sábado, 3 de dezembro de 2011

INCÓGNITA



meu canto vale por um dia
feliz por ter vivido tanto
nessa ida que se faz encanto
em busca de beleza e alegria


sou dois hoje 
o que fui e o que me tornei
neste diálogo falho com a alma
sem tormento...a calma
de quem sou em tudo que serei


e o dia que termina
não me tira a paz
renova invés ainda estonteado
um novo tempo em que germina
o sonho procurado


o tempo não me impede despertar
no outro dia sem mais sombras
passada escura a noite fria
do que fui
   
Rio, dezembro de 2011.



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ASAS





antes que o tempo passasse
encontrei o mundo
e não havia sombras


diverso na tentação
eu estava livre
da minha vida antiga


estranha percepção
de navegar distante
na direção de tudo
sem perder nada


sem esquecer a vida que em mim viveu
secretamente deixei-a
para ter asas
neste poema


Rio, dezembro de 2011.





UM GRITO







...acordo 
toco-me incrédulo
estou vivo! 
olho em torno e vejo a luz que penetra sutilmente pela veneziana
respiro o ar fresco
e o mistério instala-se
para deixar-me encantado 
com a sensação de outro dia


estou vivo e capaz de lembrar-me doperações banais


o sol tímido desponta entre o cinza pesado de nuvens
que teimam em não partir
vejo o mar
derramando-se
tão próximo de mim


sonho a vida e nada me dói 

estou vivo para mais velho um dia
debruçar-me à janela 
e livre do mistério da noite
despertar dos sonhos
uns bons outros estranhos
formas de pensar
em quem amo quando feliz
no que odeio
em fantasmas que me assombram


na rua o barulho 
enche-me de horror
horror indefinido
que me tira de dentro de mim

percebo partes do engano
que inventamos
para burlar desígnios divinos


não culpo ninguém por isso
tenho de quem me ocupar
convenço-me do potencial 
de meu amor não só à vida
mas a pessoas que a vida trouxe 
para encantar-me


não estou isento de ódios
é humano odiar
os que trazem mal em suas ações
que o induzem a erro
e desviam outros dos caminhos retos da vida


odeio a mentira e a deslealdade
a nortear comportamentos distorcidos
sob falsas razões
da face negra da alma que desestimula a vontade
e protege a lascívia dos desejos  
de nenhuma auto-estima


no abismo da pobreza nada floresce
exceto a ignorância do abandono
a carência do amor
nos vícios das ruas
distorções que se tornam regras
no conflito entre não ser e parecer ser


quanto mais compreendo isso
mais entendo as razões dos comportamentos
dos mal-feitos das distorções morais
a fazer brotar na alma envilecida
desejos inconfessos parecidos naturais


o sono e o sonho mantém-me vivo para outro dia
para o estranho juízo de tudo 


são vielas do descaminho
não serei o cronômetro do tempo
a desligar sem deixar traço
não 
não me autorizo a ser um saco de colher vento
para acabar como a pedra
atirada no abismo sem fundo do desaparecimento

há-que arrancar máscaras 
há que lutar contra a escura escuridão
da desgraça e da ingratidão
de negar a humana condição




Rio, dezembro de 2011.





quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SETENTA E UM



pela janela vejo o mundo
e a liberdade viva e buliçosa
pessoas que não conheço mas felizes
jovens adultos "terceira idade"
celebram vida
nos sonhos curtida em tempos de censura
convenientes
sem censura agora


aos setenta e um sinto-me livre
para ser feliz lá fora
na alegria de conviver com todos 
e viver netos
que me amam como os amo
lúcido lúdico na mesma festa
lá fora aqui dentro


sinto a hora
sou pessimista quando devo ser
mas a felicidade a vivo bela
está dentro de mim
na liberdade de ser quem sou agora






Rio, primeiro de dezembro de 2011.





quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O TODO O TUDO O NADA





tudo é parte tudo é começo
o todo o tudo
tudo é recomeço


sorrio do poder das frases
rio-me das palavras
porque não dizem nada
combinam-se
transbordando a imaginação
de quem as escreve
ou de quem as lê
e de quem as repete combinadas 
e clama aos homens
"isto é um poema"
será?


tudo transforma-se no todo
que é apenas parte
do que o caos universal
tornou em cosmos
a obedecer as leis da ciência
catalogada pelo homem que se perde no exercício
de dar ordem à ilogicidade de tudo


não é necessário imaginação
para entender que o todo é tudo
navegando sobre o nada


Rio, novembro de 2011.





DIVAGAÇÃO [QUASE] POEMA



não sou poeta
escrevo
procuro o que não consegui
talvez [porque não?] talvez tivesse sido
quem desse forma à informal ideia
do amor ou do tempo
que mutuamente se consomem
sem nem mesmo se tornarem vítimas
do efeito estufa
essa mitologia antropomórfica
do homem capaz de alterar as leis do universo


escrevo
não cheguei ao ponto
ainda
de desistir
pois tenho vida
o que não tenho é tempo
essa medida arbitrária da velocidade e do espaço
que ocuparam Einstein
a demonstrar que tudo é relativo


só o homem
cada homem
acredita ainda ser o centro do universo
esquecendo estrelas matinais e noites siderais
no buraco negro da vida
onde palavras pouco dizem
em busca do sentido das coisas
que diz o bardo
não têm sentido nenhum
são coisas


e o tempo finda
a beleza não se turva
lúcida será sempre linda
como infinda
nesta alegria de ser por um instante que não se mede
no cronômetro humano
nem se acaba sob a imaginária estufa
mas ocupa
a fantasia de um Criador
perpetuando a espécie à semelhança
de sua imagem Sixtina
que Miguel anjo
fez beleza


Zeus ou Júpiter oxalá
tragam juízo ao homem que se quer divino
e o reduzam à enormidade do que é
mas não o centro das deambulações astrológicas de estrelas
que se afastam para expandir o universo
destas mesmas palavras que distraidamente escrevo
sem lhes dar valor como poema...


Rio, novembro de 2011.



sábado, 26 de novembro de 2011