segunda-feira, 7 de maio de 2012

TESTAMENTO



colhendo ventos passei parte da vida
não vieram tempestades
mas nada guardei do que colhi
e pior
escaparam pelos fundos
a zunir


comprei um cesto para água
busquei água pura da fonte
cuidadosamente  
mas o cesto permaneceu vazio 
criteriosamente 


assim ao aproximar-se o fim
deixo em testamento
um saco de colher vento e um cesto
com a condição
de que meus herdeiros
lembrem-se de mim


Rio, maio de 2012.






RIMA?



fui ler Drummond e aprendi que gula rima com medula
espinhal óssea supra-renal
mas não entendi onde entra a gula
talvez como excessiva fome essencial
ou será o gosto especial com iguarias


na dúvida voltei a formas livres 
de poetar em versos sem rimar
esgrimindo palavras
entre conceitos sabidamente líricos
como dor e amor
tristeza e beleza
ideias e prosopopeias


mas ironia
de repente percebi que rimava
[aqui atrás]


repus a máscara
sério sorri


Rio, maio de 2012.