sábado, 17 de maio de 2008

VERSO

há sempre um lugar onde o verso deixa de ser poema
Londres, maio de 2008
!

PRECE




Abri-me novamente olhos adolescentes
para fazer tardia a chama nascente!

Londres, janeiro de 2008.

TERRAÇO



À frente de minha janela o terraço
balança a velha senhora
que expia sua culpa

sensitiva
sem jamais sair de lá

ao lado de uma janela dorme um gato
a preguiça secular dos gatos
que finge morto

soam sinos sibilando
o dia que o sol dourou
para a penumbra que já se faz
em baixo na ruela estreita
de vida tão pequena
que a senhora espia em agonia

os cabelos argentinos ao sol dourados
cerra os olhos à claridade
que se vai agradecida
com o calor do dia que adormeceu o gato

abandonada contra o escuro
abre os olhos
beija a sombra visível
para não ver e não saber
se os olhos cegos
ainda tem vida

Seis horas seis dias seis semanas
tristeza
anos de solidão solidão senhora
na desmemória
do passado sem futuro de seu dia

a cena repete-se sem alegria
e reincarna a velha senhora
em suas fantasias
vazias

Roma, setembro de 2004.

TRISTEZA




Não te quero tristeza
não te quero
não quero o medo que trazes
ao meu triste coração

triste mundo triste sina
triste vida triste tudo
que as musas não me assistindo
triste vou resistindo

sonhos não me fazem bem
morro de triste sabendo
que triste não tenho ninguém.


Roma, janeiro de 2004.

NÃO AGORA



[uma canção]


Não, não digas nada,
velejo bons ventos,
o vento sopra sereno
e a gaivota sem medo
tem a pena de voar,
não sofre por não pensar.

Nada digas. Não é a hora,

não agora
meu barco veleja ameno
outra vida é outro mar.


Rio, janeiro de 2006.




CANTIGA DA MORTE



[e da desesperança]

Não há mistério na morte,
há sofrimento na dor,
que para mim é lembrança
de um tempo de muito amor.

Sinos não dobram à sorte
da alma que já se foi
choram a desesperança,
aquela que vive e ficou.


Rio, janeiro de 2006.

CANTIGA



[desengano e paixão]


Oh Senhora que me tens cativo de teus olhos claros
que não me olham nem me verão
oh minha musa tu me tens passivo
triste só comigo
verdade que não dirão

oh bela dona porque não me vês
com teus olhos cheios de razão?
Flechas que não se dirigem nunca chegarão.


Rio, janeiro de 2006.