segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SER POETA






se sofrer é ser poeta
assim nasci
se viver é ter nascido
sou poeta



Rio, fevereiro de 2010



domingo, 7 de fevereiro de 2010

TRILHA







a alma que de espírito se anima
ao sopro leve de uma brisa
vaga a trilha de um distante nada


Rio, fevereiro de 2010




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A LUZ DOS OLHOS MEUS





[assim calmo esperei a sorte ou o destino no instante que morreu]




...há um instante em minha vida
em que deixei a alma
senti meu corpo
e descobri um deus que havia em mim

não era outro o que vi nessa descida
subindo por estrada conhecida
para além da curva
encontrar tudo o que sou

por toda a vida retornei a esse instante
na busca do que há e que não sei
tudo o que fui
no longo tempo só feito de momentos
de feitos e desfeitos

a luz que me ilumina a sobrevida
é parte desse corpo
sem alma mas vibrante de paixão

assim o tempo perde a densidade da razão
e vive a verdade em plena claridade
dos olhos de meu corpo
atravessado pela luz desse meu deus


Rio, fevereiro de 2010





domingo, 31 de janeiro de 2010

TRANSIÇÃO







REALIDADE E SONHO



o sonho que não me opõe à vida

a poesia adota

e não sinto tédio nem passar o tempo

que me vem de um céu de ficção

já tão antigo quanto o próprio deus

não abandonei o animal gregário

da luta quotidiana

não me perdi sem prazo

nem menor me tornei

há um lugar sob a luz que me ilumina

onde a clareza é minha liberdade

e meu ofício torna-se verdade

escrevo

para fazer do tempo esquecimento

no artifício de sabê-lo cósmico

sob humano tacão

o amor da vida tem assim lugar

em cada instante

na revelação do código do verso

que me conduz ao universo

de quem me fiz amante

com o sol e seu calor

reentendi a vida

e reencontrei o sonho

quando caminho e canto

minha razão

sou eu quem mudou

e falo aos céus

entenderão...



Rio, janeiro de 2010




INDAGAÇÃO CÓSMICA









indiferente às vagas o vento sopra
e o mar encrespa
grisalho submisso embriagado

quando o vejo assim
imenso abandonado à própria sorte
em movimento
pergunto dos desígnios supremos
que impõem a um gigante
persuasão em sopro
mas não convecimento

confuso entre forças
espero a luz tênue da lua
a governar maré montante
e seu vazante

o aleatório cósmico
do caos à ordem
cria o transitório das belezas
de embates e explosões
atrações
negras destinações
nas gravidades celestiais
fogos do Artifício
a declarar caduco o nosso tempo

e o Titan que se fez homem
vaidoso
dedica à força humana
o que lhe escapa

uma espécie de animal
recusando a verdade que o chama

deportado em mar revolto
balança inconsistente sua chama
inteligência de tudo
mas sem força de mudar
a força sobre humana
do cosmos reordenado caos

o que nos aquece
as nuvens negras de uma estufa
ou indecifrada regra
de explosões solares
na mecânica dos astros
em sua dança eterna?

já Michelângelo na Sixtina nos expunha
ao homem-Deus que a si mesmo retratava
insolentemente dominante
sobre a terra que ocupamos
provisoriamente...

Rio, janeiro de 2009



sábado, 30 de janeiro de 2010

GATO/PALAVRA







não duvido das palavras
apenas as temo
porque dizem o que não quero

por isso o verso
que insinua e instiga
a vaga intimidade
de todo entendimento

que mais posso eu dizer
sem me enganar

como um gato salto ligeiro
suave no toque
traiçoeiro

procuro assim a palavra
de cujo sentido
não duvido

penso na beleza e na alegria
como Keats
para sempre
[4ever]

e o que penso não digo
pela palavra
gato

como no amor sei provocar
mas não sei dizer o que sinto
e
como gato
suave no toque
toco

Rio, janeiro de 2010



AQUECIMENTO GLOBAL










passou-me esta manhã a velha senhora
indesejada de sempre

bolso algibeira safada de negro matreira

que tal figura
que rosto bruto
dura

embrulhei sua imagem na pupila
destaquei o negro dos olhos
que me fitava assim
como quem quer sexo
na véspera do fim

o vento áspero soprava lá fora
um vazio seco turvava a luz do dia
dizia que vinha
do Haiti
tinha nexo

gelei o coração e escrevi
esta nota de memória
para contar a história
de meu quase fim
mas lá
no fundo fundo bem fundo
no caleidoscópio da iris
estranha emoção
está a indesejada senhora embrulhada
no horror de conhecer-lhe a intenção
uma velha calma e fria
imaterial

enquanto a memória ajudar
lembrarei a horrenda

já lenda
que assusta meio mundo
com terremotos maremotos
tufões ciclones e afins

para fingir aquecimento global...


Rio, janeiro de 2010.