"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
sábado, 3 de dezembro de 2011
INCÓGNITA
meu canto vale por um dia
feliz por ter vivido tanto
nessa ida que se faz encanto
em busca de beleza e alegria
sou dois hoje
o que fui e o que me tornei
neste diálogo falho com a alma
sem tormento...a calma
de quem sou em tudo que serei
e o dia que termina
não me tira a paz
renova invés ainda estonteado
um novo tempo em que germina
o sonho procurado
o tempo não me impede despertar
no outro dia sem mais sombras
passada escura a noite fria
do que fui
Rio, dezembro de 2011.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
ASAS
antes que o tempo passasse
encontrei o mundo
e não havia sombras
diverso na tentação
eu estava livre
da minha vida antiga
estranha percepção
de navegar distante
na direção de tudo
sem perder nada
sem esquecer a vida que em mim viveu
secretamente deixei-a
para ter asas
neste poema
Rio, dezembro de 2011.
UM GRITO
...acordo
toco-me incrédulo
estou vivo!
olho em torno e vejo a luz que penetra sutilmente pela veneziana
respiro o ar fresco
e o mistério instala-se
para deixar-me encantado
com a sensação de outro dia
estou vivo e capaz de lembrar-me de operações banais
o sol tímido desponta entre o cinza pesado de nuvens
que teimam em não partir
vejo o mar
derramando-se
tão próximo de mim
sonho a vida e nada me dói
estou vivo para mais velho um dia
debruçar-me à janela
e livre do mistério da noite
despertar dos sonhos
uns bons outros estranhos
formas de pensar
em quem amo quando feliz
no que odeio
em fantasmas que me assombram
na rua o barulho
enche-me de horror
horror indefinido
que me tira de dentro de mim
percebo partes do engano
que inventamos
para burlar desígnios divinos
não culpo ninguém por isso
tenho de quem me ocupar
convenço-me do potencial
de meu amor não só à vida
mas a pessoas que a vida trouxe
para encantar-me
não estou isento de ódios
é humano odiar
os que trazem mal em suas ações
que o induzem a erro
e desviam outros dos caminhos retos da vida
odeio a mentira e a deslealdade
a nortear comportamentos distorcidos
sob falsas razões
da face negra da alma que desestimula a vontade
e protege a lascívia dos desejos
de nenhuma auto-estima
no abismo da pobreza nada floresce
exceto a ignorância do abandono
a carência do amor
nos vícios das ruas
distorções que se tornam regras
no conflito entre não ser e parecer ser
quanto mais compreendo isso
mais entendo as razões dos comportamentos
dos mal-feitos das distorções morais
a fazer brotar na alma envilecida
desejos inconfessos parecidos naturais
o sono e o sonho mantém-me vivo para outro dia
para o estranho juízo de tudo
são vielas do descaminho
não serei o cronômetro do tempo
a desligar sem deixar traço
não
não me autorizo a ser um saco de colher vento
para acabar como a pedra
atirada no abismo sem fundo do desaparecimento
há-que arrancar máscaras
há que lutar contra a escura escuridão
da desgraça e da ingratidão
de negar a humana condição
Rio, dezembro de 2011.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
SETENTA E UM
pela janela vejo o mundo
e a liberdade viva e buliçosa
pessoas que não conheço mas felizes
jovens adultos "terceira idade"
celebram vida
nos sonhos curtida em tempos de censura
convenientes
sem censura agora
aos setenta e um sinto-me livre
para ser feliz lá fora
na alegria de conviver com todos
e viver netos
que me amam como os amo
lúcido lúdico na mesma festa
lá fora aqui dentro
sinto a hora
sou pessimista quando devo ser
mas a felicidade a vivo bela
está dentro de mim
na liberdade de ser quem sou agora
Rio, primeiro de dezembro de 2011.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
O TODO O TUDO O NADA
tudo é parte tudo é começo
o todo o tudo
tudo é recomeço
sorrio do poder das frases
rio-me das palavras
porque não dizem nada
combinam-se
transbordando a imaginação
de quem as escreve
ou de quem as lê
e de quem as repete combinadas
e clama aos homens
"isto é um poema"
será?
tudo transforma-se no todo
que é apenas parte
do que o caos universal
tornou em cosmos
a obedecer as leis da ciência
catalogada pelo homem que se perde no exercício
de dar ordem à ilogicidade de tudo
não é necessário imaginação
para entender que o todo é tudo
navegando sobre o nada
Rio, novembro de 2011.
DIVAGAÇÃO [QUASE] POEMA
não sou poeta
escrevo
procuro o que não consegui
talvez [porque não?] talvez tivesse sido
quem desse forma à informal ideia
do amor ou do tempo
que mutuamente se consomem
sem nem mesmo se tornarem vítimas
do efeito estufa
essa mitologia antropomórfica
do homem capaz de alterar as leis do universo
escrevo
não cheguei ao ponto
ainda
de desistir
pois tenho vida
o que não tenho é tempo
essa medida arbitrária da velocidade e do espaço
que ocuparam Einstein
a demonstrar que tudo é relativo
só o homem
cada homem
acredita ainda ser o centro do universo
esquecendo estrelas matinais e noites siderais
no buraco negro da vida
onde palavras pouco dizem
em busca do sentido das coisas
que diz o bardo
não têm sentido nenhum
são coisas
e o tempo finda
a beleza não se turva
lúcida será sempre linda
como infinda
nesta alegria de ser por um instante que não se mede
no cronômetro humano
nem se acaba sob a imaginária estufa
mas ocupa
a fantasia de um Criador
perpetuando a espécie à semelhança
de sua imagem Sixtina
que Miguel anjo
fez beleza
Zeus ou Júpiter oxalá
tragam juízo ao homem que se quer divino
e o reduzam à enormidade do que é
mas não o centro das deambulações astrológicas de estrelas
que se afastam para expandir o universo
destas mesmas palavras que distraidamente escrevo
sem lhes dar valor como poema...
Rio, novembro de 2011.
sábado, 26 de novembro de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)