segunda-feira, 9 de abril de 2012

BELEZA



a beleza é o que sinto
no olhar
na percepção de meus sentidos
no toque personalíssimo do sexo
no sentimento pungente do amor


se é triste revelará tristeza
e meus olhos chorarão
o sonho que me frustrará


mas a alegria de sentí-la
faz-me viver  




Rio, abril de 2012.




domingo, 8 de abril de 2012

INDAGAÇÃO



talvez haja singulares neste mundo plural
de mediocridade o coletivo da gente 
sobre a terra fria
seja inverno ou pleno verão


nunca tanto a realidade me escapou
talvez porque nasci como todos
e sou parte dessa mesma exterioridade
companheira de minha solidão


onde estão os singulares
onde os encontro
no meu errar inconsequente
em busca da compreensão


aprendi-os talvez no mito do passado
pensei entendê-los em sua lida
se verdadeira ou falsa não sei


e entretanto
o universo é o mesmo 
mesmos são os homens
iguais as mulheres
mas havia sábios guerreiros e santas
sob o mesmo céu


hoje é dia de indagação
de questões sem solução
na prova de viver setenta e um anos
e ver nascer sete bilhões
que não farão vingar a alegria
de fazer o que não fizemos
em tempo de salvar o que nos resta
neste planeta singular


mas porque me pergunto se não sou responsável
nem singular entre homens e mulheres
que apenas sobrevivem 
em meio à beleza do que somos
inconsequentes
na rota desconhecida do universo
de que só consigo este verso


quem somos porque somos para onde vamos
em nossa triste rotina de destruição...


Rio, abril de 2012.






sábado, 7 de abril de 2012

À LUZ DO DIA





foi-se a noite 
e todos os segredos
ofuscados
pela luz do dia


foram-se
o medo da sorte
fantasmas da mente
pesadelos inconsequentes


sombras e vultos
foram-se covardemente
ao brilhar a aurora


voa agora a alegria nas asas da poesia
é pleno dia




Rio, abril de 2012.




POENTE



nada de novo há
nada
exceto a beleza recobrada
do por do sol
em um poente cada dia


olhos postos no astro em fogo
e o pensamento no eterno esquecimento


Rio, abril de 2012.




sexta-feira, 30 de março de 2012

AMOR SENIL



no ritmo romântico de outros tempos
eu bem queria
ter vinte anos novamente
e viver intensamente


de que vale ser poeta aos setenta anos
e cantar um amor intenso e decadente
para a morte pilhar-me de repente
e desamparar a quem amei


por uns tempos só
para que volte a amar um vagabundo


basta o que sou errando neste mundo
quebrei os sonhos do passado
deixei minha alma em um dos escaninhos
onde se esconde o esquecimento


sinto o presente como o futuro não sonhado
muito mais verdadeiro que a vida


não tenho cura nem cura quero
deixem-me viver os últimos suspiros
do amor que tenho
ainda que poeta e sonhador


não me maldigam estou livre
nesta orgia sem fim do fim de vida
quando todo o encanto se evapora
e fico só à beira do caminho


Rio, março de 2012.









quarta-feira, 28 de março de 2012

ROMÂNTICO ADOLESCENTE



atrevido citei de um poeta
vinte e um anos e a vida toda
a beleza a ler em versos únicos
o amor em cânticos cantado


assim à beira de meus versos
encontrei o fundo pretendido
não morrer mas viver de amores
dores e sentimentos imperfeitos


que amar amei e amei tanto
que suspirando ainda acordo cada dia
no sonho do desmaio apaixonado 


sem querer nele revelei minh'alma
velho inveterado
romântico adolescente toda a vida


[relendo Álvares de Azevedo, 
um menino ao partir apaixonado]


Rio, março de 2012.



TRECHOS - Álvares de Azevedo



Se ele poeta nodoou seus lábios...
é que fervia um coração de fogo
e da matéria a convulsão impura
a voz do coração emudecia!


O Fantasma


Sou o sonho de tua esperança,
tua febre que nunca descansa, 
o delírio que te há de matar


Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
e se te fujo é que te adoro louco...
És bela -- eu moço; tens amor  -- eu medo!...


Não serei triste se te ouvir a fala
Tremo e palpito como treme o mar...


...ser no mesmo ponto
O ditoso e o misérrimo dos entes
Isso é amor, e desse amor se morre!


eternamente, março de 2012.