sexta-feira, 25 de novembro de 2011

UMA REFLEXÀO



[o passado é memória; o futuro, conjecturas]




...em busca da vida salvo o presente
porque me falta o futuro


em busca da vida
vivo intensamente essa mesma vida
que em breve me faltará


em busca da vida
sou o que ela me dá
agora


o passado por lindo que foi
já findo
morreu...



[e as coisas lindas, muito mais que findas, essas ficarão - Drummond]







Rio, novembro de 2011.









sábado, 5 de novembro de 2011

NAVEGAR É PRECISO



...navegar é preciso...


amo outros ares
e são tantos os lugares

nem é  fim de dia
mas a noite desafia 
e eu estou triste
sou só melancolia


caminho em círculos
no pouco espaço
nem vou e já volto
não vejo onde chegar


estou deportado
na véspera do nada
e como uma ilha
isolado entregue a mim
no espaço sem fim


quero alegria
sem contenção
que me constranja a alma
e despedace o coração

amo outra vida
onde dormir é estar acordado
de sempre sonhar


amo até o acaso
de um momento de sonho
não depurado
como página em branco
onde escrever uma história


bem sei será diferente amanhã
se o sol me sorrir
e o mundo florir
sem sombras
em que um olhar só bastasse
para iluminar-me a face
tão sonhadora outrora 
tão desgastada
e invariavelmente censurada
agora

sei que posso sentir
para tornar-me alguém
sei bem que navegar é preciso
mas não sei sair desta ilha 
e navegar outra vez






Rio, novembro de 2011.





sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ELEFOA?







nem amor nem melancolia
nem sombra de um mau dia
não sei dizer o que sinto
e se disser sei que minto


finjo que sou feliz
mas no real é só tédio
do meu mal de raiz
que não tem remédio


e a luz que bruxuleia
no sono indeciso que vem
nem é luz é consciência
que me apaga a quase ninguém


vou-me vou-me pra cama
fim desse anônimo dia
mas vou como quem ama
essa vida tão vazia


boa noite amores
sonhos e dissabores
o dia se foi e é tarde
só me coça o que me arde


e daí bla bla adiante
dessas letras tão à toa
nada ajuda um elefante
nem mesmo estando de boa


Rio, 04 de novembro de 2011.




quarta-feira, 2 de novembro de 2011

EV'RY TIME WE SAY GOODBYE

...how strange the change from major to minor
every time we say goodbye...[Cole Porter]



o sonho do amor que sorri 
nunca foi esse
mas do que sofri
a cada instante que perdi
por ter sido louco
de não ficar para amar
antes que o perdesse
e esquecesse 
o que foi verdade
e o que é fictício 
e toda vez que o esqueço eu morro um pouco
[every time we say goodbye I die a little]


Rio, novembro de 2011.





quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PARA ONDE COMO PORQUE ?



[inspirado no poeta Kabir 
- 1398, Benares, Índia] 


para que horizonte conduzes  tua vida
não há caminhos à frente
nem mesmo um rio para conduzir águas
a um destino conhecido
para que horizonte 
se serpenteias
para que caminho 
se não há
qual teu destino?



como não escolhestes a sombra
na opção entre o aconchego e o sol
como deixastes que teus lábios
já não falassem uma palavra de amor
como abandonastes a ti próprio
e escolhestes a distância e a insegurança
como deixar- te queimar?



porque vives tua solidão
tão perdidos os sentidos
porque não acendes a lâmpada
que trazes contigo desde que nascestes
porque se tens a consciência aberta
porque só?


volta a teu lugar
retorna a ti e ao que és
retoma a vida onde a deixastes
nada resta a não ser distorções
e a ingrata ilusão...




Rio, setembro de 2011.





terça-feira, 27 de setembro de 2011

VAGA VIDA





perguntas sem respostas
perplexidade são 
complexas
simples em garrafas
tontas em ondas do mar


frio nem parece coração
refrigerado no "freezer"
da alma encarcerada
noite e dia apaixonada
sem objeto ou razão


feliz quem sorri
não por alegria
mas por nostalgia
de um tempo bom
que passou


primavera primavera
tenho por timidez
de descrever no outono
frutos descaídos
breve duros 
que gelados ficarão


a primavera passou
mas amar é destino
consciência desatino
no outono
de confiar em ninguém


assim de perguntas sem respostas
vive o amor no temor de ser flor
sem perfume
da primavera que longe ficou


vaga vida 
fria já quase muda
no "freezer" de meus poemas
que sem começo
não têm mais fim


Rio, setembro de 2011.





segunda-feira, 26 de setembro de 2011

NOS RECANTOS DE MEU SER








um cansaço esquisito toma conta de mim
de ser e não poder ser
o que apenas pensei
ser o que sempre fui


andei por anos disfarçado
em roupas engalanado
mas pensei que o meu eu
era forte bastante para ser meu


enganei-me não era
mas em todo caso erguia a bandeira
de meu país 


aqui estou já vencendo o tempo passado
querendo viver o que fui em tempos remotos 
um homem comum sem preconceitos
para gostar de gente
não importa se pobre ou rica 
pessoas a quem posso amar
para lhes dar o que em mim me sobrou


nem inveja nem ciúme nem ódio
nada sinto ao viver
o homem simples que sou
tudo tenho tudo ganhei
e sou feliz de saber que ainda terei
o que nem procurei


amo a vida minha gente  meu mundo
amo mulher filhos meus netos
amo desconhecidos
no vasto mundo perdidos
guardo um modelo do caos
na alegria desse rastro lunar
de claridade e paz
d"os recantos de meu ser" [1]


Rio, setembro de 2011.


 [1] Carlos Drummond de Andrade