domingo, 23 de agosto de 2009

MAR AMAR







o mar que vejo da janela separa-me
de tudo que há do outro lado e dos barcos
que navegando se vão

uns que vem não me chegam
os que ficam estão vazios
quase nada me dão

o mar da minha janela é macio
derrama-se em longas vagas
assim como este cantar

longo é o mar curta a vida
nem tormento nem tormenta
ele me afaga e me guarda
quando me ponho a sonhar

o mar é bem minha vida
exausta e querida

canto o mar
sei que ouço seu cantar
e bem dentro de mim
escondo todo penar

amo
adoro esse mar
que me ensinou a amar


Rio de Janeiro, agosto de 2009



COMPASSO






tocando no meu compasso
vou vivendo
vou vivendo
cioso de meu espaço
vou ficando
vou demarcando
teimoso no meu passo
vou andando
vou correndo
contente com o abraço
vou amassando
vou apertando
cansado desse cangaço
vou descansando
vou-me deixando

aposento-me do que faço
que alegria
que nostalgia

e terei no meu regaço
duas faceiras menininhas
que só as duas são minhas!

[Alice e Ana Luiza netas minhas metas]


Rio de Janeiro, agosto de 2009




ODISSÉIA NO ESPAÇO - 2001









MEU DECÁLOGO

I


penso por exclusão

em paralelo

do que sou

convergente

em linhas divergentes

destemido

mas hesitante

insistente

reconhecido

desconhecido

incongruente

e quem sabe já vencido


nada do que procuro acho

nem nada nem ninguém

II

não penso

pra que inteligência

só p'ra ser

o que não sou?

III

no vazio

talvez me encontrasse

perdido nesse deserto

de sentimentos incerto


IV

olho-me no espelho

o espelho me olha frio

são olhos que me ignoram

a mover-se ao avesso

V

a emoção não me toca

são os neurônios

sinapses

que se chocam

VI

sinto mas

não sei dizer o que sinto

VII

a circulação não garante o coração

VIII

minto enquanto penso

assim não sinto

se penso sinto e minto

assim não penso

IX

o corpo deixa a alma

se não vivo

X

corpo

desejo

sexo e sensação

e onde fica o coração?



NYC, agosto de 2001






SOB ORIENTAÇÃO SUPERIOR









[de um comentário do poeta Filipe Couto]




"...eu não conheci ninguém parecido com você nos meus trinta anos..."

um amor idealizado
fora do tempo
é sonho sem itinerário
de um instante passageiro

que nos remete à fantasia
[na boa!]


para esse pequeno instante
valho-me da poesia


e a canção dos trinta anos é pura nostalgia
de um sonho sonhado à toa...




ou como quis Filipe




"Um amor idealizado,
fora do tempo,

sonho
de um instante passageiro,

remete-nos à fantasia."





Rio de Janeiro, agosto de 2009