sábado, 23 de julho de 2011

"VAGA HISTÓRIA COMEZINHA" [1]



triste o tempo
que como nuvem passa
e nos engana ao parecer ficar


era eu pequeno e alimentava sonhos
que ventos desfaziam
em nuvens brancas a se movimentar


mas sonhos ficam e as nuvens vão
e nada esqueço da magia de os fazer reais


aos quinze anos conheci o amor
e o amei como à beira-mar
ainda hoje sinto-me amar


aos vinte anos já estavas lá
a me dizer tranquila 
espera
o que tem que ser será


entre os vinte e trinta 
e-xas-pe-ra-da-men-te desejei
o caminho do saber
em busca da razão de ser


duvidei do sonho
para viver o instinto 
distanciando o amor e a razão
falsas escolhas que o tempo fez passar


tudo foi sonho 
pois tempo houve de abrir janelas
deixar entrar o ar 
e a verdade 
uma de cada vez 


ah que saudade tenho 
de todos os enganos e todas as certezas
de toda perda e de todo ganho
que afinal me diziam tudo
sem mo revelar


deixo o passado resguardado à sombra
para saber o que de bom me trouxe
e tudo o mais a não reviver


ah que saudade dos meus vinte anos


a velha mangueira ainda está lá
acariciando a lua 
contando estrelas
desse tempo enigma que nunca decifrei




Rio, julho de 2011.




[1] Frase de Fernando Pessoa:
"...Vaga história comezinha
que, pela voz das vozes, era minha...
Quem sou eu? Eles sabem e passaram..." [n.608; 1928]

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