"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
sábado, 9 de abril de 2016
OFÍCIO DO VERSO
talvez amanhã o sol se faça
e eu comece a pensar versos
diante do mar aberto
logo ali debaixo de minha janela
embora outono
sempre os domingos
têm um ar de verão
e aquilo que eu veja
nem seja o sol
mas o pasmo essencial
e sentado aqui escrevendo
que ideias dirão as palavras
não me perguntes
que pensando em tudo isso
versos virão como ondas
nesse ofício dos versos
não importa a estação
é como ser não sendo
ardência do coração
não importa o que escrevo
é tudo simples e chão
entre o sol e o pasmo
diferença não há
tudo é igual
o que lês é diverso
nem sempre simplicidade
algumas vezes é barco
outras é triste
demência da solidão
Rio de Janeiro, abril de 2016
ESPANTO
pasmo diante do inusitado
mesmo à sombra do passado
mesmo entorpecido pelos fatos
perplexo diante do banditismo
dos traficantes do asfalto
dos assaltantes nas praias
dos governantes petistas
sem ignorar os fascistas
e alguns meritíssimos Ministros
enquanto a história
como farsa
nos espanta cada dia
Rio, abril de 2016
sexta-feira, 8 de abril de 2016
DIA DE SOL
há dias ensolarados que nos desafiam
ondas verdes marcam o compasso
da gente na areia branca
na adoracão de corpos
morenos
é preciso ser jovem para saber o que pensam
a personalidade que ostentam
na divagação ofuscante do horizonte
sentindo a existência apenas
que compreensão um poeta místico
pode buscar desse recolhimento exposto
senão o que vislumbra de uma janela aberta?
que beleza há nesse conjunto
de sol e corpos no marejar distante
em versos que fluem ao sabor do vento?
Rio de Janeiro, abril de 2016
quinta-feira, 7 de abril de 2016
'DIVAGAÇAO
submetido à cura de ser quem sou
busco forças neste crepúsculo
para traçar o caminho que me leva ao despenhadeiro final
assim me encontro próximo da linha derradeira
matéria viva a ser em breve vencida
não me impressiona a curta linha
sou mortal nasci assim
tampouco nutro sentimentos falsos
sobre a indesejada de tantos
amiga de diálogos francos
que não torno íntimos pelo rigor de suas sentenças
todas finais
recordo meu tempo com amor
não dispenso dele a alegria
diante de barreiras eliminei preconceitos
para entender o mundo ao sair dele
no que foi deliciosa jornada entre lugares distantes
conheci gentes línguas estranhos costumes
enquanto a terra mudava de cores
do inverno branco à primavera florida
que me trazem à lembrança os campos da Sicília
seca e saborosa árida e aconchegante
e o mar circundante azul de gaivotas estridentes
sol a pino sobre as colunas de Agrigento
rosas esfarelando nos séculos sua grandeza
Ah deuses que não renego espero força
que me retorne às doces uvas quase passas de Thera/Santorini
que me faça livre
à beira da cratera sempre Thera
vulcão solitário em pleno Egeu
livre nos sonhos que entretenho
serei livre
Rio de Janeiro, abril de 2016
domingo, 3 de abril de 2016
PERPLEXIDADE
se a vida pudesse resumir-se em versos
viveria os versos
e duas vezes entenderia as coisas
como nos versos
como na vida
nos versos a rota clara
vida no mar revolto
que é da diferença
penas no ondular bravio
palavras obscuras no poema em versos?
mas sou um só
e de minha vida retirei os versos
que em um poema uma vez escritos
não são meus
e os dias de uma vida terão sido seus?
que me traz o pensamento
nenhum conhecimento?
talvez no fim
que já não tarda
entenderei o que foi de mim
Rio de Janeiro, abril de 2016
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