quinta-feira, 4 de março de 2010







nem tão só que me renovo
se não é fé passa por ser
a vida sonhada no amanhecer
com sol luz e calor
quando sinto reviver
talvez o que novo seja amor

nada a esconder
tudo tão claro à noite cada dia
quando sou eu e o momento
do presente sem passado
de um futuro renovado

saudade do que não fui não tenho
sou quem sou
sinto o instante
suave o sentimento
e vivo sob este céu
apenas o que é meu

NYC, março de 2010



SAUDADE







os sonhos são outra coisa
nem tudo é realidade
muito lembra saudade

o tempo passa o verde seca o amor não dura
tudo é realidade
e isso é saudade

a esta altura sou eu só
a realidade o sonho
e essa melancolia

NYC, março de 2010





PAIXÃO








não sei que vida eu deixar não quero
se a que tenho ou a que sonho
e não sei qual delas vive neste verso

transitório sou neste dia claro
que o vento sopra
e a noite vem

mas a alma que encontrou prazer
não abandona o corpo incerto
em meio da paixão

nada temo enquanto existo
o tempo passa
e tudo é isto

NYC, março de 2009



domingo, 28 de fevereiro de 2010

SONHO






ah não me pesa o tempo
que me foge sempre
e no entanto vivo

tudo o que sei
já não me aflige
nem amor mais me exige

sou aquele que sempre fui
mas aceito o fado
que não amei

não não me sinto enganado
nem me ameaça qualquer passado
vivo o presente que me foge em vão
tenho futuro ainda
e coração

sonhando sonho toda a vida
e o sonho é meu


Miami, fevereiro de 2010.





sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A DOR ETERNA








eu só queria dominar o tempo
e caminhar alheio a ser

dar-me a vida
o que tem que ser
e não ser triste

queria instantes de encantamento
que me dessem o tempo
de não morrer

queria a suavidade
de não ferir
para ser eu

e no entanto
não domino o tempo
não decido a vida

para ser sábio
e tudo esquecer

amar-te
sem o transtorno
do que sei




Miami, fevereiro de 2010



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CANÇÃO DE LAMENTO [Fausi Kalaoun]




[transcrevo a seguir poema de um menino
de Queimados [RJ]
cuja intensidade me impressionou]


Entristece soturna palidez !
ecoa , ecoa , os prantos soam
perdão ! Oh magnifica Psiquê
tenho-te desapontado por todo o tempo
com uma dose de caos e duas e meia de furia
preparando um prato da maldita luxuria.
Perdão! Oh benevolente mente
pelas inumeras vezes em que nao me mantive são e a salvo!
Pitorescas lágrimas brincam de piruetas no ar
tocam o solo e se fragmentam
milhoes...
Perdão ! Oh frágil corpo,
se todas as minhas lagrimas germinassem , inundariam o mundo com árvores de lamentações.
Sou fraco, mal consigo viver!
FRACO !
Que tenho alma deplorável
mente suja
e corpo decadente.
Que tao desestruturado sou ,
que saqueio o ar dos fortes para respirar!
Assim, passo por auroras e trevas a lamentar.
Perdão ! Oh fortes por ser a escória!
Perdão ! Oh fracos por nao me tornar forte!
Perdão ! Oh morte , por todas as centenas que tenho te evitado!
Se resolver te enfrentar , por um devaneio vacilante, serei
e antes do final , escaparei
e caso nao escapar
serei feliz
por minha vida ceifar
e finalmente acabar
com todo meu pesar ,
e destruir esta cançao!


Queimados, fevereiro de 2010.

Fausi Kalaoun tem 18 anos e vive em Queimados a 90 km do Rio de Janeiro. Seu poema é natural e sofrido sem leituras o tenham instruído. Um menino ainda capaz de pensar.




domingo, 14 de fevereiro de 2010

DESVARIO







é dentro de mim que o poema aflora
é de fora que ele em mim mergulha

evento que a ventura me dá por grande engano
poeta apaixonado como um rio
leio-me os versos
e vejo que deste amor não tenho cura

espaço desejado
mar aberto
sou vale onde desagua arroio peregrino
e de arroio como um rio
viajo ao mar

vergonhoso do sonho da passagem
tenho o céu por testemunha
e o sol que me acalenta
a úmida palavra
em busca do lugar e posto a navegar

montes
pedras
bosques
verdes ramos despencados
flores da beleza
de um deus a natureza

mundo externo a mim
sou poeta
desassossegado
sem destino
em meus caminhos

inspirado pelos olhos
o que vejo
no desejo atalhado pelo medo
vem de fora vem distante
e mergulha
em mim como palavra
que aflora idéia
na poesia

doce travessura a descoberta
de que tudo é pensamento
do real que de coisa se transforma
em ausência finta
já presença como idéia
ainda que minta
tão alegre quanto triste
e dura
na poesia que perdura

ó grande desvario
mil suspiros ao ar derrama

este poema
dói cura vive e ama



Rio, fevereiro de 2010