terça-feira, 27 de março de 2012

O BEIJO



quem o beijo inventou 
[pergunta o poeta de outros tempos]
não estou seguro mas o beijo inventou o amor
e os lábios cantaram o poema


o tempo me faz malicioso


"mas esta vida é sempre deliciosa"
[...]
"quem não quisera das sombrias folhas
[...]
as odaliscas espreitar no banho" [...]?


sem o beijo o amor não vingaria
nem o gozo de corpos que se tocam
nem odaliscas nem garotas de Ipanema


o beijo é todo encanto 
[no curto sexo que brilha um só instante]
entre lábios o beijo permanece
e enternece 

acariciado pelo beijo a febre passa
saciado o corpo adormece


[entre aspas, Álvares de Azevedo]


Rio, março de 2012.





segunda-feira, 26 de março de 2012

IN EXTREMIS



morrer de amor
talvez a única memória
do quanto é bom morrer
para viver amores


porque dizer
se é melhor calar para sofrer
o sofrimento de existir
indiferente


se sinto ou não
a esta hora deixo
a tua imaginação
o silêncio do segredo


não morrerei
nada direi
apenas viverei
o meu degredo


se de amor morrer
só eu sei
a quem amei
nenhuma intriga


sei que é bom
cantar essa cantiga
à maneira antiga
e não dizer


confessarei
in extremis
delirante


Rio, março de 2012.



domingo, 25 de março de 2012

POR QUEM CANTO?



tudo vale para explicar a vida
ainda que não dure
o momento 
instante de chegada
o instante 
surpresa da partida


o tempo sopra enquanto dorme o vento
o absurdo ser para não durar
o que me faz amar mais do que viver


de onde vim para me tornar assim
presa do vento a soprar o tempo
de que pedra vem o meu encanto
por quem canto? 


Rio, março de 2012.



sábado, 24 de março de 2012

"ADAGIETTO"



quem ama não mais procura 
a sílaba para compor o seu poema
ama apenas
e deixa-se encantar pela beleza
do "adagietto" da quinta sinfonia
saída do silêncio
Mahler
sustido sustentado 
na brisa que me salta em versos
induzindo ao sonho
de senti-los fluir em sustenidos


procuro um verso para pesar do outro lado esse "adagietto" 




Rio, março de 2012.



sexta-feira, 23 de março de 2012

EVOLUÇÃO

a um jovem amigo


uma chave é o passaporte
entre a rua e o aconchego
de tua casa 


em pouco tempo
teu calor aquecerá
a matéria de teus sonhos


do que foi pedra aflorou 
o macio fluir doce da água 
que hoje é natureza revelada


sou testemunha dessa caminhada
do quase zero a pontos no infinito


creio ter sido o tempo
o tempo foi quem abriu a porta às evidências
onde havia desejo e frustração


havia a base da relação matemática
entre o engano e o desengano
que se excluem no erro
para explodir 
e recriar um novo ser
teu juízo teu sorriso
muita luz 
a verdade e a razão


faz sol é novo o dia 
toma a chave do futuro em tuas mãos
é tempo de cantar tua canção    


Rio, março de 2012.



quinta-feira, 22 de março de 2012

CONFIANÇA

a um amigo
tu és o que és 
o que podia ter sido e não foi
gera filosofia de vaga interpretação


somos quem somos
seremos outros dia-após-dia 
na vertigem da formação
de nossas impressões digitais


serás teu sonho
serás quem o idealizou
serás quem queiras ser
teus atos responderão por ti


o passado é feito papel 
liso imaculado
se fizestes por mantê-lo intacto
amarrotado
se perdestes episodicamente o rumo


agora toma as folhas que amarrotastes
rasga-as atira-as ao lixo do tempo
recuperastes o prumo


crê em ti
estás em pé como homem de fé
crê em teu poder de fazer
tudo que sonhastes acontecer


tua vida é uma viagem de ida
resoluto avança 
sê feliz


Rio, março de 2012.








quarta-feira, 21 de março de 2012

"CARPE DIEM"



um dia que se soma a outros
e faltará à frente
penso no que resta


pouco
e não será muito
retomar a vida  
com a fúria do minuto


"carpe diem"


não há solução fora o prazer
do céu azul e do verde mar
espaços que fascinam
e ficarão
no seu papel de encantar


levarei comigo
a imaginação
a percepção
a memória
o sentimento
distribuídos entre alma e coração


para além não sei 
mas que importa
se o que sou está aqui? 


atrás ficou o passado
tempo que no presente amei


agora o presente parece passado
instantaneamente
o que me faz ciumento
do minuto que vivo


"carpe diem"


Rio, março de 2012.