sábado, 13 de fevereiro de 2010

ESTRANHEZA









estranho o ofício do verso
a buscar em vão
o que está à mão

o poeta pressente a dor
a morte e o perigo
vive os tormentos do amor

estranho trazer comigo
essa percepção

é como se não soubesse
a música do vento

estranho o vento
entre a poeira e o sono
onde não entra a razão

estranho escrever em versos


Rio, fevereiro de 2010






sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

POESIA LÍQUIDA








[comentário a "Poesia Líquida", de MárcioPerri:

…as palavras calam entre os lábios
entreabertos a contemplar o belo
e tatear gotas
em ondas
no suave encontro da matéria

líquida…

nunca a arte foi fácil
mas descoberta
no frágil e forte da percepção

a caminho do indomável mar

voa poeta irmão a imensidade da imaginação
cria dinamismo e ação
descobre formas que olhos mortais
limitados não vêm

deserta é a vida sem arte

é dentro de ti artista
que toda arte é ave*

* citação em duas linhas de Eugênio de Andrade

Rio, fevereiro de 2010




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SER POETA






se sofrer é ser poeta
assim nasci
se viver é ter nascido
sou poeta



Rio, fevereiro de 2010



domingo, 7 de fevereiro de 2010

TRILHA







a alma que de espírito se anima
ao sopro leve de uma brisa
vaga a trilha de um distante nada


Rio, fevereiro de 2010




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A LUZ DOS OLHOS MEUS





[assim calmo esperei a sorte ou o destino no instante que morreu]




...há um instante em minha vida
em que deixei a alma
senti meu corpo
e descobri um deus que havia em mim

não era outro o que vi nessa descida
subindo por estrada conhecida
para além da curva
encontrar tudo o que sou

por toda a vida retornei a esse instante
na busca do que há e que não sei
tudo o que fui
no longo tempo só feito de momentos
de feitos e desfeitos

a luz que me ilumina a sobrevida
é parte desse corpo
sem alma mas vibrante de paixão

assim o tempo perde a densidade da razão
e vive a verdade em plena claridade
dos olhos de meu corpo
atravessado pela luz desse meu deus


Rio, fevereiro de 2010





domingo, 31 de janeiro de 2010

TRANSIÇÃO







REALIDADE E SONHO



o sonho que não me opõe à vida

a poesia adota

e não sinto tédio nem passar o tempo

que me vem de um céu de ficção

já tão antigo quanto o próprio deus

não abandonei o animal gregário

da luta quotidiana

não me perdi sem prazo

nem menor me tornei

há um lugar sob a luz que me ilumina

onde a clareza é minha liberdade

e meu ofício torna-se verdade

escrevo

para fazer do tempo esquecimento

no artifício de sabê-lo cósmico

sob humano tacão

o amor da vida tem assim lugar

em cada instante

na revelação do código do verso

que me conduz ao universo

de quem me fiz amante

com o sol e seu calor

reentendi a vida

e reencontrei o sonho

quando caminho e canto

minha razão

sou eu quem mudou

e falo aos céus

entenderão...



Rio, janeiro de 2010




INDAGAÇÃO CÓSMICA









indiferente às vagas o vento sopra
e o mar encrespa
grisalho submisso embriagado

quando o vejo assim
imenso abandonado à própria sorte
em movimento
pergunto dos desígnios supremos
que impõem a um gigante
persuasão em sopro
mas não convecimento

confuso entre forças
espero a luz tênue da lua
a governar maré montante
e seu vazante

o aleatório cósmico
do caos à ordem
cria o transitório das belezas
de embates e explosões
atrações
negras destinações
nas gravidades celestiais
fogos do Artifício
a declarar caduco o nosso tempo

e o Titan que se fez homem
vaidoso
dedica à força humana
o que lhe escapa

uma espécie de animal
recusando a verdade que o chama

deportado em mar revolto
balança inconsistente sua chama
inteligência de tudo
mas sem força de mudar
a força sobre humana
do cosmos reordenado caos

o que nos aquece
as nuvens negras de uma estufa
ou indecifrada regra
de explosões solares
na mecânica dos astros
em sua dança eterna?

já Michelângelo na Sixtina nos expunha
ao homem-Deus que a si mesmo retratava
insolentemente dominante
sobre a terra que ocupamos
provisoriamente...

Rio, janeiro de 2009