[depois de uma roda política na TV]
toca-me a incapacidade de dizer
qualquer coisa simples
frases ou palavras
que ninguém lê
na noite que chega obscurecendo idéias
[brilhantes?]
no anoitecer simultâneo da auto-crítica
a casa em silêncio cala-se
a rua não raro ruidosa
morta
e eu discuto entre mim e eu mesmo
a inutilidade de tudo
ouvir o silêncio pensar o vazio
completa o dia
e passo a noite a imaginar o que está por vir
do nada que deságua
em mar de imensa nostalgia
saudade inconsistente permeia esse vagar sem tempo
ou qualquer mágoa
de quando me ocupei de conceitos
sobre árabes e judeus
e absolutamente nenhum deus
isso de defender a pátria foi importante
ocupou-me por instantes
a razão em busca da emoção
de sentir próximo
o que era distante
olho sem opinião novos atores
e o cenário é o mesmo
que repete antigas bravatas
na eloqüência
da mediocridade dominante
que me rouba o sonho
mas não impede o sono
escrevo em busca da idéia
do sutil ruído
e-xas-pe-ra-da-men-te
vida
movimento
ou criação
mas a realidade não alimenta esperanças
mais além deste lamento...
Rio, abril de 2010