quarta-feira, 20 de julho de 2016

PERPLEXIDADE




no que sou perdi-me
mais seguro estive enquanto fui
uma ideia vivida
que não me ocorre mais

dominado pelo transladar do sol
passageiro da luz que se mitiga
o que pressinto nada vale
no escuro da noite lunar

com o pensamento posto no presente
nem o passado sinto
mas o medo do que não sei

sou eu no claustro em que me resta
esse silêncio aterrorizante de pensar
o inevitável impulso do fim  

Rio de Janeiro, julho de 2016 



domingo, 8 de maio de 2016

MÃE




Sem o dizer sinto que sinto
mas a palavra me falta onde procuro 
o sentimento para lembrar o tanto
que na infância e juventude foi encanto

passou e me serviria o tempo
para lembrar passando
o que fui devendo
(que hoje sei) o que foi sentido

a me conduzir a passo 
por longitudes e latitudes 
a mirar o mar desde a nascente

este talvez seja o maternal segredo
de ver ao longe o tempo 
e assim fazer-me ser o que hoje escrevo 


Rio de Janeiro, maio de 2016
   

sábado, 9 de abril de 2016

OFÍCIO DO VERSO



talvez amanhã o sol se faça
e eu comece a pensar versos
diante do mar aberto
logo ali debaixo de minha janela

embora outono
sempre os domingos
têm um ar de verão
e aquilo que eu veja
nem seja o sol
mas o pasmo essencial

e sentado aqui escrevendo
que ideias dirão as palavras
não me perguntes
que pensando em tudo isso
versos virão como ondas

nesse ofício dos versos
não importa a estação
é como ser não sendo
ardência do coração

não importa o que escrevo
é tudo simples e chão
entre o sol e o pasmo
diferença não há
tudo é igual

o que lês é diverso
nem sempre simplicidade
algumas vezes é barco
outras é triste
demência da solidão

Rio de Janeiro, abril de 2016




ESPANTO




pasmo diante do inusitado
mesmo à sombra do passado
mesmo entorpecido pelos fatos
perplexo diante do banditismo
dos traficantes do asfalto
dos assaltantes nas praias
dos governantes petistas
sem ignorar os fascistas
e alguns meritíssimos Ministros
enquanto a história
como farsa
nos espanta cada dia 

Rio, abril de 2016

sexta-feira, 8 de abril de 2016

DIA DE SOL




há dias ensolarados que nos desafiam 
ondas verdes marcam o compasso
da gente na areia branca 
na adoracão de corpos 
morenos
é preciso ser jovem para saber o que pensam
a personalidade que ostentam
na divagação ofuscante do horizonte
sentindo a existência apenas

que compreensão um poeta místico
pode buscar desse recolhimento exposto
senão o que vislumbra de uma janela aberta?
que beleza há nesse conjunto
de sol e corpos no marejar distante
em versos que fluem ao sabor do vento?  

Rio de Janeiro, abril de 2016



quinta-feira, 7 de abril de 2016

'DIVAGAÇAO





submetido à cura de ser quem sou
busco forças neste crepúsculo 
para traçar o caminho que me leva ao despenhadeiro final
assim me encontro próximo da linha derradeira
matéria viva a ser em breve vencida

não me impressiona a curta linha
sou mortal nasci assim
tampouco nutro sentimentos falsos
sobre a indesejada de tantos
amiga de diálogos francos
que não torno íntimos pelo rigor de suas sentenças
todas finais

recordo meu tempo com amor 
não dispenso dele a alegria
diante de barreiras eliminei preconceitos
para entender o mundo ao sair dele
no que foi deliciosa jornada entre lugares distantes

conheci gentes línguas estranhos costumes
enquanto a terra mudava de cores
do inverno branco à primavera florida
que me trazem à lembrança os campos da Sicília
seca e saborosa árida e aconchegante
e o mar circundante azul de gaivotas estridentes
sol a pino sobre as colunas de Agrigento
rosas esfarelando nos séculos sua grandeza

Ah deuses que não renego espero força
que me retorne às doces uvas quase passas de Thera/Santorini  
que me faça livre
à beira da cratera sempre Thera
vulcão solitário em pleno Egeu 
livre nos sonhos que entretenho
serei livre

Rio de Janeiro, abril de 2016



domingo, 3 de abril de 2016

PERPLEXIDADE




se a vida pudesse resumir-se em versos
viveria os versos 
e duas vezes entenderia as coisas
como nos versos
como na vida

nos versos a rota clara
vida no mar revolto

que é da diferença 
penas no ondular bravio
palavras obscuras no poema em versos?

mas sou um só
e de minha vida retirei os versos
que em um poema uma vez escritos
não são meus
e os dias de uma vida terão sido seus?

que me traz o pensamento
nenhum conhecimento?
talvez no fim
que já não tarda
entenderei o que foi de mim


Rio de Janeiro, abril de 2016