sábado, 26 de agosto de 2017

A HORA





conto a vida como o dia-a-dia
e tudo é sempre igual
grande ou pequeno 
como pode ser 

vivo sem qualquer memória
só o encanto do que tenho agora
sem alongar a vista nem olhar p'ra trás 

e assim respondo a quem quer saber
esse é meu mundo
míope e restrito
e nada dói senão só viver

Rio de Janeiro, agosto de 2017

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

REVIVER



são tantos os momentos de que não recordo
que me parece estar dormindo ainda
navegando sobre águas calmas
de minha vida variada talvez atribulada

tudo parece inútil
quando as formas e conteúdos apresentam-se
caprichosamente raros quando juntados
tudo esconde caminhos que tomei
em decisões já findas

meu desejo seria rever todas
para recuperar os desvios
e viver a mesma vida e outro encanto

Rio de Janeiro, julho de 2017

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

CONSCIÊNCIA




a vida é o que é
um intervalo
entre nascer e morrer

partir para além da vida
é continuar a viver
apenas do outro lado

vivam esta vida
sem pensar em outra que virá
aguardem-na
como fato natural
do qual não fugiremos
nem escaparemos
apenas viveremos
num total

de onde estou vejo o que sou
não conheço o que serei
mas confio
no que me tornarei
sem o saber

não serei um
mas todos
a consciência universal
do outro lado

Rio de Janeiro, agosto de 2017

segunda-feira, 31 de julho de 2017

REALIDADE E SONHO



sonho e realidade
o que vem antes
para ilustrar a vida

tão breve tudo
tudo tão breve

o sonho que nos traz à realidade vem muito tarde
e cedo vem a realidade transmutada em sonho

deixo tudo como começou
pouco mudou se quase nada

era assim quando me descobri
continua assim quando me encubro

o haver de ser mal começa o dia
que se torna noite sem deixar de ser

tão breve tudo


Rio de Janeiro, julho de 2017.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

IMPROMPTUS




um som
impromptus de Shubert

[https://www.youtube.com/watch?v=j1rCDLGcVhs]

de onde surgem não vejo
teclas que se encadeiam
descendentes ascendentes
suspiros
medindo tempos
entre o grave e o suave
vêm e me consolam
da aridez de tudo
da insensatez 
com a lógica de acordes 
lindos por sublimes 
onde o talvez não surpreende
e faz de mim teu 

suavemente dentro de mim
se entrelaçam notas
e magicamente me encantam
talvez sonhando
um amor sem fim

Rio de Janeiro, julho de 2017

SAUDADE III




tempo é circunstancia
o espaço distancia
a saudade é sombra tardia da verdade
realidade que tangencia a imaginação

não se conjugam espaço e tempo

idólatra do passado
a saudade é só presente
não há futuro múltiplo de si mesma

Rio, 06 de julho de 2014/06 de julho de 2017

FANTASIA?




a fantasia é a cena
não entendo o enredo
creio na indignação
de platéia contra vilões

dói o turbilhão de fatos
nesse deserto
onde não nascem rosas
nem sobrevivem lagartos

ratifico a ética
vagueio entre sonhos
que percorrem a alma
numa história do futuro
recomponho pecados cometidos
reúno forças 
o passado serão inexpressivas pedras

Rio de Janeiro, julho de 2017