domingo, 13 de setembro de 2009

MIYUKO HATOYAMA






há sóis como o poema
prismas na projeção do infinito

há sóis onde a alegria se aquece
como amor em dois minutos
[e nunca é muito]

há sóis que o calor não conhecem
sóis circulares
que o silêncio emudecem

sóis há
sóis para secar a roupa em varais
em tão distantes quintais

sóis da velhice sóis da infância
sóis infinitezimais
sóis da alegria e do amor
sóis do silêncio
sóis que sempre foram sal
sal do alimento



Rio de Janeiro, setembro de 2009.





sábado, 12 de setembro de 2009

[em construção]













editar é amar sem querer
os poemas postados hoje
em livro que não lerei
corto aqui troco palavras
crio recrio
odeio o que há por fazer


metáforas metástases
paráfrases metonímias
meto-me a frasear
metalinguagem
no drama de me acabar



moleque de recados
ouço palpites de todos
traidores como o diabo
corto aqui corto acolá
resta pouco do que senti


nem sei se sou poeta
nem ser poeta sei o que é
sou só eu mesmo e não outro
que escreve aqui como lá



sábado, 5 de setembro de 2009

MEL








que pena não ser Bandeira
para cantar a bebedeira
com a graça matreira
de um menestrel

na minha idade
falar futilidade
voltar à puberdade
não será fiel

e minh' alma lavada
nem será notada
por essa gente malvada
de bordel

melhor ser conservador
pensar no amor
e deitar minha dor
em potes de mel


Rio de Janeiro, 5 de setembro de 2009





sexta-feira, 4 de setembro de 2009

MAR ABERTO





o mar é meu poema
fantasia
ao alcance do olhar

está sempre perto
mar aberto
e é sempre longe
tão longe
que se confunde com céu

perto
longe
tão perto e tão longe
mas seu rumoroso silêncio
no claro do dia claro
é gesto de seu calor sensual




claro
escuro
o mar dá-me certeza
da noite eterna que chega

é isso
não não é isso
não é assim que o vejo
em ondas grisalhas que vêm
e mais depressa se vão

toccata e fuga
sua beleza assim de perto
é certamente um projeto
do eterno
escalas tão longe
tão perto
na incessante busca do eco



Rio de janeiro, 4 de setembro de 2009



NOITE









esta noite sucede um dia
de pura melancolia




Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2009




MARINERA






soy un marinero que no sabe navegar
mi vida és una ilusión llena de sueños
por donde todo pasa
y nada fluye
y és asi que no paso yo


Roma, enero de 2006


domingo, 30 de agosto de 2009

SOLIDÃO








o pensamento sonolento
estremece a gaivota
e o mar cinzento a consome

não sei onde cheguei
estou sentado em duro banco de pedra

olhos sobre ondas revoltas
tão diferentes das de ontem mansas
acariciando peles morenas

este é um dia quase sem memória
onde tudo se repete
e o teatro marinho acrescenta solidão
em palavras
pronunciadas entre lábios fechados
sem melodia

o vento age e traz o medo
do que está por vir
viverei sem me ferir?


Rio de Janeiro, setembro de 2009