sábado, 17 de maio de 2008

TERRAÇO



À frente de minha janela o terraço
balança a velha senhora
que expia sua culpa

sensitiva
sem jamais sair de lá

ao lado de uma janela dorme um gato
a preguiça secular dos gatos
que finge morto

soam sinos sibilando
o dia que o sol dourou
para a penumbra que já se faz
em baixo na ruela estreita
de vida tão pequena
que a senhora espia em agonia

os cabelos argentinos ao sol dourados
cerra os olhos à claridade
que se vai agradecida
com o calor do dia que adormeceu o gato

abandonada contra o escuro
abre os olhos
beija a sombra visível
para não ver e não saber
se os olhos cegos
ainda tem vida

Seis horas seis dias seis semanas
tristeza
anos de solidão solidão senhora
na desmemória
do passado sem futuro de seu dia

a cena repete-se sem alegria
e reincarna a velha senhora
em suas fantasias
vazias

Roma, setembro de 2004.

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