"...vida esperar pudera esta cativa/
vida já quase em lágrimas desfeita/..."
[Camões - soneto 191]
I
...tua alegria à tarde sopra
a borboleta de meu sonho
II
..é plena de amor a tarde
olha o céu
ainda arde
III
vivo o sobrevôo refletido
antes da partida
IV
...à tardinha quase noite
alguém insiste e bate à porta
deixo
e o rumor dos passos esmaece
V
pudesse eu trazer de volta todos
ou apenas alguns
como outrora caminhando juntos
então eu viveria tudo novamente
VI
trêmulo neste frio íntimo
reconforta-me teu calor
assim como és
afastando o inverno
VII
flutuam em minhas pupilas
lembranças
VIII
nasci antes de ser
não partirei sem viver
IX
ainda antes de tudo acabar
vivo a alegria de estar
X
tudo é como tem de ser
o caminho do vento é sutil
XI
aonde se esconde a noite quando brilha o sol?
XII
os sons do infinito
não ressoam
na alegria do finito
XIII
e de repente da antiga trilha
fiz novo caminho
XIV
no lusco-fusco do entardecer
ainda brilha
o amor possível
XV
luzes cintilam tímidas
e a escuridão não amedronta
XVI
e o caminhante caminha o seu destino
XVII
"...que o amor é um
não pode ser partido..."
[Camões - soneto 189]
Rio, janeiro de 2010