terça-feira, 10 de outubro de 2017

INSISTENTE SOLIDÃO


o que mata é a solidão
não a solidão de estar só
mas a solidão da alma

não sou triste
basta o sol
para me fazer sorrir

mas o sorriso é um adeus
que pesa em mim
na longa espera
arrastada e sombria
de um momento que não sei
distante interrogo-me
bastante como um pesadelo
ou como um sonho que se perde
e não deixa rastro
nem é meu

a inutilidade dói
nesse tempo sem tristezas
à espreita apenas
do indesejado evento
tão próximo quanto distante

resta a memória da vida vivida
sonhada e esquecida
pois não volta mais

a natureza é assim
nada do que passou é meu
apenas passou por mim

foi um tempo bom
de que me lembro e não vejo mais
tempo pleno provado sentido
da esperança viva
da construção do futuro
hoje apenas sombra
uma incerteza

a vida entretanto não exige certezas
mas a imagem de Pasárgada
a cidade sonhada

embora a estrela do poema luzindo
a vida é vazia
nada acontece exceto o sonho
de um passado ausente no presente
isso é insistente solidão

Rio de Janeiro, outubro de 2017.