sábado, 28 de novembro de 2009

AQUECIMENTO GLOBAL








havia luz no sorriso do mar
era verão

de repente um calafrio
lá dentro na alma
na claridade azul do céu
obscena a ciência revela sua intimidade
elimina os sentimentos decentes
a imaginação dói

defendo-me do calor da pedra
mas não vejo o sol
nem homens
mas um sentimento estranho
mói
o que me ficou
a casa no cosmos
que não tem nome
foi terra que o mar derrotou

fora o tempo humano
sobrevive à única sombra
derradeira
do aquecimento [global]

já não há quem cante
ou se debruce à janela...
isso me faz mal


Rio, novembro de 2009







sexta-feira, 20 de novembro de 2009

LUTA FRATRICIDA







palavras lutam
contra o poema

o verso é incerteza
do alto em baixo

em qualquer posição
estou eu ou sou eu?

Rio, novembro de 2009




SUPOSIÇÃO








no olho do furacão
dois seres se amavam
contra toda suposição


Rio, novembro de 2009



QUÂNTICO








quem me dará o tempo para esquadrinhar o horizonte
antes que eu me perca no universo
e vagueie sujeito às atrações celestes?

viver essa é a missão
de cada um de todos nós
atados ou desatatados de nossos nós

quando me olho vejo-me outro
sou um ou mais de um
já nem sei
mas eu não sou

só me resta a esta altura
a certeza de que não sei
se aqui estou
ou permanecerei

sou escravo da física
e suas duas grandezas
posição e momento
tudo depende da velocidade

que massa sou eu?


Rio, novembro de 2009






Ah... AI AI







estou amarrado
sobrevivo ancorado
atado e calado

em imaginação ameaçado
depois de haver voado
por ares nunca antes explorados

esta vida mói
o amor se vai
segredo guardado dói
enquanto o tempo se esvai

ai dói
ai mói
ai vai

ai ai ai


Rio, novembro de 2009