quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

UMA FÁBULA



em algum momento passado
abri uma caixa de surpresas

a umidade de um mangue
não prometia razões
exceto um ser cuja origem não parecia ser dali
e parecia trazer novidade
na pobreza alarmante do lugar

não me detive era dezembro e fazia calor
mas a imagem ficou do ser
que ainda nem era
dissimulado no meio de folhagem e do barro
das ruas e casario pobres

mas a surpresa que havia na caixa
era a maçã de Adão
ainda verde
rústica na aparência
folhas verdes empoeiradas
areia e água

fui-me e voltei
uma fruta como a maçã não é só forma
é polpa e sabor
colhi-a na dúvida essencial
e tratei-a ainda a duvidar
era irreprimível 
era irredenta

o tempo que é maestro trouxe a transformação
ventos bem vindos sopraram conteúdo
e a maçã verde amadureceu

presenciei tudo isso por vezes perplexo
outras ressentido 
porque não desvendara o segredo
da caixa e do que fosse a maçã

o tempo a sorte a bonaventura ajudaram-me a entender
e da linha que me havia traçado
apoiado por bons deuses 
esculpi parte da maçã que era doce
de verde a madura rósea e vermelha a fruta eclodiu
seu sabor sua beleza sua vida

não há razões de desatenção
para caixinhas de surpresa
mesmo que descoberta no mangue
não há desprezo possível
a maçã é maçã onde quer que se a encontre
nenhuma surpresa
que se lhe dê tempo e o polimento final e lá estará a mesma fruta de outras
seu sabor sua beleza sua vida

Rio, janeiro de 2014.

O MAR E EU



há tantas vidas no mar
não apenas ondas vagas
talvez aí se encontre o início de tudo
talvez de lá venha o fim 
interminável parece a superfície do mar
vejo-o todo dia é meu refúgio
vem com suas ondas marulhar à beira da praia
ouço-as atentamente
trazem mensagens que me alimentam o dia pela manhã
deixam ideias que povoam meus sonhos à noite
e tudo cria ou destrói
não há só ondas no mar

Rio, janeiro de 2014.