habita o toque de meus dedos
fiel a mim mesmo
súdito de tais toques
tudo é possível
nada é falso
(temo por isso o que digite)
pedra sólida
em que me refugio
como fonte e torrente
em busca da palavra cujo único som
toante ao nascer do sol soa solene
o poema
Rio, setembro de 2013.
domingo, 15 de setembro de 2013
FIM DE INVERNO
nítido azul claro dia
fora de mim ganha-me assim
como a brisa que arrefecida sopra
fresca e dolente e se conserva clara
na fina estria da areia branca
derramam-se verdes ondas
então grisalhas
dissimulando frias arrepiados corpos
apolíneos bronzes
em pranchas breves sobrenadam agudas
enroladas vagas
tingindo em cores o mar diamante
é fim de inverno
Rio, setembro de 2013.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
MAR
prata o mar à distância
na contemplação fria
água aquecida sal
qual metal estendido
rítmo e ondulação
pesadelo do barco só
singrando a lonjura do nada
dura distante [há] vida
feita areia branco e pó
sob o sol
sensual
Rio setembro de 2013.
O CONHECIDO
seria inverso viver como um deus
com o poder da criação
para mudar a premissa do não
à vista o destino sentido
reconhecido no horizonte e à mão
um projeto antecipado à luz da razão
e se os olhos bem olharem
se os ouvidos ouvirem
ver-se-ia clara a força da invenção
perenes sentidos sentiriam o tempo
o mesmo tempo da vida
e viveriam de planejar antes de criar
o que pode ser tem o poder de ser
focado na idéia clara
do que virá a ser
precisa razão tranquilo coração
não se perderiam no prolixo da especulação
no limite preciso do fim
Rio, setembro de 20013.
O DESCONHECIDO
não quero o futuro desconhecido
mas o horizonte de-fi-ni-do
a que me destine com precisão
é difícil sobreviver com o não
da perspectiva invertida
que impeça a construção
são tranquilas as horas sensíveis
da visão do previsto em sua forma ideal
em que posso errar sem hesitar
são a pintura visível da construção
que incita a criação
e dá ao traço a leveza da intenção
quiçá porque imitamos deuses
em cores definidas reta
curva da imaginação
não não quero o desconhecido
(se é que posso querer)
diante do desafio temo não saber viver
Rio, setembro de 2013.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
ABISMO
fiel não sou exceto a mim e ao que sou
tenho mantas de mim auras
colorindo a alma
fiel porque muitos
entre auras e almas
que não me disputam
que não desafiam
neste frágil e incerto mundo que habito
no fim nada serei
no deserto de um futuro não sabido
nem infiel diante de todos
nem fiel
só o abismo
Rio, setembro de 2013.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
POESIA
te escrevo poesia como quem dorme
deixo atrás pensamentos
suspendo a rotina
cessa a ciência
a ideia voa no sono
sou eu e nenhuma consciência
despede-se a vontade
nem amor nem ódio
tampouco tristezas
às vezes alegrias
mais nada
palavras
é quando nada vejo
e só comigo
desamparado
indiferente
aguardo a frase desconhecida
que se revela em sonho
como tu és
não produto do que sinto
nem razão
mas poesia
Rio, agosto de 2013.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
BREVIDADE
"breve tudo" diz o poeta
breve o tempo breve a vida
breve cada dia
breve a Paz que buscamos
breve o entendimento
breve a obra
se a temos
eu me refugio nessa brevidade
para fazê-la eterna
breve eternidade
assim pensado penso no meu tempo
bem lembrado breve
alguns erros que deslembro
bons momentos
não me contradigo nas compensações
como uma concha volto-me a mim mesmo
a minha casa
e no breve tempo que me resta
viverei meus dias
Rio, agosto de 2013.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
INDAGAÇÕES NADA METAFÍSICAS
como antecipar o verso
se não podes aprisionar a palavra?
como teu destino
involuntário
torna-se teu fado?
como construir o poema
a partir do nada?
Rio, agosto de 2013.
ADOÇÃO
o verso de que não preciso
impõe-se alheio
obriga a si próprio
nada o muda
e se faz filho
Rio, agosto de 2013.
CONTRADIÇÃO
o poema não é como sentimos
mas como o escrevemos
sem nem mesmo invenção no correr dos dedos
sobre o teclado frio
a psicografia do poeta consigo
impõe-se a cada letra devorada pelo texto
não há outro caminho
a releitura é a morte da expressão original
cada palavra conspurcando a frase
a autocrítica feroz
de que o sangue é a insônia
e o tédio da repetição
escrito não me recordo a alma
nada é real
não há verdade
a frase resulta da conveniência da composição
e o amor nem implica sentimento ou sentido
ainda que declarado à viva voz
piegas se o deixamos livre
mas
a curiosidade mata o tempo
e a releitura revela insuspeitos segredos
como a flor em botão
o poema ganha independência
perfume às vezes
e sua vida instila sentimentos
no que não se supunha tê-los
tudo é surpresa para o autor
que se reconhece nele
Rio, agosto de 2013.
domingo, 25 de agosto de 2013
UM POEMA
o instante salta pela janela
como a sorte busca o abismo
inércia do que se tem
fugitivo
do impulso restam coisas
como o vento frio
que sopra sobre as árvores
sob a janela
nem sorte nem instante
senão a paz imperfeita da insatisfação
derramada nesta folha em branco
talvez um poema
Rio, agosto de 2013.
O INSTANTE
nada trago comigo
nem lembranças nem medidas do tempo
fantasias uma
passageiro outro
e assim toco
inciente
no menor conheço o fato
sentido
captado com interrupções
em meio a amores
ou sem amores
sem paixões
máximo do gozo
no mínimo de tempo
o tempo passa
não o contenho
o gozo é átimo
do passado nem lembrança
vale o instante consciente
dirão que têm memória
do que desacredito
a memória tende ao sonho
revela-se em lembranças soltas
inconscientes
mas há gozo sem paixão
orgasmo sem amor
sem o momento de excitação
- perguntarão
não penso em lembrar-me
- respondo
o instante foi consumido
curto o gozo
a memória se desfez
lembrança é difusa
o tempo tudo desfaz
resta o instante
Rio, agosto de 2013.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
PONTO E VÍRGULA
para Nydia Bonetti
ah árdua gramática
tu és a regra que nos ensina as coisas por dentro
mas o poeta ama as palavras
e os interstícios que a regra fria não sente
Rio, agosto de 2013.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
NÃO SE PERDE O TEMPO
a linguagem do tempo tem sabor e graça
tem o dom do nada e o sabor de tudo
não é senão a vista do alpendre largo
de que se descortina a vida
instantâneamente
o sabor é leve
pode ser intenso
e a beleza presente no seu estro
está aí a graça
mas
disse alhures que o tempo é vento
que rasteiro voa e ligeiro passa
traz sempre novas
ensina a cada passo
agora digo o tempo é mais que espaço
sôfrego sorve
não acolhe passa
e bem sabemos só nos deixa o rasto
se lhe roubamos o instante
poder-nos-á caber o abismo
ou bem possível um horizonte azul
é breve a tão longa vida
onde tudo cabe
a sete chaves
o tempo curto é capaz de tudo
o largo espaço que da varanda vemos
é o que temos
o tempo é que nos perde
Rio, agosto de 2013.
ORFEU QUADRADO
a Ronaldo, meu irmão
não voltarei a face atrás para cantar passado
o que me encanta ainda na lembrança
é o tempo que alheio a meu presente
só me faz chorar ao vento do futuro
mas
não serei extinto por olhar atrás
tenho ainda a lira
tenho a melodia viva que compus no tempo
tenho quem a cante a me fazer contente
perfume doce de momentos vivos
de meu passado guardo cada instante
com sabor e cheiro
do que foi meu inda que breve
Orfeu não sou nem tenho Eurídice
mas amo a ideia da busca do passado
na memória cheia sobre fertil fado
tenho saudade mas não sofro dela
sei que vivo e só o tempo perde
quando rasteiro voa e velozmente passa
como de si arrependido
por não ter vivido
não há futuro mas soma de presentes
solene tempo de sonho sem projeto
"o fado cumpre-se" diz-me o Poeta
mas "eu me cumpro" no instante breve
Rio, agosto de 2013
sábado, 17 de agosto de 2013
A IMPERFEITA VIDA
encerro a vida como quem não começou
apaixonado e carente desejando mais
nunca saberei o que fui
tal como não sei o que tentei
tudo me parece igual no final
nada ou quase nada resta a dizer
exceto que eu amo
exceto que eu quero
exceto o pensamento pronto
para o que vier
o passado é galardão em caixa fechada
ressalto nele a experiência
que agora não me serve de nada
honrarias trabalho recordações condenadas
livros não lidos escritos não terminados
romance de interior catalogado
célebres ou perdidos na desmemória
restam alegrias embaçadas
no tempo que não retorna
o presente é fugidio
cada dia na intensidade adequada
para não perder o fio
da meada que se enrola
passa e desaparece
no momento mesmo que acontece
é imperfeita a vida
salvo no sopro em que ligeira passa
salvo no instante iluminado em que se ama
a própria vida
salvo no vigoroso teste da esperança
salvo
salvo em tantos momentos
de que desisto porque desaprendi de viver
Rio, agosto de 2013.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
TEMPO DE PARTIR
o reboco conservado
cobre a pedra bem cravada
paredes retas
desgastadas mas tratadas
a alvenaria antiga resiste
chuva sol vento geada
é dentro que a vida cessa
no interior apodrecido
caos de passado
fios e dutos despelados
entranhas como é por dentro
reviradas
a vida quase não fala
Rio, agosto de 2013.
DESNUDANDO O MUNDO
tudo o que nos dá o mundo
é o que nunca terei
cumpre-se aqui o fado
cujo fim não saberei
deslembro o que passou
apenas sei que passou
imensa é a hora
breve o tempo
que nos desabraça
em sua passagem
como brisa como vento
gradual
nesta existência dilatada
enquanto dura esta matéria gasta
alheia a mim a vida é uma alvenaria
estranha e fugidia
de paredes caiadas
onde cabe só o pensamento
do sono perfeito a sobrevir
desnudo sedutor e frio
embalsamado
Rio, agosto de 2013.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
TUDO E NADA
por vezes o mar escuro* noite a dentro
é abismo onde me afoga a solidão
do fim de existir
busco a razão de chegar onde cheguei
nesta planície quando pouco resta a desvendar
exceto o mistério de tudo
e a validade do nada
é muito pouco para continuar a viver
*diante de minha janela
Rio, agosto de 2013
PASSAR PASSANDO
o rio escorrega pelas pedras
leva o segredo bem guardado
de passar rondando poços
lento quase devagar
por quê apressar
se a planície é rasa
e o homem nem presta atenção
as águas sabem onde vão
Rio, agosto de 2013
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
ANA LUIZA (a luz do luar)
para Ana Luiza
no seu aniversário de sete anos
você trespassa minha vida
como o luar que alumia
a varanda de meus tempos
por onde entrou o seu amor
vi-a nascer enquanto renascia
por seus dons e encantos
a beleza
de ser primeira a inspirar meus versos
com você tomei as primeiras lições
de ser avô
Beijarei você (ternamente) no seu dia (12.08)
Rio, agosto de 2013
domingo, 4 de agosto de 2013
FUGA
por essas e outras coisas
tudo quando termina
tira um pouco do senso
de quando começou
tenho a memória do ritmo
e do som dessa água
toda a agonia do rio
uma só vez a passar
mais além do outro lado
à distância que está
tão perto tão longe
o inútil inquietar
sinto a tensão
da energia e da sombra
sob a terra macia
onde não há desafio
esse é caráter da fuga
sem resposta na curva de ida
essa não é outra coisa
mas ela mesma sentida
Rio, agosto de 2013
sábado, 3 de agosto de 2013
AUSÊNCIA
a noite desiluminou a lua
da janela o mar rola suas águas
em ondas intuídas sentidas
deste lado jaz o silêncio
enquanto a memória busca ideias
que se esvaem no tempo
inconsequentes
é noite surda sem presenças
Rio, agosto de 2013
VERSOS
versos nunca são meus
palavras estranhas a minhas mãos
surgem ressurgem uma outra mais outra
sob meus dedos
perdidas sobre um papel
qualquer
Rio, agosto de 2013
PALAVRA
no papel a palavra trespassa
o eu que escrevo
inércia sem ritmo ou sonoridade
na vastidão infinita dos sentidos
impulsos sobreviventes
onde me afogo
Rio, agosto de 2013
sexta-feira, 26 de julho de 2013
FANTASMA
"vô, fantasma é de verdade?"
[Alice, cinco anos]
ah fantasma deixa pra lá
tu não és vero
que lençol branco
que sombra
que vento frio
que estalido
que ruído
que nada
não me venhas com barulho
só assustas quem não vê
tu és mesmo lero-lero
Rio, julho de 2013
NETOS
tem a vida um sentido
perguntam todos
e assim tem sido comigo
no que sou igual
estupidamente igual
a deixar que os dias passem
nessa torrente
mas
quer eu pense em vão
ou não
na tarde desse inverno
o sentido de vida ousa
contar quatro múltiplos de dois
filhos cuja lembrança ainda acarinha
a nos dar netos
magia de crianças
pequeninas duplicando o tempo
cariciosas voluntariosas
um a um uma esperança
um bem um bem estar
da mesma voz
que nos embala estridente
meiga branda nunca triste
de multiplicadas esperanças
Rio, julho de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
SONHO
o sono ganhou o sonho
gradualmente
primeiro os olhos fecharam
pálpebras vermelhas de cansar
hesitou
depois ganharam a noite
sem pestanejar
e o sono dormiu tarde
mas sonhou
Rio, julho de 2013
quarta-feira, 24 de julho de 2013
A NOITE DE MEU TEMPO
fantasma de magia incerta
o sonho é pálida luz no sono
como passeio noturno sem destino certo
durmo desperto desmaio diante da razão
que me faz viver de esperar
o que a fantasia não trará
sou noite em parte do meu tempo
beiro o real e quase esqueço
o essencial do que preciso
no vácuo entre o que sou
e o prazer de ser
Rio, julho de 2013
segunda-feira, 22 de julho de 2013
A NOITE ILUMINADA
[recuperando versos antigos para Beatriz Azevedo]
a noite que pressinto é clara
vem do azul profundo a luz que a alumia
na espreita malandra da aurora
atrás em céu escuro
da luz de estrelas
irmãs do sol que ignoram
a noite rege o coração
não o que bate sessenta e três vezes por minuto
não o que sangrento tinge quadros santos
não o coração que nunca tem razão
mas o coração que ama
racional e intelectualmente a vida
sim às noites sou apaixonadamente claro
os olhos encantados por constelações de amores
humanamente decidido a viver a vida
como antigo marinheiro sobre a gávea
a encontrar versos nos cais distantes
e a magia iluminada de pensar poemas
Roma/Rio, janeiro de 2003/julho de 2013
domingo, 21 de julho de 2013
DIA E NOITE
suave a noite descansa de seu dia
ouvindo-a pressinto a calma que irradia
o sonho confirma o sentimento
e o compasso da brisa sopra estrelas
que iluminam o céu escuro
como vidrilhos a guardar
a-va-ra-men-te
a luz do sol
são sóis elas mesmas a piscar distantes
o som do vento sideral que as guia
ouço-as tranquilo e vivo a fantasia
do dia que me espera
Rio, julho de 2013
sábado, 20 de julho de 2013
NOITE E DIA
o tempo estilhaça o fim da tarde
a noite ávida devora
um céu que não resiste
sangrento mudo deprimido
e morre o dia
constelações em pranto
choram noturnas o tempo humano que reluta
soa distante réquiem
solene sentimento que celebra a morte
mas anuncia
mis-te-rio-sa-men-te
um vago sopro de futuro
a chama resistente ainda acesa
transforma em suave melodia
a manhã que incendeia
e nasce o dia
Rio, julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
SONO RADICAL
nem mais nem menos
ou tudo ou nada
neste sonho que o sono traz à vida
tanto desejada quanto pressentida
o resto é claro dia
Rio, julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
NOITE E DIA
em tons vermelhos o céu apaga o dia
alegrias e tristezas passaram pela estrada
alheias através das horas
que o sol da manhã à tarde percorreu
ficção a lua que já brilha
clara recolhe mágoas
sombreadas vívidas mortas
abandonadas
à lembrança fria que as viveu
é mais um dia que a noite desafia
insepulto fogo fátuo
no sonho de um sono não seguro
que desperta e dorme a hesitar
Rio, julho de 2013
PONTOS CARDEAIS
velas ventam a tarde azul
sopram silêncio no horizonte
refletem prata
e a maresia sob o sol
dourada
tudo em mim são elas e o mistério
da perfeição entre céu e mar
destinada sem estrada
exceto pontos cardeais
Rio, julho de 2013
PASSAGEM
o ruído pertence ao silêncio
do que sou
crepitante o fogo continua a vida
na visão desassistida
do racional transformado em erma estrada
passo a vista sobre o dia-a-dia
e não alcanço a distância no horizonte
futuro sem guarida
e o passado a ilusão de haver sido
vão sentido de existir
o que sonhei não será mais
o momento de chegar é a partida
não estarei outros não sabem
ou não cogitam
sei
que em pouco não serei
Rio, julho de 2013
quarta-feira, 17 de julho de 2013
VIGÍLIA
não se constrói na escuridão
a noite fria sem constelações
não permite o sonho
nem o sonho sobrevém ao sono
da meia vigília de viver
pudesse eu dizer que existo
a consciência talvez me liberasse
do limbo de não ver
sombras à margem do real
o verdadeiro quem sabe
de onde estou
foge a linha do horizonte
o caminho que não se abre
segue
em vão
Rio, julho de 2013
TÉDIO
tudo que eu poderia dizer
leva a nenhum lugar
mas o sol brilha impiedosamente
onde no espaço da luz
vela sobre a matéria inútil
o tédio da alma
que sem tempo deixa correr o tempo
sobre o mesmo olhar
de uma saudade lancinante
do que se foi
Rio, julho de 2013
Assinar:
Postagens (Atom)