sábado, 18 de outubro de 2008

AMAR O AMOR




amei a vida nos lugares
por onde passei
sempre com pressa
nunca devagar
amei os lugares
onde passaram lábios
e se deixaram acariciar
amei quem não me amou
quem me acariciou
quem me pretendeu dominar
amei a vida em todos
que de mim tiveram um pouco
amei como muito poucos
o amor que tateei
e sem querer negligenciei.

Londres, outubro de 2008.

TRAVESSIA



atravessei o mundo sem prestar atenção
tudo parecia claro
uma narrativa da natureza para o coração
o movimento oscilante
o murmúrio de homens aparentemente despertos
o mar horizonte distante
tão simples...

ah o clamor da vida perdia exclamação
diante do abismo da arrebentação
por onde passaram dourados
corpos ao sol construindo seu mundo
no equilíbrio instável desse ir e vir
tão simples...

o inglório presente leva-me longe
para esse futuro do qual me abeiro
entre os vagares da saudade
e as indagações compulsivas
do que sabemos nós
do que não sei
tão simples...

como se não houvera a selva escura
será bom deixar espaço
para um pouco de ternura
como se as nascentes tornassem a fluir
tão claras
já que chorar é sempre mais fácil
simples assim...

Londres, outubro de 2008.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PASSAGEIRO


PASSAGEIRO


Não sou eterno
o que há é o mundo
de que sou passageiro
nem a verdade me toca
nem a mentira me esgota
naquela disponho
nesta suponho
e estou só com meu corpo
como um poema
condenado ao passado.

Quem me condena?
Os inteligentes ou os bem lidos?
Sou o que sou e não passo
de passageiro no mundo.

Londres, outubro de 2008.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

E-MAIL



para Octávio


Provavelmente terás mudado para trás no tempo
inútil igualmente igual
na rua de antes a mulher de sempre os filhos crescidos
e a evidênca do sol que desce no poente
e resume o ciclo
desta realidade que é a única verdade do que não concluímos nunca.
O Cônsul não é notícia é decadência
nem mais nem menos evidência
do mesmo ciclo
curvado sobre a juventude em busca da história
de u'a mesma humanidade
jornaleira.

Abraço de improviso


Londres, 30 de setembro de 2008.

domingo, 21 de setembro de 2008

NASCER DE NOVO





Se eu nascesse hoje
tudo quanto fui
teria o adeus sem pranto
do sonho que a penumbra de um útero
deixou p'ra traz...
Serei eu de novo mas comigo
seguro de meu tempo
e dono do que quis
no tempo inconsequente
sem história.
Há saudade difusa nisso
talvez do que amei
com certeza do que deixei de amar
em terra estranha
onde vivi cativo
sem o encanto do meu mar.
Se eu nascesse hoje
tudo que sou
não seria mais.

Cambridge, 20 de setembro de 2008.

CELEBRAÇÃO





Celebro um tempo em que o mundo era suave
meu pai meus irmãos e o piano
de sua doçura e toque apaixonado
e eu era lúcido...
É doce deixar-me embalar pela memória
em minha história sempre italiana
dos deuses e heróis
onde meu mundo principia.
Madrugadas alvas sobre o terreiro
do café requeimado pelo sol
o velho capataz as vacas de leite
que ainda procuravam a trilha sobre o rio.
E em cada horizonte a luz
muda a cor do céu
o silêncio que inicia o dia
na descoberta da alegria
de minha gente abstrata e antiga.
Nem um retrato que me dôa
tudo que o tempo longinquo não perdôa
na lembrança da alma ainda inquieta
com o movimento de encontrar o tempo.



Londres, 19 de setembro de 2008.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

ESPERA






espero
o dia que não virá

a noite que tudo cessará

longa espera na desesperança
de meus dias
tão carentes do sol

sereno nada quero
exceto o horizonte do mar

Rio, janeiro de 2009