"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
sexta-feira, 31 de julho de 2020
VIVER
na solidáo de hoje
a consciência da vida
afinal
nosso único bem
anos de sonhos
tempo inútil vencido
mas morto o passado
estou vivo
das promessas de antes
sobrevive a esperança
de ainda haver tempo
à frente
e viver
Rio da pandemia, julho de 2020
quinta-feira, 30 de julho de 2020
DE REPENTE
um mundo inteiro
o planeta
mar
montanha
sol e lua
estrelas em negros céus
dia e noite
aurora
lusco-fusco do entardecer
mar e céu
incandescentes
o cão enrodilhado
o homem a mulher a criança
a vida concedida
diária instantânea
eterna
quisera ser mais que eu
sentimentos alheios
o poder da permanência
saudade olhando p´ra trás
para o lado por vez
futuro indagação
tudo é atenção
menos a morte
indesejada
de repente
Rio da pandemia, julho sw 2020.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
ESPERAR
esperar
esperar
esperar
esperar
esperar
isso é existir
esse é o mistério
existir para ser
esse é o mistério
existir para ser
tremo de todo segredo
ser o que
ser para existir
ser o que
ser para existir
essa é nossa sina
esse é o destino
esse é o destino
esperar o desconhecido
e manter interesse no presente
e manter interesse no presente
nem com esforço retorno
ao passado
nem com imaginação desvendo
o futuro
ao passado
nem com imaginação desvendo
o futuro
vivo o presente
e me reconforto por estar sendo
e me reconforto por estar sendo
Rio da pandemia, julho de 2020
domingo, 26 de julho de 2020
ESPERA
onde estou abro os olhos entre ruínas
ouco o eco das sombras
uma quietação
seres vivos ao longe
sem esforço
acordo
que existência resta
medo e a pergunta
o que sou e nada ser
porque tais fantasmas
intocáveis anjos
que busco na cumplicidade
de saber o mistério
que para mim é estar vivendo
e ainda ser
este momento
entre mim e a vida há este sopro
da espera
rio da pandemia
julho de 2020
sexta-feira, 24 de julho de 2020
PANDEMIA
Algum dia
Será outro
dia
E haverá
nova vida
E porque será todavia
Se não
esquecer o destino
Ou o fado
desconhecer
Poderemos viver
Sem qualquer
desatino
Quando os
deuses abrirem as portas
Na sequência
dos fatos
Quando chegar
a hora
Não sei se
me engano
Se sonho ou
se penso
Lembro que
pessoas cruzam caminhos
Quando
Se
Quando os
deuses
Se os
deuses
Nos devolverem
as almas
Comerei alcachofras
E talvez
Talvez a gente se encontre
Rio, julho
de 2020
DEPIDEMIA
pobres dias depidemia
preso-gente-só
hoje-um dia
o mesmo ontem
amanhã
que será
depois de amanhã
não não é por razão
chegou
que sensação
não serve de nada
importar-se com a humanidade
parada
lembro de tudo
de tudo esqueço
não consigo ser humano
ser humano morre
resta a nostalgia
de não ser
talvez matar-não morrer
pensar não pensar
o pecado de confessar
sentimento de mundo
deserto profundo
cheiro do mar
cheiro-de-vida
porque não me queixo
porque foi comigo
esse
viver para não morrer
vil viver
vileza de sobreviver
Rio, julho de 2020
sexta-feira, 17 de julho de 2020
ESPERA
lembro de tudo
a infância
a juventude
e o futuro de então
para me preparar e
esperar acontecer
e quase tudo aconteceu
a juventude
e o futuro de então
para me preparar e
esperar acontecer
e quase tudo aconteceu
vejo hoje o mar
é paixão contemplar
as ondas a vir e voltar
é paixão contemplar
as ondas a vir e voltar
da janela de minha casa
soa o marulhar
quando vai
quando vem
do lado de lá vem o sol
põe-se do lado de cá
dançando sozinho no céu
põe-se do lado de cá
dançando sozinho no céu
e o mar azul
e o céu azul
vermelhos
às seis para terminar
e o céu azul
vermelhos
às seis para terminar
é lindo o luar
que vem do lado de lá
que vem do lado de lá
o que fiz da infância
foi sonhar na juventude
foi sonhar na juventude
sonho ainda na noite serena
só
a esperar
o dia recomeçar
só
a esperar
o dia recomeçar
Rio de Janeiro, julho de 2020
quinta-feira, 16 de julho de 2020
DEMIA PAN
como eu
ia dizendo
quinta feira
ou
segunda
de maio talvez agosto
perdido
no mar
volta
a velha
angústia
doído
desperto
durmo
acordo
pandemia
lúcido
do
passado
sem presente
qualquer futuro
ah esse
coração
incerteza
inútil de não querer dormir
tudo
vale qualquer coisa
luar em
noite escura
lembra a
liberdade
só dói
liberdade
liberdade
liberdade
pesar de
pensar
no que
não é
nem será
cansaço
desde o princípio
sensibilidade
inutilidade
de
esperar
nem sei
nada sei
só dói
Rio de
Janeiro, julho de 2020.
sábado, 11 de julho de 2020
VIRUS
um blogger
internet
novo?
pra que novo?
no velho escrevia
hoje não
depois que escrevo
leio
de onde tirei isso?
aos 79 não sei quem sou
nem o que fiz
sei que passou
um virus veio e me aprisionou
mas não me prendeu
ainda
não sei de nada
nem da vida nem do virus
nem de nada
sei que estou dentro de mim
e o meu passado estacionou
estou livre
o futuro nem aconteceu
nada aconteceu
nada
há um instinto
e sono
recluso
um virus
mexcluo
hoje não
não sei nada
sei de um virus
um virus
um virus
um virus
mais nada
Rio de Janeiro, julho de 2020
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