sábado, 30 de janeiro de 2010

AQUECIMENTO GLOBAL










passou-me esta manhã a velha senhora
indesejada de sempre

bolso algibeira safada de negro matreira

que tal figura
que rosto bruto
dura

embrulhei sua imagem na pupila
destaquei o negro dos olhos
que me fitava assim
como quem quer sexo
na véspera do fim

o vento áspero soprava lá fora
um vazio seco turvava a luz do dia
dizia que vinha
do Haiti
tinha nexo

gelei o coração e escrevi
esta nota de memória
para contar a história
de meu quase fim
mas lá
no fundo fundo bem fundo
no caleidoscópio da iris
estranha emoção
está a indesejada senhora embrulhada
no horror de conhecer-lhe a intenção
uma velha calma e fria
imaterial

enquanto a memória ajudar
lembrarei a horrenda

já lenda
que assusta meio mundo
com terremotos maremotos
tufões ciclones e afins

para fingir aquecimento global...


Rio, janeiro de 2010.



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