domingo, 21 de setembro de 2008

NASCER DE NOVO





Se eu nascesse hoje
tudo quanto fui
teria o adeus sem pranto
do sonho que a penumbra de um útero
deixou p'ra traz...
Serei eu de novo mas comigo
seguro de meu tempo
e dono do que quis
no tempo inconsequente
sem história.
Há saudade difusa nisso
talvez do que amei
com certeza do que deixei de amar
em terra estranha
onde vivi cativo
sem o encanto do meu mar.
Se eu nascesse hoje
tudo que sou
não seria mais.

Cambridge, 20 de setembro de 2008.

CELEBRAÇÃO





Celebro um tempo em que o mundo era suave
meu pai meus irmãos e o piano
de sua doçura e toque apaixonado
e eu era lúcido...
É doce deixar-me embalar pela memória
em minha história sempre italiana
dos deuses e heróis
onde meu mundo principia.
Madrugadas alvas sobre o terreiro
do café requeimado pelo sol
o velho capataz as vacas de leite
que ainda procuravam a trilha sobre o rio.
E em cada horizonte a luz
muda a cor do céu
o silêncio que inicia o dia
na descoberta da alegria
de minha gente abstrata e antiga.
Nem um retrato que me dôa
tudo que o tempo longinquo não perdôa
na lembrança da alma ainda inquieta
com o movimento de encontrar o tempo.



Londres, 19 de setembro de 2008.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

ESPERA






espero
o dia que não virá

a noite que tudo cessará

longa espera na desesperança
de meus dias
tão carentes do sol

sereno nada quero
exceto o horizonte do mar

Rio, janeiro de 2009

quarta-feira, 18 de junho de 2008

ESCREVER VERSOS



ninguém lê meus versos
mas insisto quando sinto
in-tui-ti-va-men-te
o desejo de escrevê-los

talvez nada digam
talvez digam tudo
talvez maus sejam bons
ou vice-versa
mas pereçam bem sem nenhum mal

cada um tem sua razão
e talvez sua beleza
mas não me escondem
nem me revelam

escrevo-os como espelhos da memória
às vezes da lembrança
como um rito

agrada-me a idéia de que passem
na ironia de escrever
e deixar soprar o vento


Londres, junho de 2008.

terça-feira, 17 de junho de 2008

MISTÉRIO




deixei perderem-se momentos
segundos e minutos
tantos

areia que se esvai
clepsidra que me domina inteiro
como hidra

e tudo o tempo perde
o que ficou
o que sobrou

mistério perecível
como o vento

Londres, junho de 2008.

SUTIL




nunca terei certeza de haver vivido



Londres, junho de 2008.

VERSOS?




perco-me no mistério dos versos
escrevo sem os ter na lembrança
doces melancólicos duros pessimistas
existem

deuses não há que os inspirem
nem o passado nem o destino ou o fado
nem sou eu que os pense
o que são os versos?


Londres, junho de 2008.