sexta-feira, 6 de julho de 2012

MEUS AIS




a palavra existe para soar

indecisas 


lembram teu presente
em tudo que sentes
para passar


como a brisa sopram
teus sonhos teus cantos teus ais




Rio, julho de 2012.


sábado, 9 de junho de 2012

PONTOS CARDEAIS



todos os caminhos são um caminho só
em nada variam no que lhes é final
chegam bem ou nem chegam mal
chegam todos ao mesmo lugar


quem não os descobre morre pagão
quem os conhece sabe-lhes o fim
todos os meios são os mesmos meios
nada se cria tudo é repetição


pequenas variações dependem do vento
passando nas quatro direções
que se amarram em um planeta só


o norte é uma questão de posição
o sul é um olhar sem direção
leste oeste meras convenções 


Rio, junho de 2012



terça-feira, 5 de junho de 2012

CALAR




choro...choro apenas porque nada sei da vida
meus olhos perseguem o sonho
que avança sobre meus dias 
e não revela o mistério da sabedoria


choro...choro porque não aprendi
hoje tendo a crer que talvez calar seja saber



Rio, junho de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

SETE ANOS DE PASTOR



ah essa mania de buscar palavras
para desenhar um verso desafia
o tempo e o poeta


não reflete o nexo


entre o som e o sentido há o abismo
e o eco que sete vezes recambia
o mesmo som em sete formas


do que pensa inconsciente


sete sons sete palavras
sete dias sete anos
sete ilusões em sete vidas


sete e o que me diz a metafísica
  
pudesse eu em sete anos
perpetuar minha alegria
setenta e sete bastariam


sete anos de pastor ainda eu viveria




Rio, maio de 2012.








PESADELO

[de um tema recorrente 
em meu livro "Nel Mezzo del Cammin"]

passo a esquina imaginária 
de corpos como sombras
solitárias 
no frio horror de suas vidas


o sonho pesa o equilíbrio
tornando o gesto repetido
percepção
de ver passar desejo vão 
por amor de hesitações
entre sexo, ódio e traição


não vejo atrás da esquina quem ficou
mas sei que repetem movimentos 
para encontrar o nada
exceto uma ilusória obsessão


pela escura noite do outro lado
curioso e constrangido
vislumbrei a sarjeta enodoada
do abandono de toda intimidade
no frio do descaminho e desamor


ah o terror da cena
de movimento decidido
sem qualquer certeza
exceto fingir 
um presente vago de incerteza 


o sono é testemunha desse drama
pesadelo de mais tristeza que horror 




 Rio, maio de 2012.



quarta-feira, 23 de maio de 2012

LABIRINTO



impromptus
 em conversa com o poeta Fausi Kalaoum


está em mim o labirinto 
nem o de Borges não o de Pessoa
mas o que me desafia

dele perdi de vista a entrada 
sem ver saída
disperso no descaminho
entre inferno e paraíso 

pertenço àquele gênero de homens que não são 
nunca foram nem serão
do que é porque não quer mudar 

nem alma tenho
sou presa da fuga do prazer
uma espécie de febre que me queima as entranhas
deixando vazio o arcabouço
calabouço da alma que teima em não partir

parece sinfonia de Beethoven na surdez
mas é melodia que suave desiste de soar

gozo que emociona
na ilusão de pensar

vivo a incoerência da alegria 
porque me mato cada dia
a sonhar com o amor e o prazer
e pensar
em meio à culpa de ser velho e me perder

                   Rio, maio de 2012.

REALIDADE


pouco penso quando escrevo
não por horror ao pensamento
mas por amor às palavras


a realidade é sonho [dizia o poeta]
e música [direi eu]
submetida a sentimentos
do andante ao staccato

e assim escrevo sons da ilusão



Rio, maio de 2012