domingo, 4 de agosto de 2013

FUGA



por essas e outras coisas
tudo quando termina
tira um pouco do senso
de quando começou

tenho a memória do ritmo
e do som dessa água
toda a agonia do  rio
uma só vez a passar

mais além do outro lado 
à distância que está
tão perto tão longe
o inútil inquietar

sinto a tensão 
da energia e da sombra
sob a terra macia  
onde não há desafio

esse é caráter da fuga
sem resposta na curva de ida
essa não é outra coisa
mas ela mesma sentida


Rio, agosto de 2013



sábado, 3 de agosto de 2013

AUSÊNCIA


a noite desiluminou a lua
da janela o mar rola suas águas
em ondas intuídas sentidas
deste lado jaz o silêncio  
enquanto a memória busca ideias 
que se esvaem no tempo
inconsequentes

é noite surda sem presenças

Rio, agosto de 2013




VERSOS


versos nunca são meus

palavras estranhas a minhas mãos
surgem ressurgem uma outra mais outra
sob meus dedos
perdidas sobre um papel 
qualquer

Rio, agosto de 2013



PALAVRA



no papel a palavra trespassa
o eu que escrevo

inércia sem ritmo ou sonoridade
na vastidão infinita dos sentidos

impulsos sobreviventes 
onde me afogo 

Rio, agosto de 2013



sexta-feira, 26 de julho de 2013

FANTASMA

"vô, fantasma é de verdade?" 
[Alice, cinco anos]

ah fantasma deixa pra lá

tu não és vero
que lençol branco
que sombra 
que vento frio
que estalido
que ruído
que nada

não me venhas com barulho

só assustas quem não vê
tu és mesmo lero-lero


Rio, julho de 2013


NETOS


tem a vida um sentido

perguntam todos
e assim tem sido comigo
no que sou igual
estupidamente igual
a deixar que os dias passem
nessa torrente

mas


quer eu pense em vão

ou não
na tarde desse inverno
o sentido de vida ousa
contar quatro múltiplos de dois
filhos cuja lembrança ainda acarinha
a nos dar netos
magia de crianças
pequeninas duplicando o tempo
cariciosas voluntariosas
um a um uma esperança
um bem um bem estar
da mesma voz
que nos embala estridente
meiga branda nunca triste
de multiplicadas esperanças


Rio, julho de 2013




quinta-feira, 25 de julho de 2013

SONHO


o sono ganhou o sonho
gradualmente
primeiro os olhos fecharam
pálpebras vermelhas de cansar
hesitou
depois ganharam a noite
sem pestanejar
e o sono dormiu tarde
mas sonhou

Rio, julho de 2013