triste o tempo
que como nuvem passa
e nos engana ao parecer ficar
era eu pequeno e alimentava sonhos
que ventos desfaziam
em nuvens brancas a se movimentar
mas sonhos ficam e as nuvens vão
e nada esqueço da magia de os fazer reais
aos quinze anos conheci o amor
e o amei como à beira-mar
ainda hoje sinto-me amar
aos vinte anos já estavas lá
a me dizer tranquila
espera
o que tem que ser será
entre os vinte e trinta
e-xas-pe-ra-da-men-te desejei
o caminho do saber
em busca da razão de ser
duvidei do sonho
para viver o instinto
distanciando o amor e a razão
falsas escolhas que o tempo fez passar
tudo foi sonho
pois tempo houve de abrir janelas
deixar entrar o ar
e a verdade
uma de cada vez
ah que saudade tenho
de todos os enganos e todas as certezas
de toda perda e de todo ganho
que afinal me diziam tudo
sem mo revelar
deixo o passado resguardado à sombra
para saber o que de bom me trouxe
e tudo o mais a não reviver
ah que saudade dos meus vinte anos
a velha mangueira ainda está lá
acariciando a lua
contando estrelas
desse tempo enigma que nunca decifrei
Rio, julho de 2011.
[1] Frase de Fernando Pessoa:
"...Vaga história comezinha
que, pela voz das vozes, era minha...
Quem sou eu? Eles sabem e passaram..." [n.608; 1928]