domingo, 2 de outubro de 2016

DIA DE TEUS ANOS





para Maria Luiza




o sol sempre desponta nos teus anos
brilha a vida
acalenta os sonhos 
que pelos tempos sonhamos
escrevo para que saibam
do rio fluente que somos
sob tua condução
penso em ti sinto meus filhos
amo meus netos
que trouxestes plenos de amor
é nosso o tempo
ainda
isso basta


Rio, 02 de outubro de 2016

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

INDAGAÇÃO





que seria se nos olhássemos 
no espelho azul translúcido
sobre pedras imóveis 
que aparentemente se movem
ao ilusório sabor do ritmo da água
inconstante efêmero circular
de folhas que decaem
e flocos de nuvens que distorcem
o branco dos céus
apenas ondulando minha imobilidade
que o vento sopra para o sem fim

Rio, setembro de 2016

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

FAMILIA






FAMÍLIA


"Come allora oggi in tua presenza impietro,
mare, ma non più degno 
mi credo del solenne ammonimento
del tuo respiro. Tu m'hai detto primo
che il piccino fermento
del mio cuore non era che un momento
del tuo; che mi era in fondo
la tua legge rischiosa: esser vasto e diverso
e insieme fisso:..."

Eugenio Montale, in Ossos de Sépia, Mediterrâneo.


Aqui estamos
diversos corações dispersos
juntos
a subir a encosta
de onde vieram

áridos tempos de longas viagens
correndo o tempo
mar afora
para encontrar a terra prometida
e dela voltar
com a alegria de conhecer
lá e aqui
o frio branco 
a casa sóbria em campos de neve
e o sol escaldante
deste trópico amante
onde não estamos sós
definitivamente partes
de corações que se uniram
lá atrás 

o inexorável tempo não nos separa
a vastidão das distâncias ao contrário nos une
na imobilidade infinita
desta pedra
que nós nos somos

outubro de 2016
Flávio Perri



















domingo, 31 de julho de 2016

TERRA À VISTA




todo dia é cada dia 
somados fazem completo o tempo
só ao final sabemos
quando lembranças filtram momentos
e a memória faz-se inteira

os outros são poucos
na solidão das multidões da vida

as rotas são finalmente um caminho
e o trilhamos no andar lento
de quem chegar não pensa
ao avistar seu porto

Rio de Janeiro, julho de 2016

domingo, 24 de julho de 2016

LEMBRANÇA




se tudo for nada

nada seria a vida
seríamos apenas memória 
do que terá sido muito
que em outro momento
em outro tempo
igualmente vivi

fui herdeiro de um passado denso

imortal pelas memórias de outras vidas
que povoaram meus dias
e a imaginação

todos que me precederam 

me ensinaram tudo 

sou saudoso

das coisas que tive
e nem sempre guardei
mas amei
delas me lembro sempre
não como passageiras
mas pertences da alma

deles trago o que sou

tutelado de suas histórias
que contaram vidas também nossas
em terra estranha encantados

fábulas sem as quais não vivemos

contos histórias poemas
sonhados foram verdades
em cada momento presentes
sem eles estou ausente
a mim mesmo sou estrangeiro

se esta for minha hora

só peço o que hoje tenho
que é nosso
a consciência de tudo
ainda que seja nada

Rio de Janeiro, julho de 2016


sábado, 23 de julho de 2016

VERDADES x PALAVRAS



para Nydia Bonetti



verdades são abismos tragados por palavras
nem uma vinga
nem a verdade nem as palavras
sossobram no desconhecido do tempo


Rio de Janeiro, julho de 2016

quarta-feira, 20 de julho de 2016

TEU EU





desço a ladeira  

sabedor do que não sabes
do muro do horizonte desonrado

é pouco ir além

nada é avançar
se não cresceres

vivesses o essencial
na trilha que te destes
estarias no rumo
do entendimento

hás-de repintar o que te encobre

não para seres público
mas para como a água de um rio
ignorar as pedras do caminho

não te reveles 

deixa às margens o que passa
e corrói teus dias
a vida é fugaz 

simples sóbrio verdadeiro

só teu eu te ilumina


Rio de Janeiro, julho de 2016