se escrevo é porque não sou indiferente
sinto pressinto guardo comigo
o que a palavra não consegue expressar
mas o amor acontece expressamente
nos cinco sentidos físicos
na intuição e na clarividência
um dia desaparecerei
ninguém mais vai me ver
desolados poucos ficarão
e naturalmente logo esquecerão
seja como for ainda estou aqui
na forma que fisicamente sou
naturalmente como me vejo
e sei que existo
dos amores que tive
restará saudade
dos inimigos que alimentei
cuidará a eternidade
Rio, fevereiro de 2012.
dura porque tem de durar
acaba quando tiver de acabar
ao longe vejo um navio no mar
e gaivotas que o seguem atrás
sei que um dia passarei além
e nada mais fará sentido
exceto que razão não há
para me despedir
voarei o voo longo de não mais voltar
mas a lembrança do que deixo
ficará no mar
Rio, fevereiro de 2012.
sei o que penso mas não é uma ideia minha
sei o que quero mas vou onde Maria queira
sei quem sou mas às vezes acho-me estranho
sei quando é dia mas confundo-o com a noite
sei que é noite mas sonho com o dia
sei tanta coisa mas nem todas sei
sei que tudo acontece concretamente
mas vivo abstratamente
alguém que é e não é
porque embora viva muito bem
às vezes sinto-me mal
sou eu e meu oposto
eu e o outro
o outro sou eu
e desço o rio da vida que muitas vezes é mar
Rio fevereiro de 2012.