"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
AMANHÃ
sou feliz hoje porque mudei
tenho a referência do passado
que me aponta o que já quis
ou o que fui
deixei os pequenos fatos
ressaltei os grandes
que nunca foram pequenos ou grandes
mas desprezíveis ou sensíveis
minha roupa ocupa guarda-roupas
lembro-me quando as usei
mas pessoas desapareceram atrás de uma gravata
e coisas sobreviveram
feias ou belas mas identificáveis
entendi que os laços agora têm significado
quando bem dados
trazendo a idéia do real
ao irreal de ter estado
não guardo a memória de mim
o tempo desgastou-me
mas onde passei perpétuos encontrei jardins
e canteiros de rosas
seu perfume traz-me amanhã
Rio, janeiro de 2014.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
IMPROVISO/EM CONSTRUÇÃO
sonhei sonhos que perdi
porque dormi
não me lembro entretanto
dos que abandonei desperto
consciente ou inadvertidamente
olho o passado inconfidente
para descontar amigos
sem antes nem mesmo contá-los
e o número de milhas percorridas
para amealhá-los
o tempo despediu-os distantes
nem atores nem autores resistiram à erma estrada
é curioso pelo menos que no somatório de sonhos
prevaleçam nestes tempos finais os que não são meus
pergunto-me às vezes se cheguei até aqui para isolar-me
de tudo quanto esqueci do tempo em que dormi
nem amigos
outros soprados pelos ventos
interceptaram meus caminhos
e eu imediatamente não os percebi
nesses incontáveis momentos de decisões
saí de mim...no entanto
para adotar fado que não meu
curiosamente somado a quem sou eu
se é sonho substitui perdidos
está comigo e viverá sem mim
Rio, janeiro de 2014.
domingo, 19 de janeiro de 2014
SOLIDÃO
risca a escuridão raio fulgurante
arranha o mar reduz a noite rasga o horizonte
ribombam trovões tonitroantes
irrompe o medo
o planeta circunavega o sol
estrela dominante
o horizonte trepidante
na tempestade relembra deuses irascíveis
à beira-mar a pouco e pouco o mar acalma a ira
ainda intimidada à luz da Lua
fica apenas negra a solidão
Rio, janeiro de 2014.
VIAGEM
o horizonte incandesce com a tempestade distante
incendeia por instantes seus espaços
transparecendo sombras inesperadas
chalupa e ilhas e medo do desconhecido
raios decompõem a unidade
quebrando a linha fina da maré
zune a quebra do vento em direções suspeitas
acentuando o sopro de um jato
levando a matéria dos meus sonhos a erma estrada
desconhecidos
Rio, janeiro de 2014.
TEMPESTADE
raios riscam o céu em direção ao mar
o escuro brilha a energia dourada
revelando nítida a linha do horizonte distante
e deixa nuas sombras das ilhas próximas
houvesse uma realidade ilusória
e a escuridão aberta em ouro e branco a desmascararia
é impossível abandonar a certeza da energia cósmica criadora
essa é matéria dos deuses
Rio, janeiro de 2014.
sábado, 18 de janeiro de 2014
CLARO ESCURO
no espaço indistinto lampeja um relâmpago
o mar renuncia ao abismo
para espelhar a explosão dos elementos em conflito
no horizonte escuro o repentino brilho
doura o manto negro
e desperta silhuetas que lhe pertencem
o ponto de luz hesitante de uma chalupa
renasce como sombra na escuridão
e meus olhos espantam-se
com o real suspenso que retoma formas
ilusoriamente verdadeiras
Rio, janeiro de 2014.
VÔO
é fim de tarde
a silhueta branca cruza o azul ainda
sem temer o mistério de voar
o dourado de um relâmpago
busca a fria solidão
a gaivota silenciosa
risca o eternidade
distante ainda da estrela vespertina
isolando o tempo
terra e céu
o sol poente
pronto a extinguir-se em meu campo de visão
interpõe-se
entre mim e eu mesmo
faz plena escuridão
Rio, janeiro de 2014.
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