sábado, 15 de fevereiro de 2014

EMOÇÃO



a linha do horizonte 
é fímbria entre mar e céu
azul com azul em tons 
que um ao outro  complementam
sopra a brisa  

da areia fresca [é noite]

úmida da última onda
dispenso-me a agitação
e deixo falar o coração

e ouço-o 

sozinho sou emoção
fora de mim nada passa
sou apenas a emoção 

Rio, fevereiro de 2014


O MAR E A PEDRA COMIGO



sentei-me na areia fresca da noite
e deixei-me sonhar
era quente o ar
constelados os céus
o silêncio quebrado
pelo marulhar

pensamentos perdem-se no seu vem-e-vai
como a onda do mar
que se derrama inteira
sonda
e retira-se descabelada
sem nem mesmo decidir

é verão aqui
quente sobre a pedra
fixada há milhões de anos
e eu
episodicamente a namoro
por um átimo em sua longa vida

penso e deixo de pensar
entre o marulhar e o silêncio
capto o silêncio e deixo ao mar a mensagem de amar

Rio, fevereiro de 2014

ONDA



derrama a onda espuma pela praia
penúltimo esforço de entender-se
antes de morrer ali frágil e desgastada

penso em algum sentido
que não capto
do deixar de ondear o prata da Lua
o céu constelado
vestida simples de branco cabeleiras rotas
e secar consumida pela areia
onde restam poros
e pés gravados no caminho incerto
de quem passa

Rio, fevereiro de 2014



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

VENTO


sopra por sobre o mar
o vento 

vento 
ouço-o zunindo às noites
sinto-o presente desde o sudoeste
vento
perde-se  sobre as ondas
deixando rastro e maresia
venta
lambe meus ouvidos
arrepia-me
violento

há sons diversos no vento
que me escapam
salvo a música
que me dá alento
venta

o vento à distância
ainda sopra em pensamento
atrás do sentimento
venta 

Rio, fevereiro de 2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A PEDRA E EU


penso
quando é dia
sinto
quando é ficção 

uma pedra o que será
pergunto
entre as duas percepções

mas enfim a diferença
se penso e a pedra não 
está entre ser eu e não pedra

dura milênios a pedra 
em silêncio
não duro tenho pena
vou

Rio, fevereiro de 2014.


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014



passei a tarde a olhar a pedra 
dos "Dois Irmãos"
havia a pedra o céu azul e o silêncio 
soprava o vento
só o vento sobre o penhasco
e o céu azul

Rio, fevereiro de 2014.


AMBIÇÃO



sou aos setenta e poucos anos ainda
quem vive intensamente

penso mas não imponho pensamentos
escrevo embora crítico de mim mesmo
estou desperto em plena noite
sonho no sono vespertino

sonhos sono pensamentos
enfim pouca diferença 
vivo o momento (e memórias do que fui)
lembranças menos tendem a enternecer

o mar busca o céu na curva do horizonte
fascina-me em sua grandeza e ambição
está bem no seu vai e vem
bravio murmurante terno eficaz

o tempo esvai-se tornando intensas sensações
pressinto-as sinto e as quero mais
não saberia contornar sua desambição
se raso e seco levem-me também  

Rio, frevereiro de 2014.