sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ESTRELA DA MANHÃ



há uma só gaivota no ar
na quietude de seu vôo solo
é despertar da aurora

foi educada a voar nestas paragens
a partir das seis horas da manhã
em circunvoluções aparentemente sem lógica

mas ela é uma precursora
localiza cardumes que navegam sua inconsciente viagem
entre nuvens de peixes inocentes

olha o horizonte e vê os sinais que lhe envia o vento
mede a distância com a precisão do olhar
montanhas previsíveis a estibordo

vê um tênue arco-iris à distância
bonança a bombordo
suave a planar
uma curva longa à direita

havia apenas uma estrela no céu

Rio, fevereiro de 2014

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

POENTE


ontem dediquei-me a olhar o poente
e assim deixei-me olhar
o horizonte dourado
arco-iris inesperado
ambar dominante
pleno de eternidade

Rio, fevereiro de 2014.




segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

MAR DE IPANEMA



meu mar tem a quietude de sua beleza
dia vai dia vem
meus olhos o admiram atento
mar de Ipanema
ouço-o a murmurar
e encantar as manhãs 

se às vezes me apaixono
não me apego a Vinicius
ou nem mesmo a Platão
de verdade falo comigo
fundo no coração

o mar de minha praia
não tem feitos heróicos
tem pedras e areia fina
que se perfilam até ao Arpoador
tem namorados enamorados
apaixonados como eu me sinto
a viver e não pensar nisso

Rio, fevereiro de 2014

MORAL



bendita a civilização

que faça de cada homem um templo
de respeito ao outro
de entendimento
de mútua atenção

bendita a educação

que nos faça sensíveis
culturalmente visíveis
respeitosos da natureza
da arte criada
serenos amantes um do outro também

o compromisso  social

ensina-nos a responsabilidade
direitos e obrigações
política e moral
a cumprir nossos deveres 
e a sermos pontuais 

benditos sejam os homens

(e as mulheres)
que assim
sejam iguais

Rio, fevereiro de 2014


SAUDADE II



quando eu fui criança
inocente e gentil
aprendi com minha mãe a dizer obrigado
com meu pai geografia
com os meninos de rua
a ser feliz

fui menino 
não sei se fui compreendido
mas a pracinha do outro lado
vista a cento e oitenta graus
floria e eu amava
estar lá

cresci na casa de vidro
e sua janela ovalada
era rapaz e tanto bailei
com minhas namoradas
que era vez por outra outra
mas para mim sempre a mesma

ah como é bom ter vivido
esse mistério da vida
e um dia caipira
ver meus filhos crescidos
bem educados
falando francês e inglês

ah que saudade que eu tenho da aurora da minha vida

Rio, fevereiro de 2014

SAUDADE



a casa em que vivi está lá
com suas janelas vermelhas
e a primavera florida
cercando-lhe a varanda
encantando quem a vê

há lembranças que me enchem a vida
como a pracinha defronte
e sua rua larga
distanciada por alas de "flamboyants"
esconder-se não havia onde
mas brincávamos de pique-esconde

a casa (creio) ainda está lá
e eu setenta e três anos a sonhar
a cada dia mais volto p'ra lá

Rio. fevereiro de 2014.


domingo, 16 de fevereiro de 2014

TRISTEZA E ALEGRIA



não sou alegre nem triste
diz a poeta com razão
tudo é coração
tristeza não vem de fora
alegria não se alcança com a mão
nem morrer que é continuar se consegue no feirão

é um engano
ledo engano
tomar a tristeza por mão
tanto quanto encontrar alegria no chão

alegria e tristeza são coisas do coração

Rio, fevereiro de 2014