terça-feira, 21 de janeiro de 2014

AMANHÃ



sou feliz hoje porque mudei
tenho a referência do passado
que me aponta o que já quis
ou o que fui

deixei os pequenos fatos
ressaltei os grandes
que nunca foram pequenos ou grandes
mas desprezíveis ou sensíveis

minha roupa ocupa guarda-roupas
lembro-me quando as usei
mas pessoas desapareceram atrás de uma gravata
e coisas sobreviveram
feias ou belas mas identificáveis

entendi que os laços agora têm significado
quando bem dados
trazendo a idéia do real
ao irreal de ter estado

não guardo a memória de mim
o tempo desgastou-me
mas onde passei perpétuos encontrei jardins
e canteiros de rosas
seu perfume traz-me amanhã

Rio, janeiro de 2014.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

IMPROVISO/EM CONSTRUÇÃO



sonhei sonhos que perdi

porque dormi
não me lembro entretanto
dos que abandonei desperto
consciente ou inadvertidamente

olho o passado inconfidente

para descontar amigos
 sem antes nem mesmo contá-los
e o número de milhas percorridas
para amealhá-los

o tempo despediu-os distantes

nem atores nem autores resistiram à erma estrada

é curioso pelo menos que no somatório de sonhos

prevaleçam nestes tempos finais os que não são meus

pergunto-me às vezes se cheguei até aqui para isolar-me

de tudo quanto esqueci do tempo em que dormi

nem amigos

outros soprados pelos ventos 
interceptaram meus caminhos
e eu imediatamente não os percebi

nesses incontáveis momentos de decisões 

saí de mim...no entanto
para adotar fado que não meu
curiosamente somado a quem sou eu

se é sonho substitui perdidos

está comigo e viverá sem mim
  
Rio, janeiro de 2014.

domingo, 19 de janeiro de 2014

SOLIDÃO



risca a escuridão raio fulgurante
arranha o mar reduz a noite rasga o horizonte
ribombam trovões tonitroantes
irrompe o medo

o planeta circunavega o sol
estrela dominante
o horizonte trepidante
na tempestade relembra deuses irascíveis

à beira-mar a pouco e pouco o mar acalma a ira
ainda intimidada à luz da Lua 
fica apenas negra a solidão

Rio, janeiro de 2014.





VIAGEM



o horizonte incandesce com a tempestade distante
incendeia por instantes seus espaços
transparecendo sombras inesperadas
chalupa e ilhas e medo do desconhecido

raios decompõem a unidade
quebrando a linha fina da maré

zune a quebra do vento em direções suspeitas
acentuando o sopro de um jato
levando a matéria dos meus sonhos a erma estrada
desconhecidos

Rio, janeiro de 2014.

TEMPESTADE



raios riscam o céu em direção ao mar
o escuro brilha a energia dourada
revelando nítida a linha do horizonte distante
e deixa nuas sombras das ilhas próximas
houvesse uma realidade ilusória
e a escuridão aberta em ouro e branco a desmascararia

é impossível abandonar a certeza da energia cósmica criadora
essa é matéria dos deuses

Rio, janeiro de 2014.

sábado, 18 de janeiro de 2014

CLARO ESCURO



no espaço indistinto lampeja um relâmpago
o mar renuncia ao abismo
para espelhar a explosão dos elementos em conflito

no horizonte escuro o repentino brilho
doura o manto negro 
e desperta silhuetas que lhe pertencem

o ponto de luz hesitante de uma chalupa
renasce como sombra na escuridão
e meus olhos espantam-se
com o real suspenso que retoma formas
ilusoriamente verdadeiras

Rio, janeiro de 2014.

VÔO


é fim de tarde 
a silhueta branca cruza o azul ainda

sem temer o mistério de voar
o dourado de um relâmpago
busca a fria solidão

a gaivota silenciosa
risca o eternidade
distante ainda da estrela vespertina
isolando  o tempo
terra e céu

o sol poente 
pronto a extinguir-se em meu campo de visão
interpõe-se

entre mim e eu mesmo
faz plena escuridão

Rio, janeiro de 2014.