passou-me esta manhã a velha senhora
indesejada de sempre
bolso algibeira safada de negro matreira
que tal figura
que rosto bruto
dura
embrulhei sua imagem na pupila
destaquei o negro dos olhos
que me fitava assim
como quem quer sexo
na véspera do fim
o vento áspero soprava lá fora
um vazio seco turvava a luz do dia
dizia que vinha
do Haiti
tinha nexo
gelei o coração e escrevi
esta nota de memória
para contar a história
de meu quase fim
mas lá
no fundo fundo bem fundo
no caleidoscópio da iris
estranha emoção
está a indesejada senhora embrulhada
no horror de conhecer-lhe a intenção
uma velha calma e fria
imaterial
enquanto a memória ajudar
lembrarei a horrenda
já lenda
que assusta meio mundo
com terremotos maremotos
tufões ciclones e afins
para fingir aquecimento global...
Rio, janeiro de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário