sábado, 12 de março de 2016

CATIVEIRO



saudoso da vida não me despeço
vivo
não vivo ontem hoje
e o futuro desconheço

tempo
é sempre o mesmo
passa

de mim mesmo sou cativo
todo o resto é o mundo
existe em tumulto
e no entanto em mim 
nunca me conhecerei

homens seres coisas
somam números fictícios
enquanto o que sou sou um
aceito isso e nada tenho
e não sou livre

Rio de Janeiro, março de 2016






EU




Penso
mas nada do que penso vale
o pensamento esgota-se em sua sede
não se revela nem se satisfaz
Escrevo
a cada palavra a única verdade
é sua impressão
que é uma em preto e branco
é outra no coração
Sinto
mas o que sinto não se projeta
ao outro a quem amo
ou a quem não amo
o sentimento finge sem fingimento
é seu

por que ir além se me posto quase sempre aquém
e sou só no que sou
sou eu

Rio de Janeiro, março de 2016



domingo, 21 de fevereiro de 2016

ESPERA





a espera é tempo que não se vive
uma espécie de sonho
esperanca que cessa

o que vemos são coisas
que denominamos
mas não sabemos ver


os poetas vivem do nada
que são os nomes

dados às coisas

a espera é como coisa que não sabemos ver
tempo que passa
sem estar a pensar

o que seria a flor sem o perfume
esse mesmo que o poeta
filosoficamente sente

palavras são só a linguagem
o poeta lhes dá perfume
mas não pensa nelas

a espera é mais uma palavra
esperança um perfume
o sonho o poema

Rio, fevereiro de 2016







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016





MEMÓRIA


(um improviso)

a memória é lembrança esquecida
que revejo como fotografia
em preto-e-branco pelo tempo vencida
estática a criança que vejo mora comigo 

são coisas que já se foram
gente a passar como o vento 
que me contam histórias
vividas e parecem mentiras

o vento é brisa
que vem leve e vai-se
porque tudo é memória
nem tudo a lembrança me traz
tão calma de se ver
nunca ouvir

o que é preciso é saber
que os que passaram e se foram
e só me fazem pensar
de onde vieram
por que
para onde foram

nem tudo é vida 
mas tudo é memória
lembrança
que aos poetas 
parece poesia

Rio, fevereiro de 2016  
  

domingo, 10 de janeiro de 2016

DAS ONDAS DO MAR



da janela o mar 
diferente
que flui em ondas viris 
encalpeladas no ar

os tempos ligeiros 
não lembram ondas passadas
cinzentas grisalhas esparramadas 
razas tardias
na areia da praia amansadas

nem erro nem solução 
o que já foi passou
águas paradas no acaso 
jazem perdidas  
liminarmente vencidas

não há vida nem sopro de brisa
paradas quedaram 
paradas ficaram
para sempre esquecidas

a lembrança é brisa 
vestígio apenas
da memória perdida
melancólica
assim esquecida

Rio de Janeiro, janeiro de 2016. 












sábado, 9 de janeiro de 2016

FELIZ INSTANTE DERRADEIRO





Feliz é o momento
vivido 
como instante encantado
onde o sentimento é teu

e o bem presente

amanhã não existe
mas o instante dado
sem olhos no futuro
ou memória do passado
flui feliz dentro de ti

o bem presente

a soma de instantes 
de cada um consigo
vive em nós
imperceptivelmente
sob o nome
no derradeiro instante
indesejado
momentos infelizes
fingem passado

como a dor sentida
não existem
no verdadeiro instante
quando pressentimos a súmula 
dos bens presentes
da felicidade

Rio de Janeiro, janeiro de 2016







quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

CARPE DIEM




amanhã flui hoje de ontem feito
não me diz nada do futuro
nem o que pode ser o presente

desmedido é o tempo 
no lugar que habito
aqui tão perto tão ausente
desmemória de tudo que sou feito

esse é o momento
instante pronto desfeito
do que foi ontem
intuitivamente hoje

a frase circular
para dizer tão simples
que vivemos um instante 
agora

Rio de Janeiro, janeiro de 2016