sábado, 14 de outubro de 2017

HOJE


...para contrariar Álvaro de Campos...

por quê não hoje
se o sol brilha
e o verão me acalenta o coração

o momento é agora
que a tristeza se foi
e nada me dói

o entardecer vem com e a brisa fria do mar
e me penetrará
depois só sombras me encobrirão 
por quê deixar livre o tempo
que não volta mais

caminhar é preciso
agora
à frente sempre à frente
para sentir o tempo corrente
e o sonho ser meu

viver é não fingir a hora imaginária
fazer a história viva
a luz e todo o brilho que traz

há-de ser hoje
por entre a brisa e o vento
e a saudade atual
de nada deixar passar

por quê não hoje
que ouço bater o coração
e sinto o pulsar do desejo
e a força que a alma tem

sim
há-de ser hoje
e não depois de amanhã

Rio de Janeiro, outubro de 2017.

 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

INSISTENTE SOLIDÃO


o que mata é a solidão
não a solidão de estar só
mas a solidão da alma

não sou triste
basta o sol
para me fazer sorrir

mas o sorriso é um adeus
que pesa em mim
na longa espera
arrastada e sombria
de um momento que não sei
distante interrogo-me
bastante como um pesadelo
ou como um sonho que se perde
e não deixa rastro
nem é meu

a inutilidade dói
nesse tempo sem tristezas
à espreita apenas
do indesejado evento
tão próximo quanto distante

resta a memória da vida vivida
sonhada e esquecida
pois não volta mais

a natureza é assim
nada do que passou é meu
apenas passou por mim

foi um tempo bom
de que me lembro e não vejo mais
tempo pleno provado sentido
da esperança viva
da construção do futuro
hoje apenas sombra
uma incerteza

a vida entretanto não exige certezas
mas a imagem de Pasárgada
a cidade sonhada

embora a estrela do poema luzindo
a vida é vazia
nada acontece exceto o sonho
de um passado ausente no presente
isso é insistente solidão

Rio de Janeiro, outubro de 2017.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

CANÇÃO DO TEMPO




é gradual sentir os anos
as noites curtas
e que os dias voem

é natural o frescor da brisa 
no soprar suave 
de tornar-se vento
a acelerar o tempo

assim entendo o que hoje sou
e o depois
enquanto a brisa ainda ligeira
sopra
e o vento 
zune 
distante

aparentemente

tudo é movimento
o voar silente do pássaro
e a comparação
entre o que é só metáfora
e o que for poesia

é feliz o tempo da constatação
é movimento a emoção
assim o sou a sós comigo

esta é a canção do tempo
e da solidão

Rio de Janeiro, setembro de 2017.









domingo, 24 de setembro de 2017

ABISMO



o que dói não é a narrativa
é o abismo 

nenhuma esperança é sonho
quando falece a realidade

por espaços sucumbe a vã percepção
do tempo que se volta para trás
na noite irracional
que não espera o por do sol

o Rio chora sem pranto
o que sabe e não vê
puro abandono 

em meio ao deserto que se atreve entre homens
não há chão
mas solidão
enquanto me perco ao escrever esta canção

Rio de Janeiro, setembro de 2017

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ERA SÓ ISSO?



Tanto!
era só isso?

viver parece tão pouco
nem bem pressinto amanhã
e ontem sinto tão próximo

meus vinte anos presentes
lembram dias felizes
por eles recuso partir

recusarei sistematicamente tentações
para esperar o que virá
num futuro que não me seja dado viver

não supus ainda amar
descobrir presenças
ressuscitar prazeres
renovar percepções

Ana Luiza Alice Pepe
e Lucas são personalidades
independentes
o futuro lhes pertence

por eles insisto e fico
mas sei que passo
enquanto resisto

viver é muito bom
mas ao chegar a hoje
vejo
que não era muito

mas tanto
que hoje sinto
foi só isso?

Rio, setembro de 2011/setembro de 2014

domingo, 17 de setembro de 2017

A DESCONHECIDA



Se eu soubesse
quem sou seria um passo
sutil e passageiro
a primeira vez que festejaria
momentaneamente a vida
e sairia para um abraço

não quero muito
apenas conhecer-me
para dizer de mim para mim mesmo
quem fui quem sou
na canção cansada que ora canto
de esperar e esperar
sem saber a hora
de quem vem por que vem
indesejada
dizer presente

às vezes sinto como se passasse
num sopro leve e sereno
e eu o aspirasse
indolor e puro
como as águas límpidas de um rio que já correu seu curso

sei que virá e a espero
para sempre recordar
o sonho que foi a vida
que vivi toda sem querer
inesperadamente
não deixarei de ir

Rio de Janeiro, setembro de 2017.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

O DESCONHECIDO




(revisão de setembro de 2017)


não quero o desconhecido
mas o horizonte definido
precisão

é difícil sobreviver com a perspectiva invertida
a impedir a construção

ao revés
são tranquilas as horas
da antevisão
do previsto e do ideal
em que se pode errar sem hesitar

são a pinturas visíveis da construção
que incitam a criação
e dão ao traço a leveza da intenção

imitamos deuses
em cores definidas
reta e curva da imaginação

não ao desconhecido
(se é que posso querer)
não

temo não saber viver



Rio, setembro de 2013.