sábado, 8 de fevereiro de 2014

O ENCANTO



amo a vida 
cruzei-a sem pensar no tempo
como talvez faça a gaivota flutuante 
o seu branco imaculado dançarino sobre azuis
assim no espaço abstrato 

dialogo com a memória
ou lembranças fugidias talvez

vivi porque nasci
nem soube como me foi dado o prêmio de nascer
onde e como
quanto pressentimento
quanta voz cantei
para tentar ouvir o mundo
mirando-o no vôo solitário

como é sonhar 
sempre indaguei em pleno sonho
dos momentos entre a aurora e o poente
como é sonhar o sonho da noite escura 
perguntei-me
no uso pleno da razão

tenho respostas sensíveis que não pretendo desvendar
o sonho de meu fado
e o destino de quem me suceder

tenho indagações nem sempre inquietas sobre quem sou
ou me tornei

amei intensamente meus amores
quem me acompanhou
quem me acompanha
quem de mim resulta ou resultou
quem pude formar segundo a percepção
da experiência vivida
da emoção pressentida
um resumo de existir 

como um relâmpago tudo se esclarece por um instante
no escuro do entendimento
quão sem sentido é o espaço e qualquer medida do tempo
perdidos entre estrelas e planetas
a colidir por vezes com o mal
tentando convergir com todo bem
difícil a opção
certeira a pretensão

tenho a saudade de tudo
onde se encontram as almas
uma certa inveja da esperança
que nem é nem dura
mas persiste

vejo à distância a revoada do branco
que se confunde no horizonte 
na estreita fímbria entre o céu
e o mar presente

esse é o encanto

Rio, fevereiro de 2014.