quarta-feira, 9 de maio de 2018

ETERNIDADE





...antes de nós o tempo já fluía
no movimento dos astros
alheios ao mundo em que vivemos
éramos parte 
mas não existíamos

Chronos anunciou a vida
ou vice-versa
quando parecemos dominar
a incerteza do planeta
descobrindo o universo
Éter e Caos

homem e ilusão
a contar as ondas que arrebentam em seu mar
e um Deus Netuno ao navegante controlar
assim outros deuses detentores do Poder
de ao tempo falsamente superar
incessante tempo
dominante
Chronos

venta o vento 
Éolo compelindo tempestades
um deus mais
outros deuses
homem
lutando contra o tempo 

luta inglória
só Aeon domina
somos o ruído que se abafa
só o ruído da vertigem
nada afeta a eternidade 

Rio de Janeiro, maio de 2018



terça-feira, 8 de maio de 2018

TEMPO




tudo é tempo
o mesmo nada
em cujo vazio nem a libélula voa
antes de nós
antes de tudo
antes que o vento sopre

penso no tempo
que a cada instante é outro
só não inútil porque logo é tarde
e o dia passa
no rodopiar que se repete do planeta
girando sobre si mesmo
que com razão ou sem razão nos serve

"somos os homens ocos"
cheios de tempo
de ponta a ponta como nos conta a vida
até a morte
não há o que fazer do tempo
ou com o tempo
que inevitável passa

Rio de Janeiro, maio de 2018.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

RITUAL DE CARNAVAL (revisto)




ouço a música que toca para dançar
ouço os gemidos da moça que não quer descansar
ouço o rapaz heroico a resfolegar
estão logo ali as sombras que se abraçam
na solidão a dois que buscaram para se amar
há animal no ato selvagem de penetrar
nem tanto a alma que ali não quis ter lugar
ouço o surdo ronco do gozo
e uivos de hiena no calor do ato carnal

a noite cheia impele os jovens
a pular desengonçados sua fortaleza
num exercício de desgastar e ficar
para fazer valer um gesto de beleza

a juventude e sua natureza
necessitam essencialmente ali estar
frenéticos como se o mundo fosse acabar
furiosamente dançam a coreografia do inferno
dançam dançam sem parar
na simplicidade de seus corpos quentes
como quem vive o último dia chegar

o tum-tum tum-tum-tum não ameaça terminar

nas sombras da noite que não quer acabar
acalmam-se depois do gozo animal
miram-se quase nus num gesto final
lambem-se as carnes molhadas de transpirar
como a cria que da mãe quer mamar

dão-se a inútil atenção do desdesejo
real frio da morta atração
tudo passado
para correr cada um para seu lugar
e continuar a dançar

tum-tum tum-tum-tum

Rio de Janeiro, fevereiro de 2017/18

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

INÚTIL TEMPO




ah o futuro
de que vale o tempo
se nada sabemos de amanhã?

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 2017

JOGADOR




pobre e desvestido
na solidão de nenhum carinho
a bola companheira
era vestígio do passado
jogado
em dribles à frente
história
de um menino sem futuro
olhar brilhante
curiosidade
a descobrir pensamentos
ter ideias
alimentar sonhos

corria recuava saltava
em cada bola um craque crescia
um vencedor anunciando gol
um contrato rubronegro
sub quinze
dezessete
titular

era a fortuna
de um olheiro
que o via sempre à frente
coxas firmes
pantorrilha
certeira pontaria de pés descalsos
cheio de areia
e um ralado na perna
de uma agressão descuidada

a chuteira foi o prêmio merecido
no torneio da rua
começo de um crescimento na grama
Flamengo meia
armador de primeira
goleador
do tiro certeiro
encobrindo o goleiro
excitação da vibrante torcida

seleção
é a glória merecida
na ignorância do passado
trabalhador de passes certos
quatro linhas

Rio de Janeiro, dezembro de 2017


domingo, 24 de dezembro de 2017

NATAL 2017





a cada Natal o passado está presente

são doze meses
e setenta e sete anos
ao redor de uma árvore brilhante
todos todos todos lembrados
todos
queridos e esquecidos
nos desvão ingratos da memória

o que sentimos é força mística
de uma cocheira
e uma criança
com o amor que transborda
desde séculos
séculos a fora

reconheçamos as diferença
e nos façamos iguais
a sonhar com a esperança

e com sorte a acolhamos

dois mil e dezoito é o futuro
que não deixaremos escapar
para não ser apenas um relógio
que só nos diz o tempo
que falta

tempo não há-de nos faltar

vivamos felizes o que nos resta
e que passar não seja difícil
breve o tempo breve os anos
tão pouco a vida dura

somos quem nos fizemos
faremos mais
que tudo seja melhor...

Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2017


domingo, 5 de novembro de 2017

PERCEPÇÕES




tudo é presença 
a luz o sol ou a lua
o mar que me incendeia
toda a extensão da areia
montanhas de pedra ao redor

mora em mim a certeza
do bem por acontecer
assim tem sido
assim bem há-de ser

atraído pelo mundo
não me conquista o silêncio
"fecho os olhos, oiço o mar" (FP)
antes do sol sob a lua
o sopro da brisa é paz

assim durmo e acordo
ansiedade  
verdade 
enleio
sei que a realidade é razão
entre o que penso e o que vejo
o mais é o que não sei

Rio de Janeiro, novembro de 2017